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New Radicals na posse de Joe Biden: banda tocará ‘You Get What You Give’ após 22 anos

Muita gente achou um baita rolê aleatório quando saiu a notícia de que o New Radicals voltaria a se apresentar ao vivo. A banda americana está escalada para tocar “You Get What You Give” na posse de Joe Biden. O show em Washington DC, nesta quarta-feira (20), será o primeiro do grupo em 22 anos.

Mas existe uma explicação para essa escolha. A família Biden ouvia esse hit pop rock estridente para trazer boas vibrações durante o tratamento de câncer de Beau Biden. O filho do presidente morreu em 2015.

O agora presidente americano escreveu sobre a relação com a música em “Promise Me, Dad”, livro sobre a relação com o fillho: “Durante o café da manhã, ele costumava me fazer ouvir o que eu pensava ser sua música tema, ‘You Get What You Give’, dos New Radicals.”

Foto obtida no site oficial do então senador dos EUA Joseph Biden, mostra Joe com seus filhos Beau (à esquerda) e Hunter e sua futura esposa Jill em uma foto sem data — Foto: Reprodução/Senador Joseph Biden via AFP

Foto obtida no site oficial do então senador dos EUA Joseph Biden, mostra Joe com seus filhos Beau (à esquerda) e Hunter e sua futura esposa Jill em uma foto sem data — Foto: Reprodução/Senador Joseph Biden via AFP

“Mesmo que Beau nunca tenha parado de lutar e sua vontade de viver fosse mais forte do que a maioria – acho que ele sabia que esse dia poderia chegar. A letra da música é: ‘Este maldito mundo pode desmoronar / Você ficará bem, siga seu coração’.”

 

“Descobrir que a música foi acolhida por heróis como Obama, Biden e o filho, Joni Mitchell e Bono, é parte do mistério mais complexo de uma música – como ela se conecta a pessoas de diferentes épocas ou backgrounds. É o que nos inspira como compositores a continuar tentando escrever a melhor música que pudermos”, disse o líder da banda, Gregg Alexander.

Joni Mitchell falou que “You Get What You Give” era “a única música da qual ela havia gostado em muito tempo”. O U2 começou todos os 113 shows da “Elevatour tour”, de 2001, ao som de “Mother We Just Can’t Get Enough”, música que abre o álbum do New Radicals. Bono e Gregg viraram amigos.

Por que o New Radicals acabou?

 

Gregg Alexander no clipe de ‘You get what you give’, do New Radicals — Foto: Reprodução

Embora seja oficialmente uma banda, o New Radicals era mais um projeto solo de Gregg. Eles só lançaram um álbum, “Maybe You’ve Been Brainwashed Too”, em 1998. Até poderia ser chamada de banda de um hit só (“one hit wonder”), não fosse a balada “Someday We’ll Know”.

Após os dois singles de sucesso, o cantor decidiu acabar com a banda. “Havia uma parte de mim que sentia que aquela m… iria me destruir”, disse Gregg à “Billboard”.

O desencanto dele com a fama é narrado com detalhes na reportagem da revista americana. Aos 50 anos, hoje a vida dele é recheada por causas sociais e trabalhos com outros artistas.

O lado compositor

 

Gregory Aiuto, nome real dele, tem trabalhos além do New Radicals. Antes do grupo, teve uma carreira solo no começo dos anos 90 e ela não decolou. Longe disso.

Gregg Alexander nos tempos do New Radicals e em foto recente — Foto: Reprodução

Gregg Alexander nos tempos do New Radicals e em foto recente — Foto: Reprodução

Depois da banda, mais oportunidades apareceram:

  • “Murder On The Dancefloor”, hit da inglesa Sophie Ellis-Bextor, tem Gregg entre os compositores;
  • Boyzone, Hanson, Enrique Iglesias, Rod Stewart e ex-integrantes das Spice Girls também contaram com os serviços dele;
  • Mas maior sucesso fora do New Radicals é “The Game of Love”, de Santana e Michelle Branch. Com o hit, ele ganhou um Grammy;
  • A trilha do filme “Mesmo Se Nada Der Certo”, estrelado por Keira Knightley, Mark Ruffalo e Adam Levine, o fez ser indicado ao Oscar. Foi Bono quem apresentou Gregg ao diretor irlandês John Carney.

 

O único álbum

 

Capa do único álbum do New Radicals — Foto: Divulgação

Capa do único álbum do New Radicals — Foto: Divulgação

Hoje, “You Get What You Give” é considerada uma música histriônica, para cima. Quando se ouve a música, a primeira associação é a do clipe com uma “revolução” no shopping.

Na farra do vídeo, tinha até gente usando máquina de casquinha como se ela fosse um bebedouro. O olhar de desdém do cantor são desconcertantes, em meio ao caos.

Assim que a música foi lançada, porém, os versos finais foram mais comentados: “Ensaios de moda com Beck e Hanson / Courtney Love e Marilyn Manson / Vocês são todos falsos / Corram para suas mansões / Venha, vamos chutar suas bundas”. Não era nada pessoal, tanto que ele trabalhou com o Hanson depois.

Gregg odiava quando o foco era esse. Na real, ele odiava quase tudo o que se falava sobre o New Radicals.

E as outras músicas?

 

Só que o álbum “Maybe You’ve Been Brainwashed Too” não é só “You Get What You Give”. O outro hit, “Someday We’ll Know”, é uma balada com letra contendo perguntas piegas do quilate de “Será que o capitão do Titanic chorou?”.

Outra balada de letra no mesmo estilo finaliza o disco. “Crying like a church on Monday” diz a que veio no título, mas também tem o verso: “Agora eu não gosto de chorar/ Porque isso só me faz ficar molhado”.

Esquisita, como boa parte do álbum, “Technicolor lover” começa com barulho de alarme de carro. Nas letras, há muitas metáforas fáceis em historinhas com um quê de dramédia. É assim na serena “I don’t wanna die anymore”, com versos de sílabas alongadas e jeitão gospel.

Mais aceleradas, “Jenovah made this whole joint for you” e “In need of a miracle” são da mesma lavra do maior hit. A faixa-título é desleixada e irritante, meio Mamonas Assassinas imitando Radiohead. “Você só precisa de vodka e honestidade”, aconselha, na lisérgica “Flowers”.

Gregg é um ótimo compositor (e um personagem raro na música pop). Um personagem que voltará aos palcos, após mais de 20 anos.

Gregg Alexander em carreira solo antes do New Radicals, em 1992 — Foto: Reprodução

Gregg Alexander em carreira solo antes do New Radicals, em 1992 — Foto: Reprodução

Fonte: G1 Pop & Arte