Quer batizar um planeta? Saiba como!
Desde sempre os planetas têm nome. São nomes ligados às divindades e no caso do Sistema Solar os nomes estão ligados à mitologia greco-romana. Mesmo em planetas descobertos mais recentemente como Urano e Netuno, que eram invisíveis aos olhos dos antigos astrônomos, seguiu-se a tradição e nomes mitológicos foram sugeridos.
Quem controla a nomenclatura de objetos astronômicos é a União Astronômica Internacional (IAU na sigla em inglês) e ela adota algumas regras para batizar um corpo celeste. Como a tecnologia evolui a cada mês praticamente, essas regras foram se afrouxando, mas a ideia é sempre seguir a tradição.
Os primeiros asteroides receberam nomes de deuses ou deusas porque se acreditava que eram planetas. Foi o caso com Juno, Ceres e Vesta por exemplo. Mesmo depois de se perceber que não era bem o caso, os nomes foram mantidos. Com as descobertas chegando na casa das centenas, decidiu-se mudar as regras, estava começando a faltar divindade. Agora, ao menos para asteroide, quem descobre põe o nome que quiser. Temos asteroides homenageando Santos Dumont, D. Pedro II, John Lennon, Spock e por aí vai.
Estrelas também têm nome. Elas são batizadas de acordo com sua constelação, por exemplo, Alfa Centauri, Gama Crucis ou Eta Carina, ligando o nome a sua constelação. Alfa Centauri é a estrela mais brilhante da constelação do Centauro, Gama Crucis é a terceira estrela mais brilhante do Cruzeiro do Sul e Eta Carina é a quinta estrela mais brilhante de Carina.
Além disso, elas também podem ser chamadas por algum nome usado por antigos astrônomos, como Sirius ou Bellatrix, ou ainda por algum nome popular como Estrela do Norte ou Intrometida, a quinta estrela do Cruzeiro do Sul. Mas tudo isso é muito subjetivo e, mais grave, dá nome às estrelas que são visíveis a olho nu apenas. Se ela for mais fraca, fica sem nome, tadinha. Como existem diversos projetos de catalogação de objetos celestes, as estrelas recebem um nome ligado a este catálogo. Alfa Centauri é HD 128620 em um catálogo, mas também é GC 19728 em outro.
Concepção artística do exoplaneta HD 23079b — Foto: David Hardy
Mas e os exoplanetas? Como ficam?
Faz um tempo essa discussão ganhou terreno na comunidade de astrônomos. Exoplanetas são planetas fora do Sistema Solar, mas são planetas, e todo planeta tem um nome. Como fazer com eles? Deve-se seguir a tradição de receber um nome de divindade? O número de exoplanetas confirmados chegou a 3.972 nesta última quinta-feira, e ainda tem mais de 3.600 aguardando confirmação. Tem divindade para isso tudo?
No início a ideia foi fazer o básico: a estrela Alfa Centauro tem um planeta? O nome dele será Alfa Centauro b. Kepler 533 tem 3 planetas? Os nomes são Kepler 533b, Kepler 533c e Kepler 533d. E assim tem sido, mas isso só fez aumentar a discussão sobre batizar um exoplaneta com um nome de fato.
A saída encontrada pela IAU foi abrir chamadas públicas para que associações de amadores e clubes de ciências sugiram nomes e que depois esses nomes passem por uma votação aberta. O sucesso dessa iniciativa é tão grande que a IAU decidiu fazer chamadas mais restritas: tem uma só para o Brasil!
Sim, você tem a chance não só de sugerir, mas também de escolher o nome de um exoplaneta!
O planeta em questão é HD 23079b, descoberto em 2001 pela equipe do astrônomo Cris Tinney usando o Telescópio Anglo-Australiano, localizado na Austrália. O planeta tem quase 2,5 vezes a massa de Júpiter e está a uma distância equivalente à distância de Marte ao Sol. Se não é um Júpiter quente, deve ser pelo menos um “Júpiter morno” e o planeta completa uma volta em torno de sua estrela a cada 2 anos terrestres, praticamente.
A estrela-mãe desse planeta é muito parecida com o Sol, só um pouco maior e mais quente. HD 23079 está a uma distância de 109 anos-luz e faz parte da constelação do Retículo. A estrela não pode ser vista a olho nu, mas com magnitude 7,1 ela é alvo fácil de uma pequena luneta ou mesmo binóculo.
Hélio Jacques Rocha-Pinto, que coordena a comissão organizadora do concurso ressalta que, além da importância para a popularização da ciência, a iniciativa é uma ótima oportunidade para se batizar um planeta com um nome genuinamente brasileiro. Para isso, as sugestões devem se basear na cultura indígena do nosso território, na cultura afro-brasileira ou na literatura nacional.
Os detalhes podem ser vistos no site da iniciativa, que também estará aberto para receber as sugestões até o dia 31 de agosto. No dia 15 de setembro, a lista com os nomes selecionados para votação serão divulgados e a votação estará aberta até o dia 4 de novembro. O resultado final deve ser divulgado no dia 6 de novembro. Vamos nessa?
Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/cassio-barbosa/post/2019/06/07/quer-batizar-um-planeta-saiba-como.ghtml