Drama: grávidas viajam cerca de 100 km para dar à luz no Tocantins por falta de maternidade
A população de Colinas do Tocantins, uma das principais cidades na região centro-norte do Estado, está revoltada com a falta de maternidade pública. O município já foi referência em obstetrícia no norte do Tocantins, mas atualmente não dispõe do serviço.
Diante dessa realidade, as grávidas precisam viajar para outros municípios, geralmente Araguaína ou Guaraí, distante cerca de 100 km, para dar à luz longe de casa.
“Nossas grávidas tem que passar por esse deslocamento. A mãe, o bebê, correndo risco de vida. O povo está cada vez mais revoltado com essa situação e até hoje ninguém deu uma satisfação. Cabe aos políticos do município cobrar e pressionar e eu não vejo isso acontecendo. Se alguém ao menos desse satisfação a gente não estaria nessa revolta”, disse um morador.
Riscos
O cenário é ainda mais crítico para famílias que não possuem veículo próprio para realizar essa viagem em uma situação de urgência. Além disso, as crianças são registradas em outro município.
“Estão dizimando os colinenses naturais. A pessoa vive e trabalha a vida inteira no lugar, paga todos os impostos e não pode registrar o filho como nascido lá”.
Outra preocupação é com o desgaste de uma longa viagem. “Imagino o estresse dessas mulheres, considerando que nem sempre é possível prever os nascimentos”.
Dificuldades
O radialista Erlam Andrade de Sousa contou ao AF Notícias as dificuldades enfrentadas durante o parto de sua segunda filha. Com apenas 33 semanas de gestação, sua esposa se sentiu mal durante a madrugada desta quarta-feira (8) e procurou o Hospital Municipal de Colinas, mas teve de ser encaminhada às pressas para Araguaína.
“Ouvi as seguintes palavras do médico de plantão: sua esposa está com quase 32 semanas e se nascer aqui vai morrer, a única forma de salvar a vida do bebê é encaminhar para Araguaína, é melhor correr esse risco, pois chegando em Araguaína é certeza que será atendida”, relatou.
A gestante foi transportada em uma ambulância do município e deu a luz a uma menina prematura, que nasceu às 8h20min no Hospital e Maternidade Dom Orione. Após o susto, ele fez um desabafo.
“Imagine o desespero de um pai em ver sua esposa em trabalho de parto prematuro, com sangramento e sentindo muitas dores! Imaginem se tivesse nascido na BR? Graças a Deus nasceu, minha segunda filha, uma menina com 1 quilo e 800 gramas”, disse.
Falta de vontade política
O vice-prefeito de Colinas do Tocantins, Aureliano Pires (Podemos), disse à reportagem que existe estrutura e equipamentos para funcionamento da maternidade no Hospital Municipal de Colinas, porém, segundo ele, falta vontade política do atual prefeito Adriano Rabelo (PRB).
“Tem o local, tem todos os equipamentos para voltar a funcionar. O que falta é decisão, vontade política para reestabelecer o serviço”, denunciou o vice-prefeito.
Segundo ele, a maternidade foi desativada em setembro de 2018 mesmo sob protestos da população e de alguns parlamentares da cidade.
“Eu mesmo fui lá e filmei, mostrando a realidade. Na época, o prefeito disse que era para fazer uma reforma. Reforma essa que nunca terminou. Ele [Adriano Rabelo] até me processou dizendo que eu o estava caluniando. Viramos adversários políticos desde então”, afirmou.
O AF Notícias entrou em contato com a gestão do município e aguarda resposta.