Membros de facção suspeitos de ameaçar juízes se organizavam como empresa e tinham até RH, diz polícia
A Polícia Civil informou que os membros de uma facção criminosa suspeitos de ameaçar juízes em cartas se organizavam como funcionários de uma grande empresa no Tocantins. De acordo com o delegado Eduardo Menezes, responsável pela operação Praetorium Minati, eles tinham ‘diretorias’ espalhadas pelo interior do estado e até uma espécie de departamento de RH ativo. Tudo era comandado de dentro do presídio de Mato Grosso do Sul. Na manhã desta segunda-feira (3), 27 alvos foram presos.
O grupo é suspeito até de ‘recrutar’ um adolescente para assassinar um magistrado da capital. Durante a manhã a polícia fez uma operação para cumprir 29 mandados de prisão e outros 29 de busca e apreensão em oito cidades do Tocantins e em Campo Grande (MS). Duas pessoas foram presas em flagrante e outras duas são consideradas foragidas.
Segundo a polícia, todas as 29 pessoas investigadas estão interligadas e fazem parte de uma facção criminosa nacional que atua em todas as regiões do Tocantins.
Conforme a polícia, parte dos integrantes vendiam drogas na Praia da Graciosa. A venda ambulante servia para dificultar o trabalho da polícia em identificar as bocas de fumo. “Acabava se passando por um banhista e passava despercebido pela polícia”, informou o delegado Eduardo Menezes.
O delegado informou ainda que, de dentro do presídio, o criminoso também decidia questões sobre o remanejamento de armas de fogo. Quando comparsas estavam sem revólveres em cidades do interior, a ordem era que fossem levados. “Dava ordem com relação a mortes de integrantes de facção rival. Ordens ligadas ao bom andamento das atividades criminosas dessa facção”, explicou.
Também com o intuito de atrapalhar as investigações, os bandidos mudavam com frequência os apelidos.
A operação
No Tocantins, a operação acontece simultaneamente nas cidades de Palmas, Paraíso, Guaraí, Tocantinópolis, Colinas, Oliveira de Fátima, Arraias e Nova Rosalândia. No MS, um dos mandados de prisão está sendo cumprido no Presídio Masculino de Campo Grande.
O delegado afirma que no dia 18 de janeiro de 2018 uma carta escrita à mão foi encontrada no Pavilhão B da Casa de Prisão Provisória de Palmas. “O conteúdo do texto ora profere citações bíblicas com teor distorcido, ora ressalta que o autor precisa sair da unidade prisional a fim de que faça, segundo suas palavras, uma ‘união’ entre as facções”, explicou.
No texto também há uma ameaça a um juiz de Palmas. Na carta, o detento afirma que se continuasse preso o magistrado ‘queimaria no fogo do inferno’. Em outro bilhete apreendido havia uma encomenda de assassinato para o juiz com a intenção de que a morte dele traria respeito à organização criminosa.
O delegado Eduardo Menezes diz que o bilhete sobre o possível ataque ao juiz, foi detectado a partir do encontro de diversas anotações também em uma das celas do Pavilhão B da Casa de Prisão Provisória de Palmas.
Durante a investigação foi identificado que existem mais de 500 integrantes da facção em atuação pelo Tocantins. “O grupo é tão organizado que chega a fazer teleconferências entre os integrantes. Em um dos diálogos identificados, os suspeitos falam em comercialização de drogas na Praia da Graciosa. E em outro, falam da comercialização de cocaína pura”, afirmou Menezes.
Derivada do Latim, Praetorium Minati faz alusão à ameaça ao judiciário, responsável pela condenação de suspeitos indiciados por tráfico de drogas, associação criminosa entre outros. Participam da operação cerca de 150 policiais civis, contando com o apoio da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado-DRACCO, Divisões Especializadas de Repressão a Narcóticos-DENARC, Divisões de Homicídio e Proteção à Pessoa-DHPP , Delegacias Circunscricionais, do Grupo de Operações Táticas Especiais-GOTE e do Centro Integrado de Operações Especiais-CIOPAER.
Operação da Polícia Civil mira membros de facções criminosas — Foto: Ascom SSP/Divulgação
Fonte: G1 Tocantins