“Eu fiz aborto”: famosas deram a cara a tapa ao admitir
Se uma mulher suscita polêmica ao contar ter abortado propositalmente hoje, imagine as reações furiosas de tal relato em 1997. Em setembro daquele ano, uma edição da revista Veja estampou famosas e anônimas que recorreram ao aborto. Na capa estavam as artistas Hebe Camargo, Marília Gabriela, Cássia Kiss, Elba Ramalho, Claudia Alencar, Cissa Guimarães e Ruth Escobar, além da empregada doméstica Angela da Silva, da estudante Renata Mielli e da socióloga Maria Lígia de Morais.
A repercussão imensurável — com manifestações de apoio àquelas mulheres e críticas dos grupos anti-feticídio — encorajou outras estrelas da TV, do cinema e da música a também contar ter abortado. Nos últimos dias, esse tema recorrente voltou a mobilizar a imprensa e gerar protestos a partir do aborto autorizado pela Justiça na menina de 10 anos estuprada por um parente ao longo de anos no Espírito Santo. Muitas celebridades, inclusive homens, foram às redes sociais para defender a decisão da garota de cessar a gestação indesejada.
Uma retrospectiva revela a explicação de algumas famosas para o ato tão doloroso e controverso. Em uma entrevista dois anos atrás, Betty Faria, mãe de dois filhos, disse não ter se arrependido de abortar, mas admitiu que aquele “momento violento” pode provocar um trauma. Sonia Braga nunca se interessou pela maternidade: contou ter abortado algumas vezes, a primeira delas aos 17 anos. A experiência de Maitê Proença, mãe de uma filha, foi ainda mais precoce: abortou quando tinha 16.
Débora Bloch narrou ter feito a interrupção após engravidar sem querer de um namorado. Depois teve uma filha e um filho. Astrid Fontenelle foi sozinha, aos 18 anos, a uma clínica de “gente bacana”. Anos mais tarde adotou um menino. Aos 22, Soninha Francine, hoje mãe de três filhas, teve hemorragia por conta de um procedimento mal feito. Luiza Brunet disse ter se submetido a dois abortos: um aos 17 anos, no início da carreira de modelo, e outro meses após o nascimento do segundo filho.
“Provocar um aborto não é uma coisa natural, não é saudável e não é gostoso”, declarou Penelope Nova. “Mas defendo a descriminalização.” Ela, que ainda não tem filho, descontinuou duas gestações. Vera Zimmermann revelou um aborto aos 26 anos e não teve filho biológico. Mãe de uma menina, Núbia Óliiver explicou que não queria uma criança do homem de quem engravidou, por isso desistiu da gravidez. Elke Maravilha garantiu ter sido “sábia” ao abortar três vezes porque jamais teve instinto maternal. Acometida por rubéola, Zezé Polessa suspendeu a gestação por temer que o bebê nascesse com algum problema de saúde. Depois teve um filho.
Em uma entrevista, Dercy Gonçalves, que teve uma única filha, mencionou oito abortos e defendeu a prática. “Eu vou pedir licença? O governo não tem nada a ver com isso, nem padre, nem ninguém”, esbravejou. Sem filhos, Aracy Balabanian abortou duas vezes. A primeira devido à falta de condições financeiras para ser mãe solteira e a segunda por não querer um filho do homem que a engravidou.
A teledramaturgia ignorou a discussão social a respeito do aborto intencional durante longo tempo. Pauta potencialmente explosiva, capaz de espantar a parcela conservadora da audiência, o tema ganhou destaque em novelas dos últimos anos. Na Globo, a administradora Nana (Fabíula Nascimento), de Bom Sucesso, ouviu a opinião de várias pessoas — algumas contra, outras defensoras do aborto — até decidir manter a gestação.
Em Malhação – Toda Forma de Amar, a ginecologista Lígia (Paloma Duarte) se viu diante do dilema vivido por profissionais de saúde: denunciar ou não à polícia uma mulher que fez aborto, já que o procedimento é ilegal. Grávida do patrão casado, a empregada Edilene (Cynthia Senek), de A Dona do Pedaço, representou milhares de mulheres mortas por complicações de aborto clandestino. Na abordagem de Topíssima, da RecordTV, Jandira (Brenda Sabryna) também morreu ao se submeter a uma interrupção de gravidez em ambiente inadequado.
Fonte: Terra – Blog Sala de TV