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Em entrevista, Marcelo Adnet brinca: “Antes eu era genial. Na Globo, virei vendido”

Divulgação
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Top tomara que caia de franjas, combinado com botinha branca de salto e faixinha no cabelo. Sim, é dura a vida do humorista. Que o diga Marcelo Adnet assim caracterizado de Ney Matogrosso na sua nova empreitada na Globo.

Neste domingo, ele estreia no “Fantástico” seu terceiro projeto na emissora, após sofrer uma enxurrada de críticas negativas nos dois primeiros. Adnet fará sátira de videoclipes que fizeram história no dominical.
O quadro trará versões revisitadas de clipes nacionais, com direito a letras à la Adnet, que ganhou fama e elogios na MTV com suas paródias e improvisações.
 A contratação do humorista pela Globo, há seis meses, teve “première” no próprio “Fantástico” e criou uma enorme expectativa sobre o menino prodígio do humor, que começou na MTV aos 26 anos e hoje está com 31.
Em abril, estreou na emissora como o protagonista da série “O Dentista Mascarado”, escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young (de “Os Normais”). “Uma experiência de passagem”, diz.
“Tenho uma vocação mais autoral, mas achei a experiência boa”, conta. “Faltou as pessoas entenderem que era só o meu começo na Globo. Não sei por que toda essa ansiedade.”
Da primeira experiência, Adnet levou os diretores, José Alvarenga Jr. e Rafael Miranda, que seguem ao seu lado nos projetos seguintes.
A segunda aposta, um quadro sobre a Copa das Confederações no “Fantástico”, também não agradou muito.
“Esse foi uma encomenda do pessoal do programa que eu topei. Não dá para agradar a todos. Nem quero isso. É chato ser unanimidade”, continua. “E quer saber? Não me arrependo de nada não, viu?”
Escolado, o humorista diz que as “pedradas” lhe fizeram bem, e que agora, finalmente, fará algo autoral na nova emissora.
“Claro que tinha muita coisa pesada nas críticas, mas acho que eu não mudei. O que mudou foi o jeito que as pessoas olham para mim”, diz Adnet. “Antes eu era o cara criativo, genial. Agora, na Globo, eu virei um crápula, um vendido [risos]”, afirma.
“Ninguém me impôs nada na emissora, eu que topei fazer os projetos, tive liberdade total para escolher.”
MAMONAS
A nova aposta, a sátira de videoclipes que entra no “Fantástico” hoje, nasceu de uma sugestão do amigo Marcius Melhem, também humorista no canal.
“Essa mistura de humor e música, que os Mamonas [Assassinas] faziam tão bem, não pode ficar enterrada com eles”, diz Adnet, que criará paródias contemporâneas para clássicos de Ney Matogrosso, Elis Regina, Alceu Valença, entre outros.
“A caracterização do artista e a estética do videoclipe serão as mesmas da época, mas vou criar letras atuais com críticas, mensagens políticas, com uma posição sobre as coisas”, comenta. “Não quero humor chapa branca.”
Questionado sobre o enquadramento no “padrão Globo”, mais quadrado que a MTV, Adnet diz que encontrou liberdade total na emissora, mas sabe que a sua responsabilidade hoje aumentou muito em relação à MTV.
Em 2011, no quadro “Casa dos Autistas” (MTV), o comediante fez piadas com portadores da síndrome,

e depois foi a público se desculpar.

“Não me enquadrei em nenhuma estética na Globo e não entendo essa mania de buscar: ‘tudo o que o público quer'”, conta ele. “Pode ser que alguns não entendam a piada, mas quero forçar um pouco mais, ir além, trazer um horizonte, sabe?”
Adnet está triste com o rumo tomado por sua ex-emissora. O Grupo Abril devolverá em setembro a marca para o conglomerado americano Viacom, que vai lançar um novo canal com o título, agora na TV paga.
“Não existe nada igual a MTV, mas ela sempre foi meio deixada de lado”, diz. “Há vantagens e desvantagens. A vantagem é que ser pequena permitiu muita experimentação, a desvantagem é ver ela acabar assim. Mas todos que passaram por lá levam uma marca da MTV, e isso fica para sempre com a gente.”
(Folha de São Paulo)