Com menos lixo e fuligem de carros, qualidade da água melhora em trechos do Rio Tietê, mas mancha de poluição aumenta
Um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica divulgado nesta terça-feira (22) mostra que pode ter ocorrido um aumento de quase 20% na mancha de poluição do Tietê neste ano. A pesquisa estima que, em 2019, cerca de 194 quilômetros do rio estão com qualidade ruim, contra 163 quilômetros em 2019. Os dados são do relatório “Observando o Tietê 2020 – O retrato da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê”.
A piora pode estar relacionada a uma operação de abertura de comportas e barragens ao longo do rio para escoar as águas dos temporais que causaram grandes enchentes em fevereiro na capital. Junto com a água, o Tietê levou para o interior lixo, lodo e outros poluentes que pioraram a qualidade da água em Porto Feliz e Laranjal, a 240 quilômetros da capital.
Apesar disso, o relatório também mostra que, com a pandemia, alguns trechos do rio melhoraram em qualidade. Agora, o Tietê está percorrendo mais quilômetros desde sua nascente antes de ficar sujo. Em 2019, o Tietê corria por 44 quilômetros até ter suas águas classificadas como de qualidade ruim pela primeira vez. Em 2020, foram 100 quilômetros. Da sua nascente até a foz, o Rio Tietê tem 1.100 quilômetros.
Além disso, nenhum trecho do Tietê teve qualidade péssima em 2020. Esse nível de poluição foi encontrado apenas em pontos de coleta em afluentes. No ano passado, foram 18 quilômetros de água de péssima qualidade no Tietê.
Já a extensão do rio com qualidade de água ruim, neste ano, foi estimada pela fundação. Isto porque, por conta da pandemia, as equipes de monitoramento não puderam avaliar com a frequência necessária um trecho de 44 quilômetros entre São Paulo e Barueri, que historicamente está entre os mais poluídos. Segundo a própria organização, é razoável considerar que essa região permanece com qualidade ruim, apesar de não ser classificado como tal no relatório final.
“Esse trecho compreendido entre os municípios de São Paulo, da ponte da Rodovia Anhanguera até o município de Barueri, é bastante poluído e apresenta pouca variação na condição de qualidade da água nas séries históricas de monitoramento”, explica a fundação.
Rio Tietê no trecho em que passa pela capital paulista, na altura da Freguesia do Ó, em fotografia desta quinta-feira, 17 de setembro de 2020. — Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
De acordo com as medições, foram contabilizados 150 quilômetros do rio com águas em condições consideradas ruins, o que mostraria redução da mancha de poluição no Tietê neste ano, contra 163 quilômetros em 2019. Mas, com a inclusão do trecho na Grande São Paulo, o valor sobe para 194 quilômetros poluídos, valor que representa um aumento de 19% em relação ao ano anterior.
Ainda que esse trecho possa ter continuado poluído, outras áreas tiveram melhora neste ano. A extensão de rio com qualidade de água boa aumentou em pontos diferentes, principalmente nas áreas de cabeceira e na região de Botucatu, no início do lago do reservatório de Barra Bonita.
No relatório, a fundação avalia que a melhora pode estar relacionada a mudanças de comportamento da sociedade durante a pandemia, especialmente a menos lixo nas ruas e menos fuligem de veículos, com o menor tráfego de carros.
Além disso, a menor demanda de indústrias e produtores rurais por água, motivada pela desaceleração econômica na pandemia, também pode ter ajudado o rio a seguir com mais força de modo a diluir os poluentes nesses trechos.
A condição de água boa ou regular, que permite vida aquática, abastecimento público, produção de alimentos ou atividades de lazer, estendeu-se por 382 quilômetros, o que representa 66% dos 576 quilômetros do rio que foram analisados. No ano passado, eram 413 quilômetros de bom ou regular.
Monitoramento da qualidade da água do rio Tietê volta a ser feito depois de meses
Fonte: G1 – São Paulo