Com cenas de fantasma, ‘Amor à vida’ cai na bizarrice
O sindicato dos enfermeiros defende que a categoria está detratada por “Amor à vida”. Ex-chacretes reclamaram de menções ao passado devasso de Márcia (Elizabeth Savala). Os corretores de imóveis também não gostaram de ver Bruno (Malvino Salvador) cair na cama com a freguesa do apartamento. Em resposta a tudo isso, Walcyr Carrasco disse que o papel de uma novela “não é exaltar categorias profissionais, mas contar histórias”. O fato é que, embora alguns autores gostem de abraçar campanhas sociais em suas produções, Carrasco tem razão. A teledramaturgia serve, em primeiro lugar, à ficção e ao entretenimento. Duvidar desse axioma é só ingenuidade. Se o corpo de enfermagem do San Magno não é um retrato fiel da vida real, qual é o problema? Deve prevalecer aquilo que colabora para o bom sabor da trama.
Com o drama de Nicole (Marina Ruy Barbosa), voltaram as queixas. Agora elas não vêm de uma categoria profissional, mas de quem, como a personagem, sofre ou sofreu de linfoma de Hodgkin. Muita gente acredita que a novela fez um desserviço pois teria fornecido informações distorcidas a respeito da doença, já que esse linfoma tem alto índice de cura — e a personagem caiu fulminada apenas porque viu umas fotos que provam a traição do noivo. “Sabe quantas pessoas recém-diagnosticadas, ou que o serão em breve, vão entrar em pânico pensando que esse foi o câncer que matou a personagem? Pior ainda, além de passar informações errôneas sobre a doença, a emissora perdeu a chance de passar uma mensagem positiva”, escreveu Flávia Oliveira em seu blog (alemdocabelo.com), só para dar um exemplo.
O problema é que, nesse caso, nem a ficção se beneficiou de tamanho jorro de imaginação. Passada a sequência já “puxada” da morte na igreja, Nicole surgiu indo e vindo em direção a uma luz (divina?), agarrada ao espaldar de uma cama voadora. De noiva, olhos rasos d’água, cabelos ao vento, cenho franzido, ela boiou no éter ao som de uma trilha meio new age.
Parecia uma homenagem a antigas propagandas de colchas Madrigal. Uma revoada de borboletas cercou Nicole, que então “contracenou” com os insetos animadamente até ver Thales (Ricardo Tozzi) fazendo a barba, de torso nu, diante de um espelho vazado. A comunhão entre os dois mundos ficou representada pelas paredes do quarto subindo paulatinamente uma a uma. Onde quer que você esteja, te cuida Timothy Leary: tuas viagens não eram nada perto de “Amor à vida”. Foi bizarro.
Bem que Lídia (Angela Rebello) avisou: o golpe de Leila (Fernanda Machado) e Thales culminaria em tragédia. Lídia era uma espécie de Cassandra, a personagem da mitologia grega que conseguia prever o futuro mas ninguém acreditava nela. Pena: agora o público terá que ver a morta arrastando seu vestido de noiva até o fim da novela.
(Patricia Kogut)