Fotógrafo flagra ‘berçário de estrelas’ no céu de Brasília; veja imagens
O céu de Brasília ganhou cores e ainda mais vida pelas lentes do fotógrafo Ronald Piacenti, de 56 anos. Da região de Santa Maria, em outubro, ele fotografou pelo menos cinco nebulosas que são, nada menos, que um berçário de estrelas.
As imagens divulgadas nesta quarta-feira (6) ganham tons de roxo que se misturam com o escuro do universo. Os pontos de luz, segundo Piacenti, representam a energia emitida por alguns astros há milhões de anos. Também é possível ver o momento da formação de novos “sóis”.
“Cada estrela é um indivíduo e cada uma tem o seu próprio tempo para nascer e morrer, apenas os processos delas são semelhantes.”
Nas fotos, aparecem a nebulosa M16 [da Águia] – na constelação da serpente – e a nebulosa da Hélice [ou Helix] – na constelação de Aquário. Esta última, um “cemitério estelar”, onde há bilhões de anos ocorre a morte da estrela (entenda mais abaixo).
Nebulosa da Rosa, na constelação Monoceros, vista no céu de Brasília — Foto: Ronaldo Piacenti Junior/Arquivo pessoal
Nos registros também aparecem as nebulosas:
- C 434 [Cabeça de Cavalo], na constelação de Orion,
- M20 – à direita na constelação de Sagitário;
- Nebulosa da Rosa [Roseta Nebula], na constelação Monoceros e
- M8 – também na constelação de Sagitário.
Para fazer o registro, Piacenti – que também é analista de sistemas – precisou de três noites de exposição. A duração, explica, depende das condições atmosféricas, que aumentam ou dificultam a visibilidade. Outras fotos ficaram prontas em até duas horas.
“Faço fotos de alguns segundos [de exposição], várias delas. Depois empilho as imagens no computador até chegar ao resultado final. As imagens são combinadas uma a uma.”
Na bagagem, além dos conhecimentos em astronomia, o fotógrafo também carrega dois telescópios – com ângulos de visão diferentes –, além de uma câmera especial para astrofotografia.
“As lentes são refrigeradas em conjunto com os filtros, que têm melhor aproveitamento pra isso.”
Nebulosa M8, na constelação de Sagitário. vista no céu de Brasília — Foto: Ronald Piacenti Junior/Arquivo pessoal
Entenda as nebulosas
As nebulosas são formações no espaço com grande quantidade de poeira. Na composição, partículas de hidrogênio e hélio em processo de condensação dão origem a novas estrelas. Em outros casos, a energia emitida é resultado das últimas “combustões” do astro.
Para o físico e astrônomo Paulo Brito, da Universidade de Brasília (UnB), o registro das nebulosas em fotografia significa mais uma possibilidade de conhecimento para a área.
“Quanto mais dados conseguirmos, teremos modelos mais resistentes e vamos entender melhor o passado e o futuro do Universo e o nosso, claro, na Terra.”
“O amador [observador dos astros] contribui de forma extremamente significativa para ciência”, afirmou Brito ao G1. “Às vezes ele nem estudou física ou astronomia, mas tem toda a prática de olhar para o céu. Essa é a beleza da ciência”.
De tons diversos, as nebulosas dão cores e luz ao espaço. Segundo o pesquisador, a cor da estrela determina a temperatura dela.
Em alguns casos, como o da imagem feita pelo fotógrafo do DF, filtros nas lentes e edições no computador complementam a tonalidade original das nuvens estelares.
Da vida à morte
Nebulosa Helix, Monoceros, vista no céu de Brasília — Foto: Ronald Piacenti Junior/Arquivo pessoal
Para além da poesia de registrar o nascimento de estrelas no céu, as imagens também mostram o momento da morte de alguns astros.
No registro feito em outubro, Piacenti flagrou, por exemplo, os “últimos momentos” da nebulosa Helix (NGC 7293) – que já foi chamada de Olho de Deus.
“Trata-se de uma única estrela morrendo.”
O instante, apesar de imortalizado pela fotografia, ainda levará mais de 5 bilhões de anos para ser concluído. Segundo pesquisas astronômicas, uma estrela da dimensão do Sol tem um tempo de vida de cerca de 10 bilhões de anos.
“Esse é o futuro possível do nosso sistema solar”, afirma Brito. “Depois que acaba o combustível, a estrela manda matéria para a galáxia”.
“Essa é também a importância de estudarmos essas formações, para sabermos o destino do nosso Sol, que está na metade da vida.”
Fonte: G1 – Distrito Federal