Falta de manutenção e mau dimensionamento podem ser a causa dos alagamentos

 Chuvas intensas na Capital trouxeram à tona a discussão sobre um problema de infraestrutura urbana que incomoda bastante os palmenses: os alagamentos. Em entrevista ao CT nesta sexta-feira, 20, a engenheira civil e professora do Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra) Kenia Parente Lopes e Mendonça explicou que a falta de manutenção das redes de drenagem, como limpezas das sarjetas, dos canais e bocas de lobo, bem como, problemas de dimensionamento do sistema de captação da água precipitada podem estar dificultando o escoamento, o que ocasiona inundações. “Se o sistema foi bem dimensionado, se está eficiente e desobstruído, não pode ter problema, teria que conseguir escoar”, afirmou.

“Quando você dimensiona, você dimensiona para a chuva que existe no local. O engenheiro, quando ele vai fazer o projeto de drenagem, tem que estudar a chuva que ocorre no local. Agora, existe uma característica de algumas chuvas aqui em Palmas que é muito volume em pouco tempo. Aí essa [precipitação], que cai com muita intensidade em pouco tempo, te dá realmente um tempo de detenção que acaba formando uma lâmina. Mas tem como calcular isso também através do que a gente chama de período de retorno”, disse a engenheira. “É muito fácil uma pessoa que está na gestão dizer que a chuva foi grande, mas o que você tem que perguntar é se essa chuva estava dentro do previsto ou não do que está no projeto”.

Conforme explicou a docente, com a urbanização, os efeitos da impermeabilização do solo e a redução da infiltração pelos telhados, pátios, calçadas e ruas pavimentadas aumentam o escoamento superficial e a exigência de cobertura de redes de drenagem. Em Palmas, além da cidade ser extremamente plana, ou seja, não favorecer o escoamento da água; a rede de drenagem é gradativamente sobrecarregada pela expansão urbana, uma vez que os terrenos impermeabilizados dos imóveis construídos passam a lançar suas águas das chuvas nas vias de circulação. O aumento do número de ruas e avenidas asfaltadas também amplia o escoamento, confirmando a sobrecarga do sistema de captação. “Um sistema de drenagem só vai ser realmente eficiente no dia que ele conseguir cobrir a cidade inteira”, pontuou Kenia.

Outro fator mencionado pela professora, que agrava o problema, é o deposito de lixo e finos do solo nas ruas e bocas de lobo carreados pelas chuvas das áreas não edificadas que estão acima do nível do meio-fio. “As primeiras chuvas vão lavando a sujeira que estava acumulada nos telhados, acumulada no solo e os finos do solo de lotes mais altos descampados. Seja uma latinha, uma areiazinha ou um galho, tudo isso vai se acumulando e atrapalha a velocidade da água e impede o escoamento”, alertou.

Além dos transtornos causados a população pela drenagem urbana ineficiente ou inexistente em pontos críticos de alagamentos, as consequências destas condições são problemas de erosão e assoreamento dos cursos de água, bem como, de danificação na pavimentação. “Passou a chuva, o correto era as ruas ficarem secas, porque esse pavimento nosso não suporta a água sobre ele. Ela ficando empossada, os pneus do carro fazem pressão, essa água tende a entrar e vai prejudicar também o pavimento. Então, essas poças de água são totalmente prejudiciais para os pavimentos”, apontou Kenia Mendonça.