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Equipe de TV é detida em delegacia após desentendimento com delegada

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Uma equipe de reportagem foi detida na tarde desta terça-feira (14) após uma confusão na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Araguaína, no norte do estado. A repórter Leidy Vieira e o cinegrafista que estava com ela, ambos de uma TV pública doTocantins, foram detidos após se desentenderem com a delegada Maria Dinesitânia Cunha.

A confusão começou quando agentes da Polícia Civil de Colinas do Tocantins viajaram ao município para buscar uma caminhonete que foi apreendida em uma operação contra o tráfico de drogas. De acordo com uma decisão judicial, o veículo seria usado no combate ao crime.

“Um dos policiais chegou falando assim: ‘oh a delegada mandou vocês saírem daqui do pátio da delegacia’. Aí nós escutamos ela gritando lá: ‘esse povo acha que não temos o que fazer’. Nós saímos de lá e ficamos do lado de fora para não tumultuar. Evitamos de bater boca para não peder a razão”, conta o agente Luiz Costa Júnior, da delegacia de Colinas. Segundo ele, essa não foi a primeira vez que tiveram problemas com a delegada da Deic, Maria Dinesitânia.

As equipes de reportagem receberam a denúncia e foram à Deic para apurar os fatos. Ao chegar no local eles ouviram primeiro os agentes de Colinas do Tocantins. “Eu perguntei para a delegada o que havia acontecido, por que ela havia expulsado os policiais? Ela já estava agressiva quando nos recebeu na delegacia”, lembra Leidy.

Segundo a repórter, quando conversava com o chefe dela pelo telefone, um dos agentes a pegou pelo braço. Sem entender ela diz pediu um minuto porque estava ao telefone. “Ele me levou de volta para a delegacia e tive que assinar um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) por desobediência e falta de documentos de identificação. Mas em nenhum momento a delegado pediu por essa identificação”, argumenta a repórter.

Delegada da Deic de Araguaína, Maria Dinesitânia Cunha (de preto), teria expulsado agentes (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Delegada da Deic de Araguaína, Maria Dinesitânia
Cunha (de preto), também teria expulsado agentes
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

A jornalista lembra ainda que eles ficaram detidos por cerca de quatro horas e só foram liberados após assinarem o documento e que nesse tempo foram impedidos até de atender os celulares da empresa e os pessoais. Os microfones e a câmera também ficaram apreendidos durante esse tempo.

Maria Dinesitânia se defende e diz que Leidy não se identificou e já foi fazendo perguntas. “Ela me perguntou: ‘o que a senhora tem a falar sobre os agentes que a senhora expulsou [da delegacia]?’. Eu disse que não sabia do que ela estava falando porque não expulsei ninguém. Pedi para eles [a repórter e o cinegrafista] se identificarem e eles se recusaram. Não tinham nem crachá, nem documento de identificação”, explica.

Sobre o desentendimento com os policiais de Colinas, a delegada disse que recebeu a decisão judicial, mas que o documento estava endereçado para a delegacia regional. “Eu respondo para a autoridade regional. Se a decisão não está endereçada a mim, eu tenho que ter autorização da regional para proceder com a entrega da caminhonete.”

Maria Dinesitânia explica ainda que a delegacia não tem vigias. “A gente fica aqui sozinho. Quando percebi que estavam mexendo no carro, gritei para meus agentes mandá-los parar. Nem sabia quem eram, eles não vieram na minha sala”, justifica.

O marido da delegada atua na mesma delegacia explica que a mulher sofre de porfiria que, segundo ele, é uma doença que interfere nas funções nervosas do paciente. “Nós já conversamos sobre isso e marcamos consulta com uma médica que acompanha ela com essa doença rara. Vamos marcar uma consulta também com um psiquiatra”.

De acordo com a delegada regional de polícia, Antônia Ferreira dos Santos, o que aconteceu na delegacia foi um mal-entendido. “Fui chamada porque disseram que aconteceu um desentendimento entre os policiais de Colinas e a Deic de Araguaína. Mas foi apenas uma questão simples e administrativa”, explica.

Repercussão
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins repudiou publicamente a ação ‘autoritária’ da delegada Maria Denesitânia Cunha. Conforme a nota divulgada nesta quarta-feira (15), a autoridade “deu voz de prisão e apreendeu material de trabalho” da equipe da TV pública de Araguaína, “que na ocasião estava em serviço”.

“O comportamento da delegada mostra o seu despreparo para o cargo, visto que, deliberadamente, fere os princípios básicos da democracia e da liberdade de imprensa, direito sagrado na Constituição Brasileira”, declara a nota.

Investigação
A Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) informou nesta quarta-feira que está enviando para Araguaína o delegado chefe da Polícia Civil, Bonfim Santana Pinto, e o corregedor-geral, José Evandro de Amorim, para investigar a ocorrência envolvendo os profissionais da imprensa. Segundo a SSP, os fatos serão apurados ‘com rigor’ pela Corregedoria Geral da Polícia Judiciária para que casos dessa natureza não se repitam.

“A SSP sempre contou com o apoio desses profissionais, na divulgação de suas ações de combate ao crime, bem como prima pela liberdade de imprensa, divulgação e transparência de todos os seus atos e atuação de seus servidores” observou o órgão.

(G1)