O chocante relato da mulher que fugiu pela mata após levar tiro de ex-marido no Tocantins
Um caso bárbaro de violência doméstica ocorrido no início deste ano de 2021 gerou grande comoção na cidade de Araguacema, região oeste do Tocantins.
Na noite de 3 de janeiro, a dona de casa Ireni Almeida Chaves foi espancada pelo ex-companheiro, Jonas Britto Bukoski, com murros e pontapés. Logo em seguida, foi levada para um matagal, onde o homem tentou assassiná-la com uma espingarda.
O agressor disparou três vezes, mas a arma falhou nas duas primeiras tentativas. Na terceira, o tiro desferido a curta distância atingiu a cabeça da vítima. Mesmo baleada, a mulher conseguiu fugir, e o agressor ainda chegou a persegui-la, dizendo que “iria terminar o serviço com o facão”.
FUGA PELA MATA
Ireni caminhou cerca de 8 quilômetros no meio da mata fechada e lavouras da região. Ela contou que estava descalça e seus pés ficaram cortados. Para continuar a caminhar, ela dividiu o sutiã em dois e amarrou nos pés, improvisando calçados. Após quase 24 horas, chegou a uma estrada vicinal e foi ajudada por um casal que passava pelo local.
A vítima foi encontrada com o ferimento na cabeça, apresentando hematomas no olho direito, abdômen e nas pernas, além de escoriações e cortes por todo o corpo ocasionadas pela caminhada através da mata cerrada.
No vilarejo, várias pessoas se mobilizaram para socorrê-la e, enquanto esperavam a ambulância, o agressor chegou ao local procurando pela vítima e só não a encontrou porque moradores a esconderam.
LEVADA AO HOSPITAL
Após o episódio, ela foi levada ao Hospital de Araguacema e, depois, transferida para o Hospital Regional de Paraíso, onde recebeu os primeiros socorros. Os projéteis esféricos de chumbo ficaram alojados em sua cabeça e a vítima aguarda nova avaliação médica, que decidirá se ela será submetida ou não à cirurgia. Hoje Ireni se encontra com quadro de infecção tópica no local do tiro.
Testemunhas relataram que foram recebidas inúmeras ligações nos hospitais de Araguacema e Paraíso, nas quais o agressor dizia que era primo da vítima e que ela havia desaparecido na noite anterior, simulando preocupação e pedindo que os funcionários lhe avisassem imediatamente caso ela desse entrada no hospital.
Ireni contou à Polícia Civil que as agressões físicas e psicológicas ocorriam há vários anos e que o ex-companheiro já havia a ameaçado de morte, inclusive, em certa ocasião, depois de surrá-la, fez com que a vítima cavasse a própria cova, pois, iria matá-la a machadadas.
HOMEM ERA CASADO COM DUAS MULHERES
A vítima convivia em união estável com o agressor, que é casado com outra mulher. Segundo Ireni, quando descobriu que Bukoski era casado, tentou terminar o relacionamento, mas ele não aceitou o fim da relação.
O caso chama a atenção, pois há aproximadamente 9 anos, Bukoski obrigou tanto sua esposa quanto a vítima a conviverem juntas, sob o mesmo teto, alegando que não tinha condições de manter duas casas distintas. Desde então, as duas mulheres e os cinco filhos conviviam juntos e o agressor mantinha relacionamento amoroso com ambas. Entretanto, para a sociedade, o investigado apresentava Ireni como “prima” e a esposa como mãe dos quatro filhos menores.
SUSPEITO NEGA
O suspeito negou a autoria do crime e alegou que Ireni tinha problemas psiquiátricos e que ela estaria tentando lhe extorquir dinheiro.
Jonas Bukoski já foi preso e condenado duas vezes pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul por circulação de dinheiro falso na região de Passo Fundo. Ficou preso 7 dias e foi solto mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 9.330,00. A pena de 4 anos e 1 mês de reclusão foi substituída por prestação de serviços comunitários. Ele aguardava a realização de audiência admonitória para iniciar o cumprimento da pena, quando veio a praticar a tentativa de feminicídio.
A Polícia Militar chegou a efetuar diligências para localizar o agressor, contudo, ele evadiu da região num primeiro momento e, depois de alguns dias, apresentou-se na delegacia de polícia acompanhado de advogado para prestar depoimento.
POSSÍVEL ENGENHEIRO
Em redes sociais, Bukoski se apresentava como engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual da Califórnia, mas, segundo a vítima, ela jamais viu o diploma da universidade americana e nem mesmo fotos da época em que ele teria estudado fora do país.
A investigação também apurou que Jonas Britto Bukoski é procurado pela Justiça Cível do Rio Grande do Sul para responder a diversos processos de cobranças de dívidas que, somadas, ultrapassam R$ 1 milhão, se atualizados os valores.
VÍTIMA ESCONDIDA
Ireni foi acolhida e atualmente está escondida, pois, o ex-marido está em liberdade, andando livremente pela cidade. Ela relata que desde os fatos, não viu mais as filhas, que permanecem na casa do ex-companheiro.
Quando foi levada para ser morta, a vítima saiu da casa trajando apenas um vestido e deixando a bolsa com seus pertences. Segundo a vítima, o ex-companheiro se recusa até mesmo a devolver seus documentos pessoais.
Ela relata ainda que após o crime, o ex-companheiro usou o telefone dela para trocar a senha do e-mail pessoal e redes sociais da vítima. Quando ela recuperou o acesso, constatou que foram apagadas inúmeras conversas privadas suas, e-mails, fotos e vídeos do casal, estando ele de posse e fazendo uso do aparelho telefônico dela.
APOIO DE MULHERES DA CIDADE
Irene ainda que, num primeiro momento, após sair do hospital, pensou em retirar a queixa e fugir da cidade por temer que, em represália, ele atentasse contra a vida da filha mais velha.
Mas, depois de ser acolhida e receber o apoio de conhecidos, além de assistência psicológica e jurídica, ela se encorajou a prestar novo depoimento à Polícia Civil, dando detalhes dos fatos e o histórico das agressões que sofreu. Ela gravou um vídeo que circulou nas redes sociais relatando o sofrimento e as dificuldades da vida que levava.
SOLIDARIEDADE
Solidarizadas com a situação de Ireni, mulheres da cidade de Araguacema criaram grupos nas redes sociais e mobilizam uma manifestação para o próximo dia 14, em frente à delegacia e ao Fórum para pedir a prisão do agressor. A advogada Fernanda Martins Silveira é uma das pessoas que se sensibilizou com o caso.
Grupos com cerca de 600 participantes discutem formas de prestar ajuda à dona de casa para que ela possa se tornar independente economicamente do ex-companheiro e lutar na justiça pela guarda das filhas e ter condições de cria-las sem a ajuda dele.
ATUALIZAÇÃO SOBRE O CASO
A Polícia Civil comunicou, nesta quinta-feira (14), a prisão preventiva do agressor. Veja a matéria abaixo.