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Aliciadoras de gestores públicos citam ‘Siqueira’ em gravações da PF

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A Polícia Federal divulgou novas gravações, feitas em abril deste ano, referente à Operação Miquéias, que investiga desvios em fundos de pensão previdenciários e lavagem de dinheiro. A quadrilha seria comandada pelo doleiro Fayed Traboulsi que teria desviado R$ 300 milhões, em 18 meses, em todo o país. A novidade é a revelação sobre a descoberta de aliciadoras de gestores públicos para o esquema.

Na conversa gravada pela PF, duas mulheres que seriam aliciadoras de gestores públicos falam de uma visita feita ao Tocantins. Uma delas, Alline, pergunta para a outra chamada de Luciane: “você tem conseguido fechar alguma coisa Lú? Você está bem, financeiramente?” Luciane responde: “ontem, eu estava em Tocantins, em umas cidades lá. Havia uma propensão de fechar umas três cidades grandes lá.”

Em uma outra ligação gravada, Alline comenta com um homem, chamado Gleisson, que “ainda não está com Siqueira.” Nos relatórios da PF, não consta quem é Gleisson, apenas que ele mora no Tocantins.

Em um outro trecho, Luciane conta que o doleiro Fayed Traboulsi foi a uma inauguração no Tocantins porque “Siqueira” pediu para ele ir. A PF também não esclareceu de qual Siqueira, Luciane fez referência, no entanto, em uma rede social, ela está entre os amigos do secretário de Relações Institucionais do Tocantins, Eduardo Siqueira Campos, filho do governador Siqueira Campos. No último dia 26 de abril, o governo inaugurou a rodovia TO-130, que liga Ponte Alta do Tocantins a Pindorama.

Por nota, o governo do estado diz que o relatório da PF não especifica qual “Siqueira” é citado na conversa e que o governo não pode ser responsabilizado por citações de terceiros. O texto também afirma que não houve convite do governo para que Fayed Traboulsi participasse de inaugurações no Tocantins.

Envolvidos

Deputado federal licenciado, Eduardo Gomes, é citado nas investigações da Operação Miquéias (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Deputado federal licenciado, Eduardo Gomes,
é citado nas investigações da Operação Miquéias
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Conforme investigações da PF do Tocantins estariam envolvidos com o doleiro Fayed Traboulsi, o ex-presidente do Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev), Rogério Villas Boas, que pediu exoneração após as denúncias, e o deputado federal licenciado, Eduardo Gomes, que atualmente ocupa o cargo de secretário de Esportes e Lazer do Estado.

Pagamento de faturas de cartão de crédito e depósitos em conta corrente do ex-presidente do Igeprev teriam sido feitos por Traboulsi. Já em relação ao deputado, foram divulgados trechos de conversas entre o deputado licenciado e o doleiro. Em um deles, Gomes diz ao doleiro: “Vou pegar o prefeito [Ronaldo Dimas de Araguaína] e vou para aí” e Fayed responde: “Então eu já tô no escritório, tô chegando, tá?.” E o deputado diz. “Então está bom.”

Rogério Villas Boas pediu enoveração da presidência do Igeprev após denúncias (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Rogério Villas Boas pediu exoneração da
presidência do Igeprev após denúncias
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

A PF informou ainda que foram encontrados dois depósitos de R$ 100 mil na conta de um assessor do deputado. As transferências foram feitas por empresas e pessoas ligadas ao doleiro. Foi apreendida também uma agenda de Fayed com anotações de valores (R$ 60 mil, R$ 250 mil e R$ 100 mil), ao lado do nome de Gomes. A PF não informou de que se trata os valores.

Na primeira gravação divulgada pela polícia, o doleiro conversa com Gomes e o deputado diz: “Eu estou chegando aí. É que o prefeito está em outro carro. Ronaldo Dimas é o nome dele.” Em um outro momento, Fayed conversa com uma das mulheres que trabalha com ele, para que ela atenda o prefeito no apartamento de Gomes. “Deixa eu te perguntar uma coisa, mas fica à vontade para responder: você poderia atender o prefeito de Araguaína agora? Se não puder eu remarco para amanhã.”

O prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, afirmou que não houve nenhum tipo de negociação com o grupo. “Todo o recurso do instituto de previdência está aplicado em bancos federais”, enfatizou, acrescentando que não houve nenhum contato com o grupo, “nem por telefone nem pessoalmente.”

A princípio, Gomes se justificou dizendo que conheceu o doleiro há dois anos e na época não sabia sobre os negócios dele. Assim, que foram divulgados os depósitos nos valores na conta de um assessor dele, o deputado disse que o dinheiro é referente a dois empréstimos que pediu a Fayed Traboulsi.

Em um outro aúdio, o doleiro diz ao deputado: “Você tá fácil hoje ou está difícil de passar aqui cinco minutos.” E Gomes responde: “Não eu passo sim. Pode ser no final da tarde? Tem um monte de ‘prefeitaiada’ aí. Cinco horas?”. Fayed finaliza, dizendo: “Cinco horas. Estou te esperando.”

Desvios
Uma auditoria do Ministério da Previdência Social revelou que o governo federal aplicou o dinheiro do órgão em três empresas ligadas ao doleiro. Cerca de R$ 272 milhões foram investidas em operações de risco.

(G1)