Brasil vive ‘início de 2ª onda’ de Covid por falta de testes, de política centralizada e de isolamento social, apontam pesquisadores
Pesquisadores brasileiros divulgaram nesta segunda-feira (23) uma nota técnica na qual, baseados em dados da pandemia do novo coronavírus no Brasil, afirmam que o país vive o “início de uma 2ª onda”. Além do diagnóstico, o grupo formado por cientistas de diferentes universidades públicas faz uma série de recomendações para diminuir o impacto do crescimento dos casos e mortes por Covid-19 (veja detalhes abaixo).
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Eles apontam ao menos três fatores para o “aumento explosivo” ou “manutenção da grande circulação do vírus”:
- falta de “testagem sistemática com rastreamento de casos”
- falta de uma “política central coordenada, clara e eficaz de enfrentamento da situação”
- “afrouxamento das medidas de isolamento sem evidências empíricas, sem uma análise cuidadosa por uma painel de especialistas”
“A situação no Brasil se deteriorou fortemente nas últimas duas semanas, e o início de uma segunda onda de crescimento de casos já é evidente em quase todos os estados, de forma particularmente preocupante nas regiões mais populosas do país”, afirmam os pesquisadores na Nota Técnica – 22/11/2020 Situação da Pandemia de Covid-19 no Brasil.
Os pesquisadores alertam que o crescimento no número de casos é consequência de “uma sistemática queda dos níveis de isolamento social, mas também da ausência de campanhas de esclarecimento e falsa sensação de segurança disseminada na população”.
Análise de pesquisadores de seis universidades
A nota técnica é assinada por seis pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia Campus Salvador (IFBA), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e da Universidade de Brasília (UnB).
Os pesquisadores Antônio Carlos Guimarães de Almeida, Antônio José Assunção Cordeiro, Fulvio Alexandre Scorza, Marcelo A. Moret, Tarcísio M. Rocha Filho e Walter Massa Ramalho analisaram os seguintes parâmetros:
- Dados de casos e óbitos por estado: Segundo os pesquisadores, “as mortes em excesso por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) indicam fortemente que o número real de mortes por Covid-19 é superior aos valores anunciados, o que também é observado em diferentes proporções em outros países”
- medidas de circulação do vírus: com base no aumento do ritmo de transmissão (Rt), os pesquisadores afirmam que podem “afirmar com alto grau de segurança que uma segunda onda de crescimento da pandemia já se iniciou em todo o país”
- taxas de isolamento ao longo da pandemia: a nota técnica afirma que “o isolamento social vem caindo sistematicamente em todo o país desde que as primeiras medidas de distanciamento foram implementadas em março, o que explica as ainda muito altas taxas de transmissão do vírus”
- e estimativa de percentual da população infectada: com base em um modelo matemático, o grupo afirma que estados brasileiros oscilam – na projeção – entre 9% e 28% das pessoas infectadas. “Consequentemente, todos os estados estão muito longe ainda de atingir uma possível imunidade de rebanho. Permitir que a pandemia se alastre até atingir a imunidade de rebanho implicaria em um número de mortes muito maior do que o já observado até hoje (entre três e quatro vezes maior), com um forte saturação do sistema de saúde, que por sua vez aumentaria ainda mais o número de mortes”, afirmam os pesquisadores.
Recomendações
Os pesquisadores alertam que é “urgente” que medidas sejam tomadas neste início de retomada da gravidade da pandemia. Eles listam:
- “Gestores públicos devem basear suas decisões na melhor evidência científica disponível”
- “Estabelecer uma coordenação central no governo federal”
- “Políticas de isolamento e distanciamento social devem ser intensificadas o quanto antes, até atingir um controle efetivo da pandemia”
- “Implementar uma extensa política de testagem de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, com o rastreamento e isolamento de contatos”
- “Realizar extensas campanhas públicas de informação da população”
- “Implementação de real e efetivo apoio financeiro aos cidadãos menos favorecidos”
Fonte: G1 Bem Estar