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Laudo aponta que não houve impulso antes da queda de Tatiane do 4º andar

Um laudo da Polícia Científica do Paraná, anexado ao processo nesta quinta-feira (30), aponta que não houve qualquer tipo de impulso antes da queda da advogada Tatiane Spitzner, do 4º andar do prédio em que morava, em Guarapuava, na região central do Paraná. O marido dela, o professor Luís Felipe Manvailler, é o principal suspeito pelo homicídio.

De acordo com o documento, foram realizados três ensaios com um boneco, como tentativa de esclarecer as circunstâncias da queda. A perícia ressaltou que os elementos reunidos também contradizem o depoimento de Manvailler, que afirmou ter visto a esposa correr em direção a sacada, tentou alcançá-la, mas não teve tempo de segurá-la.

“A mureta da sacada possui altura total de aproximadamente 93 cm (noventa e três centímetros), confeccionada em concreto na região inferior com mais 30 cm (trinta centímetros) de vidro e
borda em metal, totalizando 1,23 m (um metro e vinte e três centímetros) de altura total aproximada. Esta altura impossibilita a passagem para o lado externo de maneira ágil, contradizendo o depoente que declarou” diz o laudo.

Os peritos sugerem duas possibilidades com base nos testes: desequilíbrio involuntário (queda acidental) ou abandono de corpo inerte. “A posição final da queda – 3,78 m de distância do alinhamento predial e local da precipitação, conforme já calculado, descrito e embasado no Tópico 5. PRECIPITAÇÃO DE ALTURA, refere-se a i) desequilíbrio involuntário (queda acidental) ou ii)) ou abandono de corpo inerte, sem qualquer tipo de impulso, contradizendo mais uma vez o depoente que declarou”, aponta a perícia.

Os peritos destacam que não há elementos técnicos científicos que possam determinar apenas um tipo de queda. Além disso, os bonecos utilizados no exame não são feitos para este fim. “Cumpre informar que o exame foi realizado dentro das possibilidades existentes, uma vez que o Instituto de Criminalística não dispõe de bonecos para este fim. Destaca-se ainda, que não há como reproduzir igualmente o fato tal como na data do óbito, uma vez que mesmo o boneco dispondo do peso total igual aquele informado pela equipe de investigação da Polícia Civil como sendo o
peso da vítima, que seria de 62 kg (sessenta e dois quilogramas) de massa e de altura de 1,72 m (um metro e setenta e dois centímetros), a distribuição de massa no corpo da vítima possui diferença com a distribuição de massa do corpo do boneco” diz o documento.

Em nota, “a defesa técnica de Luís Felipe Manvailer informa que não irá se manifestar sobre o laudo anexado ao processo que investiga a morte de Tatiane Spitzner. A defesa reforça que não teve acesso aos trabalhos realizados na data da perícia em questão. A defesa aguarda a realização da reprodução simulada dos fatos (reconstituição) a presença de Luís Felipe Manvailer e seus advogados.

A defesa reforça ainda que aguarda a entrega dos laudos de necropsia e exame anatomopatológico para que se possa materialmente entender o que de fato ocorreu naquela madrugada”.

O CASO

Tatiane foi encontrada morta no apartamento em que morava com Manvalier no último dia 22 de julho. Imagens mostram ela sendo agredida antes de entrar no prédio, no estacionamento, no elevador, e a queda do 4º andar. Depois, o suspeito busca o corpo, leva ao apartamento, limpa os vestígios de sangue no corredor e elevador e foge do local por uma saída alternativa do estacionamento.

De acordo com a denúncia, Luis Felipe matou a esposa após diversas agressões físicas que teriam iniciado após um desentendimento ocorrido em virtude de mensagens em redes sociais, agindo por motivo fútil e desproporcional. Os promotores Dúnia Serpa Rampazzo e Pedro Henrique Brazão Papaize também afirmam que o laudo da perícia aponta que ele teria enforcado a vítima.

“Ainda, de acordo com o Laudo Pericial de Local de Morte, de fls. 239-249, o acusado, durante a execução do crime de homicídio, produziu lesões características de esganadura na vítima, quais sejam, ‘estigmas ungueais nas regiões laterais do pescoço, características de esganadura’, praticando o delito mediante asfixia. O denunciado, ao matar a vítima, agiu mediante recurso que dificultou a sua defesa, em razão da sua superioridade física em face da ofendida e das agressões contínuas e progressivas que inibiram a possibilidade de reação por parte desta. Ademais, o denunciado praticou o presente crime contra mulher por razões da condição de sexo feminino, já que Tatiane Spitzner era sua esposa, caracterizando violência doméstica e familiar”, diz a denúncia.

Sobre o cárcere privado, a denúncia narra que Luis Felipe impediu, mediante violência, que Tatiane se afastasse, por pelo menos três vezes, constrangendo-a a deixar a garagem do edifício em sua companhia, a permanecer dentro do elevador e a ingressar no apartamento em que residiam, restringindo a liberdade de locomoção da vítima, conforme as filmagens do circuito interno de câmeras do edifício.

A denúncia sobre o crime de fraude processual ocorre porque o acusado tentou adulterar a cena do crime. As imagens do circuito interno do edifício mostram que Luis Felipe Manvailer recolheu o corpo da vítima após a queda, levou até o apartamento e depois limpou o chão e elevador que ficaram sujos de sangue.

“[…] Ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta, inovou artificiosamente, visando produzir efeito em processo penal ainda não iniciado, o estado de lugar e de coisas, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito, mediante a remoção do corpo da vítima TATIANE SPITZNER do local da queda e limpeza de vestígios de sangue”, diz a denúncia

SUSPEITO PRESO

Luís Felipe está preso desde o dia 22 de julho, quando foi encontrado após se envolver em um acidente em uma rodovia a cerca de 320 km de Guarapuava. Ele dirigia o carro da advogada e seguia em direção a fronteira com o Paraguai e Argentina. Ele é acusado pelos crimes de homicídio com quatro qualificadoras (meio cruel, dificultar defesa da vítima, motivo torpe e feminicídio), cárcere privado e fraude processual.

A perícia indicou que Tatiane teve uma fratura no pescoço, característica de quem sofreu esganadura.