Má gestão, inoperância dos fiscalizadores e politicagem são causas da precariedade no Hospital Regional de Araguaína
Sociedade araguainense e representes dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, Defensoria Pública, Câmara de Vereadores e a Secretaria Estadual de saúde debateram em Audiência Pública o caos vivenciado no sistema público de saúde, a precariedade estrutural do Hospital Regional de Araguaína e os desmandos ocasionados pelas interferências políticas.
A Audiência aconteceu sob protestos da comunidade na tarde desta segunda-feira (26) na sede das Promotorias de Justiça de Araguaína.
Estrutura física
A abertura da audiência foi precedida pela leitura de um relatório apontando os principais problemas estruturais do Hospital Regional de Araguaína. “Um prédio com remendos, gambiarras, estrutura física danificada, salas inadequadas, poucos leitos, janelas enferrujadas, salas improvisadas para consultas e internações, e UTI com lotação acima do ideal”, relatou o Promotor Alzemiro Wilson Peres Freitas.
O representante do MPE apontou ainda como uma das causas da superlotação o grande número de pacientes atendidos vítimas de acidentes de trânsito e também do Pará e Maranhão, além da falta de políticas públicas eficientes dos governos federal, estadual e municipal.
Depoimentos e reclamações da sociedade
“Falar a gente fala. Reclamar a gente reclama, mas até quando vamos viver com esses problemas na saúde?”, questionou Radmark Saraiva, representante da ONG SOS Liberdade. Segundo ele, a politicagem domina o HRA e os servidores se calam por medo de serem perseguidos. Na oportunidade, Saraiva entregou um documento contendo a relação com os nomes de 12 pessoas que aguardam cirurgias há meses no Hospital.
Já para o médico Ary Ismael, os problemas na unidade de saúde podem ser atribuídos à “má gestão, impunidade, inoperância dos fiscalizadores e interferências políticas”. “Estamos em um país injusto onde o Executivo leva o Legislativo para onde quer e tem o Judiciário amarrado no pé. Pobre do povo. Infelizmente estamos mal representados”, desabafou o cirurgião cobrando ações concretas dos vereadores de Araguaína e deputados estaduais.
Em resposta, o presidente da Câmara, Marcus Marcelo, afirmou que “os vereadores comungam da mesma indignação e insatisfação” da sociedade. “A competência do vereador é cobrar e nós estamos cobrando. Já debatemos o assunto em sessão na Câmara e precisamos com urgência resolver essa situação”, disse.
Atenção básica precária
Conforme a enfermeira Maria Aparecida Borges, outra causa para a superlotação no Hospital Regional é a fragilidade da atenção básica a saúde em Araguaína. “Muitos pacientes que poderiam ser tratados na rede municipal são encaminhados ao Regional. A UPA é a porta de entrada. Fazem de conta que atendem e manda para o Hospital Regional”, denunciou.
Conforme a Secretária de Saúde, Vanda Paiva, uma Atenção Básica eficiente propicia a redução em 80% no número de internações hospitalares. “Sabemos que nossos hospitais atendem uma demanda que não é da sua competência, a população culturalmente procura os hospitais em situações que a Unidade Básica de Saúde ou a UPA resolve, por isso lota o hospital e colocamos pacientes nos corredores. A definição de atribuições é necessária e o COAP – Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde vai delimitar o dever de cada um”, explicou Vanda.
Boicote
Dezenas de manifestantes criticaram as ausências do prefeito Ronaldo Dimas, do secretário municipal de saúde, Rubens Neves, e do governador Siqueira Campos. Segundo eles, é a prova do descaso com a saúde pública e, as poucas ações desenvolvidas, são meramente eleitoreiras.“Cadê o governador deste Estado que só veio a Araguaína pra pedir votos?”, questionou a enfermeira Maria Aparecida.
Soluções apontadas
Após as denúncias e reclamações de usuários e profissionais de saúde, a secretária Vanda Paiva afirmou que a “luz no fim do túnel” é a construção do novo Hospital Geral de Araguaína (HGA) com 400 leitos de internações, 60 UTI, pronto socorro com capacidade para atender 300 pessoas por dia, 3 enfermarias [Masculino, Feminino e Pediatria] para observação com 12 leitos cada. Segundo Vanda Paiva, a licitação está prevista para o dia 7 de outubro, às 9 horas, na sede da secretaria em Palmas.
“A solução é este Hospital. Mas se me perguntarem: que dia começa a obra? Licitação é licitação”, disse a secretária afirmando que o processo deve ser encerrado em até 40 dias após a licitação. No entanto, o HGA não ficará pronto antes de 2015, segundo garantiu o vice-governador do Tocantins, João Oliveira.
Sobre as denúncias de servidores contratados, Vanda Paiva disse que na Sesau esse número é menor que 20% do total. Segunda ela, um concurso público para a saúde está sendo providenciado pela Secretaria Estadual de Administração (Secad).
Para evitar a falta de remédios, a secretária informou também que será implantado um novo sistema, online, para compra de medicamentos que conta com mais de 6 mil fornecedores cadastrados.
Já com relação ao grande número de pacientes em macas nos corredores do Hospital, Paiva foi incisiva: “é melhor no corredor com atendimento do que fora sem. Não tenho varinha mágica. Gostaria de ter”. Segundo a secretária, de janeiro a 23 de agosto o HRA atendeu 2.452 pacientes de outros estados.
Centro de Especialidade Ambulatorial
Vanda Paiva ainda anunciou que Araguaína foi comtemplada com um Centro de Especialidades Ambulatorial e que falta apenas a doação do terreno pela prefeitura para que a obra seja licitada.
Solução paliativa
Como forma de desafogar os corredores do HRA, a Secretaria de Saúde já estuda transferir a setor administrativo do Hospital Regional de Araguaína para um imóvel alugado. Com isso, haverá a possiblidade de aumentar o número de leitos em 60, segundo Vanda Paiva.
Participantes
Participaram da audiência pública os promotores do Ministério Público Estadual, Alzemiro Wilson Peres Freitas e Araína Cesarea Ferreira dos Santos Dalessandro, a procuradora do Ministério Público Federal, Aldirla Pereira de Albuquerque, vereadores, conselheiros municipais de saúde, profissionais de saúde, médicos, estudantes e população em geral.
(AF Notícias)