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As vozes do rádio e suas representações econômicas e culturais nos anos 80 e 90 em Araguaína

Caro leitor, esse texto que socializo aqui é parte de um projeto de pesquisa que estou desenvolvendo na condição de aluno especial no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território da Universidade Federal do Tocantins. Vamos lá, vamos ao texto. Acredita-se que é através da comunicação que as sociedades orbitam no mundo, o mundo da informação, da cultura, dos negócios, é por ela que podemos transmitir nossos sonhos e pensamentos que se transformam muitas vezes em desenvolvimento para mudar uma região e até mesmo uma nação, como escreve (BOISIER, 2006, p. 69): “desenvolvimento é a capacidade para inventar recursos, movimentar aqueles já existentes e agir em forma cooperativa e solidária, desde o próprio território”. 

Esse contexto está sendo averiguado em uma proposta de pesquisa que se denomina “As vozes do rádio e suas representações econômicas e culturais nas décadas de 1980 e 1990 em Araguaína”, com os discursos e as paisagens construídas pelos os radialistas do então norte de Goiás e demais personagens que fizeram parte dessa história.

Vamos descobrir em que medida a comunicação por meio do rádio pode contribuir com o desenvolvimento econômico e cultural de um lugar, de uma região? Como isso pode ocorrer? Esta reflexão busca compreender para trazer a luz como se deu o processo da chegada da primeira emissora de rádio no ano de 1979 e sua possível relação com o desenvolvimento regional da cidade.

A comunicação; o som do rádio era analógico, suscetível a interferências, ruídos e invasões clandestinas. O rádio analógico por muitos anos foi a nossa única opção e durante um bom tempo deu conta do recado, levando a música, informação e o entretenimento. A época, apenas para se ter uma ideia, se você precisasse ligar para alguém tinha que usar o telefone fixo ou um orelhão.

As pessoas faziam fila em torno de um orelhão, considerando que as vezes só existia um aparelho desses para uma comunidade inteira de um bairro.  Segundo Ferraretto (2009), “a internet é o novo suporte para o rádio, e também um contexto para o rádio”. A internet chegou e trouxe muito para acrescentar. Hoje é impossível sairmos na rua sem nos depararmos com pessoas olhando a tela de seus smartphones conectados à internet móvel, navegando inclusive ouvindo uma emissora de rádio. Compartilho o pensamento de Lúcio Mesquita, diretor da BBC, quando afirma que o rádio pode ser um dos grandes beneficiados pelas plataformas digitais e as mídias sociais que têm servido de base para a interatividade.

[…] foi o rádio que inventou interatividade em meio de comunicação. Afinal até recentemente, a única forma pratica de interatividade era o telefone, e o rádio sempre explorou, e bem o uso da telefonia fixa para obter informação e interagir com o ouvinte. É impossível saber utilizar as novidades tecnológicas para beneficiar a audiência.  (MESQUITA, 2009).

Observa-se que o rádio não morreu com a chegada da internet e a cultura da mídia, como já disse Douglas Kellner “As formas de entretenimento invadem a notícia e a informação, e uma cultura tabloide se torna cada vez mais popular”. Mesmo chegando diversas formas de entretenimento, ao contrário, o rádio vem se adaptando, se transformando, e hoje é possível ouvir rádio em qualquer lugar. Levamos ele em nossos smartphones e mesmo em regiões do país em que a internet não chega, ainda é possível encontrar um sinal analógico de rádio que funciona muito bem e mantém assim as pessoas informadas.

O rádio aproxima as pessoas, gera sentimentos, informa e diverte o seu ouvinte. O rádio nasceu no Brasil em 1922 quando foi instalada a primeira emissora no Estado do Rio de Janeiro. De lá para cá sempre se adaptou bem as mudanças que chegaram com a tecnologia. Para Cláudio Chaves Paixão e Liana Vidigal Rocha, que escreveram; “O rádio no Tocantins: o processo de implantação e consolidação das primeiras emissoras”, O rádio chegou por aqui em caixas de som instaladas nos postes de energia elétrica.

[…] A comunicação por voz, no antigo norte goiano começou a ganhar corpo no início da década de 1960. Naquela época, as caixas de som instaladas nos postes das redes de energia e os alto-falantes das igrejas faziam com que recados, anúncios e músicas alcançassem um maior número de pessoas nos pontos em que os equipamentos estavam instalados. Dos alto-falantes surgiram locutores que, anos mais tarde, ocupariam os microfones das emissoras de rádio que seriam criadas na região.

Ainda de acordo com Cláudio Chaves Paixão e Liana Vidigal Rocha, a primeira emissora de rádio que se instalou em Araguaína, então norte de Goiás foi a Rádio Som Araguaia, inaugurada em 1969 que era integrada ao Grupo Boa Sorte, uma distribuidora de produtos alimentícios, instalada na Companhia Industrial Mercantil da Bacia Amazônia (CIMBA) de propriedade de Benedito Vicente Ferreira, sendo desativada em 1972. Mais tarde chega a Rádio Araguaia AM, oficialmente a primeira emissora de rádio da região inaugurada em 05 de abril 1979 de propriedade do Grupo Jaime Câmara que entrou no ar com uma programação recheada de muita música popular, prestação de serviço à comunidade e informação. A Rádio Araguaia AM foi durante muitos anos a principal emissora de rádio da cidade e da região, ao menos até o ano de 1988 quando o mesmo grupo Jaime Câmara inaugurou a primeira Rádio FM da região.

Nessa época, a Rádio Araguaia AM trocou o nome para Rádio Anhanguera AM, cedendo seu nome para a FM, surgia assim, a Rádio Araguaia FM com frequência 99,7. A nova rádio chegou com uma proposta inovadora, tocando mais músicas, atraindo mais o público jovem, atraindo de forma mais agressiva o mercado comercial da região, conquistando e liderando a audiência do rádio em Araguaína. Que os curiosos fiquem com mais curiosidade, vou encerrar por aqui sem apresentar mais detalhes. Aguardem, tem muita coisa interessante por vir, estou debruçado sobre a pesquisa, vai demorar um pouco para finalizar, aguardem.

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Luis Boenergio é aluno especial do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território da UFT. É Trainer de Expressão Verbal/Oratória e assessor de gabinete na Secretaria Municipal de Educação de Araguaína TO; Graduado em Letras pela Fundação Universidade do Tocantins, Araguaína. É professor concursado da rede estadual de educação (licenciado).

Fonte: AF Noticias