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O ano em que os brasileiros enfrentaram (mais) uma crise: G1 conta histórias de quem tenta sobreviver e de quem se reinventou

O ano de 2020 foi marcado por incertezas e reviravoltas trazidas pela Covid-19. Os impactos da pandemia trouxeram consequências diretas para o bolso dos brasileiros, como a alta de preços dos alimentos e do dólardesemprego recorde e perda de renda, dificuldades para manter os negócios em funcionamento e, para muitos, a necessidade de se reinventar em meio à crise.

A economia, que já andava a passos lentos, voltou ao patamar de 2017, com uma queda acumulada de 5% de janeiro a setembro. Mas poderia ser pior, se não houvesse a injeção de recursos do Auxílio Emergencial, benefício que tem sido a única fonte de renda para milhares de brasileiros.

Para retratar este ano — considerado o pior da história pela revista Time —, o G1 entrevistou nove brasileiros, entre trabalhadores e empresários, que lutam para sobreviver em meio ao cenário ainda incerto sobre as perspectivas para o crescimento do Brasil em 2021.

‘Estou na procura, mas está difícil. Espero passar o natal e ano novo com emprego novo’

 

Gustavo de Assis Macedo perdeu o emprego no meio da pandemia — Foto: Arquivo pessoal

Gustavo de Assis Macedo perdeu o emprego no meio da pandemia — Foto: Arquivo pessoal

‘Gustavo de Assis Macedo, de 24 anos, perdeu o emprego no meio da pandemia, em agosto. Desde então, ele vive com as parcelas do seguro-desemprego e com a ajuda dos pais, com quem mora em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo.

Macedo está no grupo que mais foi atingido pelo desemprego, que atingiu taxas recordes em 2020. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa chegou a 31,4% em setembro para trabalhadores na faixa dos 18 a 24 anos. Ele está entre os 14,1 milhões de desempregados no país.

Macedo estava na empresa há 1 anos e 4 meses trabalhando na área de experiência do cliente. Agora ele espera conseguir emprego na sua área de formação, que é marketing. Mas ele também procura vagas nas áreas administrativa e atendimento, nas quais tem experiência.

“Estou na procura, mas está difícil. Eu gostava de trabalhar lá, mas não fiquei tão surpreso com a minha demissão. Depois a ficha caiu e comecei a ajudar meus pais nos serviços domésticos em casa para ocupar minha cabeça”, comenta.

 

Macedo percebeu que há menos vagas no mercado de trabalho e as exigências aumentaram. “Sempre acho algo, mas às vezes o que eles pedem de qualificação eu não tenho e acabo desistindo de me candidatar e vou à procura de outra”, conta.

Por isso, ele planeja fazer cursos de qualificação e pós-graduação para melhorar sua empregabilidade. Mas antes precisa de um emprego para pagar seus estudos. Um dos cursos que pretende fazer é o de inglês.

“Espero passar o natal e ano novo com emprego novo. Se Deus quiser eu vou conseguir. Não está fácil, mas estou na procurar para conseguir voltar ao mercado de trabalho”.

 

‘Não passamos fome, mas estamos passando necessidade’

 

Maria Elza Reis Gomes sustenta a família com o Auxílio Emergencial — Foto: Arquivo pessoal

Maria Elza Reis Gomes sustenta a família com o Auxílio Emergencial — Foto: Arquivo pessoal

A diarista e cuidadora Maria Elza Reis Gomes, de 56 anos, apertou o cinto para manter as despesas da família, que inclui dois filhos e cinco gatos. A única renda vem do Auxílio Emergencial, pois os dois filhos estão sem trabalho.

“Não passamos fome, mas estamos passando necessidade. Não tenho dinheiro nem pra pegar transporte público quando tenho que sair pra resolver algo na rua”, diz a moradora de Campinas (SP).

 

Maria Elza conta que participou de grupos nas redes sociais para conseguir cestas básicas gratuitas para a família, mas não conseguiu nada.

A saída tem sido comer ovos e salsicha. Por causa da alta dos preços, ela teve que cortar as carnes. “Tá tudo difícil, como vou comprar peixe e carne se está tudo caro? Até o frango subiu. Os animais também precisam de ajuda, não posso jogá-los na rua, estou comprando a ração mais barata”, diz.

 

inflação tem sido pressionada justamente pelos alimentos neste ano. Entre os principais fatores está o aumento da demanda sustentada pelo Auxílio Emergencial. Ao mesmo tempo, a alta dos preços atinge principalmente os brasileiros de baixa renda, como é o caso de Maria Elza. E a carne á um dos itens que tem pesado no índice.

Maria Elza está recebendo R$ 600 de Auxílio Emergencial por ser mãe monoparental. Ela é beneficiária do Bolsa Família. Com o fim do auxílio, sua renda vai cair para mais da metade.

“Não faço ideia do que vou fazer. Estamos mandando currículos, mas até agora nada. Nem bico aparece. Eu posso fazer qualquer coisa, limpeza, terapia chinesa, cuidar de idosos, mas só falta oportunidade”, lamenta.

 

‘É muito difícil viver com tão pouco. Nem sei mais o que é comer carne’

 

Eduardo Pereira de Jesus está sobrevivendo graças ao Auxílio Emergencial da esposa Veronica da Cunha de Jesus — Foto: Arquivo pessoal

Eduardo Pereira de Jesus está sobrevivendo graças ao Auxílio Emergencial da esposa Veronica da Cunha de Jesus — Foto: Arquivo pessoal

‘O autônomo Eduardo Pereira de Jesus, de 48 anos, está sobrevivendo graças ao Auxílio Emergencial da esposa Veronica da Cunha de Jesus, de 40 anos.

Jesus, que mora em Belford Roxo (RJ), viu seu trabalho com pedreiro minguar já no início da pandemia. “Eu tinha dois serviços para iniciar, porém, foram cancelados. Desde então, só fiz uns bicos de conserto e pintura bem fracos”, afirma.

A renda da família, que chegava a R$ 3 mil por mês, se restringe agora à parcela do Auxílio Extensão de R$ 300. Às vezes Jesus arruma alguns trabalhos, que não chegam a render nem R$ 500 por mês. O pedreiro agora não sabe o que fazer, pois a última parcela do auxílio será neste mês, e a família já está passando necessidade até para comer. Ele tem três filhas de 10, 15 e 18 anos.

“É muito difícil viver com tão pouco. A necessidade é grande. Muito mal dá pro arroz e feijão. Agora estamos comprando só arroz e ovos, às vezes um macarrão. Nem sei mais o que é comer carne. Muito raro compramos uma linguiça pra dar uma melhorada, porque ovo todos os dias fica ruim”.

 

O café da manhã já não tem mais pão há muito tempo. A saída de Jesus tem sido fazer bolinhos de chuva para as filhas, mas sem leite e ovos. “Porque se eu colocar ovo, vai faltar pro almoço. E o leite não tem mesmo faz tempo”, afirma.

As filhas estudam em escola pública e a família mora em casa própria. A família tem dois celulares – um é dividido pelas três meninas e o outro Jesus tem porque recebeu como parte do pagamento de um serviço.

“Nem chinelo eu tenho. Fui comprar um pra mim, mas o da minha filha de 15 anos arrebentou, então fiquei sem pra dar pra ela. A luta está sendo grande”.

 

Jesus não faz ideia de como a família vai se manter a partir de janeiro com o fim do Auxílio Emergencial em dezembro. O governo não prevê estender os pagamentos para o ano que vem e argumenta que, com a reabertura gradual da economia, as atividades serão retomadas e haverá menor dependência do benefício.

O Auxílio Emergencial chegou a 29 milhões de lares brasileiros em outubro, ou 42,2% do total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São quase 68 milhões de beneficiários, e os pagamentos superam R$ 265 bilhões.

Veronica também está com dificuldade para conseguir um trabalho como faxineira ou cozinheira. A pensão onde trabalhava fechou por causa da pandemia.

No dia da entrevista ao G1, Jesus não tinha nada para o café da manhã nem para o almoço porque o ovo e o arroz haviam acabado na véspera. “Só peço a Deus que essa situação melhore. O desespero já está aqui há muito tempo”, lamenta.

 

‘Tem dias que não entra ninguém, e isso me preocupa muito’

 

Andréia Camargo Flocco planejava abrir seu salão em março, mas foi impedida pela quarentena — Foto: Marta Cavallini/G1

Andréia Camargo Flocco planejava abrir seu salão em março, mas foi impedida pela quarentena — Foto: Marta Cavallini/G1

Andréia Camargo Flocco, de 44 anos, não tinha ideia de que teria de fechar seu negócio antes mesmo de abri-lo. A empresária planejava inaugurar seu salão de beleza em março, quando a quarentena entrou em vigor em São Paulo. “A abertura coincidiu com o primeiro dia do isolamento social, não foi possível nem inaugurar. Fui pega de surpresa. Nem por sonho imaginava que enfrentaria isso”, lembra.

Mesmo com a flexibilização do isolamento e autorização para funcionar, Andréia tem enfrentado dificuldade para manter o estabelecimento aberto. Ela não conseguiu recuperar o investimento e ainda precisa bancar do próprio bolso os gastos fixos.

“Está muito difícil, tenho mais despesas do que faturamento. O movimento tem melhorado um pouco, mas bem abaixo do esperado. Tem dias que não entra ninguém, e isso me preocupa muito. O que me faz persistir é a esperança de dias melhores”, diz.

 

O setor de serviços foi justamente o mais atingido pela pandemia – ainda não recuperou o patamar pré-pandemia e continua mostrando recuperação mais lenta do que a observada no comércio e indústria. A retomada mais lenta do setor freia a economia como um todo, uma vez que é serviços tem o maior peso no PIB, de cerca de 75%.

Para chamar a clientela, ela lançou mão de propaganda, promoções, indicação de amigos, mas o efeito não tem sido o suficiente para aumentar o movimento.

A empresária está com dificuldade para conseguir uma manicure para o salão por causa do baixo movimento. Por outro lado, recentemente, ela contratou uma colaboradora para ajudá-la nos cortes, penteados e tingimento.

“Eu tenho perspectiva de aumentar o movimento, com a vacina as coisas devem melhorar, mas espero que seja logo”, comenta.

 

‘Graças ao teletrabalho, posso trabalhar em Guarulhos e conviver com meu marido’

 

Joice Nascimento dos Santos viu sua qualidade de vida melhorar depois que passou a trabalhar em casa  — Foto: Arquivo pessoal

Joice Nascimento dos Santos viu sua qualidade de vida melhorar depois que passou a trabalhar em casa — Foto: Arquivo pessoal

Em home office desde o início da pandemia, Joice Nascimento dos Santos, supervisora de call center na operadora TIM, viu a sua qualidade de vida melhorar. Ela enfrentava a separação da família durante a semana: moradora de Guarulhos, na Grande São Paulo, ela passava a semana em São Bernardo do Campo para se deslocar mais rapidamente ao trabalho, que fica em Santo André.

“Morava durante a semana na casa da minha mãe e só via meu filho e meu marido nos finais de semana. Graças ao teletrabalho, posso trabalhar em Guarulhos e conviver com meu marido, acompanhar o desenvolvimento do meu filho e me dedicar a cursos extras para o meu crescimento profissional. Fora a economia que tive nas viagens entre as duas cidades”, conta.

 

Apesar de pesquisas mostrarem que os profissionais estão tendo de arcar com as despesas de internet e luz e mobiliário adequado e trabalhar além da jornada estabelecida, houve aumento de produtividade, tanto em relação ao próprio desempenho quanto ao da empresa. E profissionais apontam aspectos positivos como ter mais tempo para a família, não ter que se deslocar para o trabalho e horário flexível.

Joice diz que hoje se sente mais produtiva no trabalho. “Foi possível organizar melhor as demandas. As automações facilitaram a minha forma de gerir a equipe, acompanhar os indicadores, dar suporte e aplicar feedbacks”.

Segundo a supervisora, a jornada de trabalho permaneceu a mesma em home office. “Consigo executar meu trabalho dentro do período combinado, incluindo os intervalos estipulados”.

 

Em outubro, 7,6 milhões de pessoas – 9,6% da população ocupada – estavam em home office, segundo a última Pnad Covid-19 do IBGE. No entanto, a modalidade tem perdido força mês a mês desde o início da pandemia. Em setembro, eram 8,1 milhões de pessoas, ou 10,4% da população ocupada.

A adesão das empresas ao home office, no entanto, fez disparar o número de ações nas Varas de Trabalho. Esse aumento se deve à falta de regras mais claras para a modalidade de trabalho, que leva insegurança jurídica tanto para empresas como para funcionários.

‘Não fiquei com dívida, mas também não fiquei com nada’

 

Leila Martinelli — Foto: Divulgação

Leila Martinelli — Foto: Divulgação

A crise do novo coronavírus fez a empresária Leila Martinelli, de 30 anos, vender um buffet infantil da família em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo – mas não foi suficiente para ela desistir dos planos de empreender. Desde setembro, ela prepara e vende marmitas fit na região em que mora.

Ex-bancária, Leila foi incumbida em 2016 de reerguer economicamente um buffet de 200 metros quadrados comprado pelo pai dois anos antes. Ao enxugar gastos desnecessários e dobrar o tamanho do estabelecimento, ela conseguiu passar de 190 festas por mês em 2018 para 300 no ano seguinte.

“Vi quais eram os pontos falhos e como poderia reerguer o negócio. Como trabalhava em banco, tinha uma noção financeira”, disse.

No mesmo período, Leila e sua esposa decidiram ter um filho. Por meio de uma inseminação artificial, tiveram gêmeas univitelinas.

Com a chegada de 2020, contudo, veio a crise decorrente da Covid-19 que interrompeu o crescimento do buffet e assolou o negócio em contas atrasadas. “Decidi passar o buffet para frente em setembro. Não fiquei com dívida, mas também não fiquei com nada [em valor da empresa]”, contou ela.

 

Para pagar as contas de casa junto com a esposa, Leila passou a preparar e vender marmitas fit, com alimentos naturais, desde setembro pela chamada “Deliciaria Kalu”. “O que mais deu certo nem foi o fato de ser fit, mas ser comida natural e caseira. Me inspirei na minha avó. A gente comia muita verdura porque não tinha dinheiro para comprar carne”, lembrou ela.

Com apenas quatro panelas em sua produção domiciliar, a ex-bancária calcula ter vendido 500 marmitas apenas em novembro. Na primeira semana de dezembro, foram 130. Cada uma custa R$ 14,50. Para formalizar a empresa em 2021, ela avalia abrir um MEI (Microempreendedor Individual) e integrar a irmã, que estudou gastronomia, no negócio.

“Para começar a fazer as marmitas, usei o vale refeição da minha esposa. Tive lucro de 100% e devolvi o dinheiro para ela. Agora, queremos juntar dinheiro para dar um canto para a Kalu”, afirmou.

 

Segundo o Ministério da Economia, até 5 de dezembro foram realizados mais de 11 milhões de registros de MEIs no Brasil — regime tributário simplificado, com isenção de alguns impostos, criado em 2009 para incentivar e facilitar a formalização de pequenos negócios e de trabalhadores autônomos como vendedores, cabeleireiros e professores particulares.

Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de outubro, contudo, mostrou que o Brasil fechou mais empresas do que abriu pelo 5º ano seguido. Entre 2014 e 2018, o país perdeu cerca de 382,5 mil empresas, o que implicou na perda de 2,9 milhões de trabalhadores assalariados.

‘Juntamos as necessidades de todos’

 

Marcelo Piazera, da Fórmula Animal, reuniu franqueados para negociar pedidos com fornecedores — Foto: Divulgação

Apesar do isolamento social, Marcelo Piazera, de 38 anos, CEO da rede de farmácias de manipulação Fórmula Animal, teve de se aproximar ainda mais de seus 76 franqueados distribuídos pelo Brasil a partir do terceiro trimestre. Com a desvalorização do real frente ao dólar, grande parte dos insumos farmacêuticos da rede — de origem chinesa, europeia e norte-americana — seria reajustado, causando um efeito cascata nos preços aos consumidores.

Para tentar frear esse aumento, Piazero passou a reunir os pedidos de matéria-prima e embalagens de todos os franqueados para garantir mais poder de barganha com os fornecedores.

“Conversamos com a rede e juntamos as necessidades de todos. Verificamos também quem tinha caixa e juntamos um valor em dinheiro para adiantar uma compra considerável para passar por esse momento de crise”, explicou o empresário catarinense, que também utilizou benefícios públicos, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).

 

Com a estratégia de compra integrada entre as unidades, a rede de farmácias conseguiu adiantar boa parte das compras e evitar o repasse de custos aos clientes. “A gente não consegue comprar tudo, obviamente. Selecionamos os produtos mais utilizados e os de maior valor. Infelizmente, nas unidades em que os insumos já acabaram, foi necessário comprar com preço reajustado”, explicou.

O real é a moeda que mais perdeu valor em 2020, seguida pela lira turca e pelo rublo russo, segundo dados atualizados até 30 de novembro por Claudia Yoshinaga e Henrique Castro, da Fundação Getulio Vargas (FGV). A que mais ganhou valor no período foi a coroa sueca. Até 8 de dezembro, o dólar acumulou valorização de 27% em relação ao real.

‘Descobri que dá para transformar a tristeza em produtividade’

 

Harianne Barros criou a marca de antepastos delivery Um Teco de Sabor durante a pandemia — Foto: Divulgação/Gustavo Porto

Harianne Barros criou a marca de antepastos delivery Um Teco de Sabor durante a pandemia — Foto: Divulgação/Gustavo Porto

Cozinhar e atender o cliente sempre foram as atividades favoritas da publicitária Harianne Barros, de 43 anos, proprietária da pizzaria Graminha, em Santos, no litoral paulista. Com o isolamento social, contudo, ela teve de fechar o salão do estabelecimento, que representava 70% do faturamento da empresa, e focar 100% no delivery.

Deprimida não só pela crise, mas por não ter mais contato com o público, Harianne decidiu organizar um aniversário online para uma amiga e entregar entradas e antepastos na casa deles para a comemoração. A ideia despretensiosa deu certo e rendeu pedidos da família das colegas. Nascia, então, um novo negócio: o “Um Teco de Sabor”.

“No começo da pandemia, perdi 80% da minha renda por causa do fechamento do salão. Em junho, voltamos a atender os clientes. Se houver uma nova restrição na região, poderei compensar a perda de faturamento de uma empresa pela demanda de entrega de antepastos da outra”, explicou a publicitária.

 

De acordo com Harianne, a empresa começou com sete pedidos por final de semana e chegou a 40 no meio da pandemia. “As pessoas aprenderam a ficar em casa. Vejo uma tendência forte para o ‘Teco’ mesmo após o fim da pandemia”, afirmou a empresária.

Os bons ventos também sopraram para a pizzaria, que se adaptou e agora tem no delivery 60% do faturamento – e corre menos risco de ser prejudicada pela pandemia. “O mais importante de toda essa mudança foi a parte emocional.

“O Teco’ me deu um fôlego novo. Descobri que dá para transformar a tristeza em produtividade”, disse Harianne.

 

Pesquisa “Pesquisa Pulso-Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas”, divulgada em outubro pelo IBGE, sugere que houve melhora dos impactos da pandemia sobre o funcionamento das empresas no país, como foi o caso da pizzaria Graminha. Entre a primeira e a segunda quinzena de agosto, caiu de 38,6% para 33,5% a proporção de empresas que relataram impactos negativos da crise sanitária e econômica sobre os seus negócios.

Também houve melhora em relação às empresas que reportaram impacto pequeno ou inexistente, assim como entre as que apontaram ter percebido efeitos positivos – passou de 33,9% para 37,9%, e de 27,5% para 28,6%, respectivamente.

‘Pensei que um dia alguém venderia parafusos pela internet. Então, que fosse eu’

 

Paulo Schwarz digitalizou a Parafuso Fácil em 2019 e investiu em divulgação este ano para driblar a crise — Foto: Divulgação

Paulo Schwarz digitalizou a Parafuso Fácil em 2019 e investiu em divulgação este ano para driblar a crise — Foto: Divulgação

Na avaliação do empresário Paulo Schwarz, de 46, não há produto de qualidade que não possa ser vendido à distância. Basta que a empresa ofereça as ferramentas e orientações necessárias para que o cliente faça suas compras.

Fundador da Sipar Ferramentas, em Jaraguá do Sul (SC), Schwarz criou em novembro de 2019 o Parafuso Fácil, e-commerce de parafusos e outros elementos de fixação, como porcas e molas. O que ele não esperava era iniciar a divulgação do negócio em meio à pandemia — justamente com o fechamento da Sipar por conta do isolamento social.

“Tenho uma equipe de 40 pessoas que teve de parar de trabalhar na loja física e, na época, foi para o novo site porque o centro de distribuição não parou de funcionar”, lembrou ele.

 

Para que os clientes consigam comprar os parafusos certos pela internet, o site oferece imagens de diversos ângulos de cada item, informações comparativas entre os modelos, tabelas explicativas sobre a função de cada produto e moldes com tamanhos em centímetros e polegadas.

“Pensei que um dia alguém venderia parafusos pela internet. Então, que fosse eu. Existe um mercado enorme de eletricistas, mecânicos, marceneiros, entre outros profissionais, para comprar em nosso site”, disse.

Com pouco mais de um ano, o Parafuso Fácil conta com 15 mil itens à venda e fatura 10% do rendimento da Siper. Ambos não foram revelados pelo empreendedor. “A gente estava com a ferramenta certa, na hora certa.”

Pesquisa divulgada em outubro pela Robert Half mostrou que 41% dos executivos estão investindo em transformação digital, enquanto 31% estão focados em e-commerce como parte do redesenho de funções e estratégia de recuperação em função da Covid-19.

Em agosto, levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou também que as empresas digitalizadas foram as que tiveram mais facilidade de honrar as dívidas durante a pandemia.

Fonte: G1 Economia