‘Ele é Siqueira Campos sim, não vão lhe roubar o nome’, diz Eduardo sobre dossiê da Ditadura
“Siqueira está na história do Tocantins, na luta pela criação do Estado e isso não será apagado. A sua biografia, a trajetória que vai do antigo norte de Goiás até a Constituinte de 1988, com a consolidação e implantação do Tocantins, com a escolha do local de Palmas, a fundação da capital e quatro mandatos de governador. Jamais será retirado da história do país o nascimento de mais uma estrela na bandeira do Brasil. Tendo uma trajetória com tantos feitos, talvez a coisa menos importante fosse o nome, mas também não vão lhe roubar isso. É muito triste alguém recorrer aos escaninhos da Ditadura Militar”.
A declaração é do deputado estadual Eduardo Siqueira Campos, filho do ex-governador José Wilson Siqueira Campos, 93 anos, ao comentar a reportagem do site Momento Político Tocantins que revela a existência de um dossiê secreto elaborado pela Ditadura Militar levantando suspeita até sobre o próprio nome do próprio pai, então deputado federal pelo estado de Goiás.
A HISTÓRIA
Eduardo conta que seu pai sofreu muitas perseguições e teve a vida vasculhada pela Ditadura Militar, que não encontrou nada contra ele.
Na época, Siqueira foi acusado até de ser comunista e de ter relações diretas com Cuba. “Meu pai trabalhou como office-boy com Luís Carlos Prestes no Rio de Janeiro. Era pobre e trabalhou por necessidade. Daí a Ditadura foi atrás disso. Ele não era esquerda nem direita, era reformista”, conta Eduardo.
PRISÃO EM COLINAS
O deputado disse que em 1968, Siqueira foi preso e passou mais de 20 dias desaparecido. Na época, ele era vereador em Colinas. “Benedito Ferreira o denunciou ao Exército dizendo que ele tinha uma cooperativa e rádios que falavam com Cuba e que poderia estar dando apoio ao movimento guerrilheiro. Eu tinha 9 anos de idade, chorei muito. Ele foi alvo da mais dura investigação. A soltura foi o embrião para a campanha de deputado federal em 1970. Foi a primeira campanha com televisão. Ele começou com a cadeira virada para a câmera e dizendo: ‘o norte de Goiás está abandonado à proporia sorte. Inicia aqui uma luta pela criação e libertação do estado do Tocantins’. Daí vira a cadeira de frente e diz: ‘Eu sou Siqueira Campos’. Foi eleito com 36 mil votos, o 3º mais votado”, relata.
PERSEGUIÇÃO COMO DEPUTADO FEDERAL
Eduardo Siqueira conta que a investigação da Ditadura Militar contra seu pai foi motivada pelo enfrentamento aos coronéis da época.
“Meu pai desafiou o Coronel Jarbas Passarinho numa convenção da Arena em 1972. Isso repercutiu no Brasil e ele ganhou um perseguidor implacável. Então, Filinto Müller colocou o nome dele na lista de parlamentares de esquerda que seriam cassados. Na época, saiu uma manchete no Correio Braziliense dando a entender que seria ‘um falso Siqueira Campos’. Vasculharam a vida dele e o inocentaram”, conta ao dizer que Siqueira tinha um único amigo, o General Dióscoro do Vale.
“Em 1973, Filinto Müller entrou em um avião, do Rio para Paris, que caiu na pista e ele morreu. Então Siqueira sai da lista de cassação e se reelege em 1974 com uma música que defendia a legalização das terras rurais e já falava sobre o Tocantins. Aquela eleição ficou marcada por 14 vitórias que abalaram o país [nascimento de várias lideranças políticas]. Daí a Ditadura faz outra intervenção no Legislativo e cria a figura do senador biônico. Benedito [Boa Sorte] deixa de concorrer à reeleição e fora indicado senador biônico, pois tinha muita força na Ditadura”.
Em 1978, conforme Eduardo Siqueira, a Ditadura escolheu Irapuan Costa Júnior como governador de Goiás e ele teria o mais perseguidor.
“Eu cheguei a ser preso em uma base da Aeronáutica em Porto Nacional pela polícia do Irapuan. Aos 17 anos, tive as mãos amarradas e fui conduzido até um banco para esperar a viatura chegar. Os militares da Aeronáutica interviram e fui solto. A manchete no Jornal 5 de Março foi: ‘Polícia de Irapuan prende filho de Siqueira Campos’”, relata.
Na época, Siqueira Campos tinha o apoio de 32 prefeitos, mas acabou ficando com apenas quatro e sua votação caiu de 74 mil votos para apenas 28 mil, ficando como primeiro suplente.
Antes da posse, um dos deputados federais eleitos morreu em uma queda de avião e Siqueira Campos assumiu a cadeira para o desespero do então governador Irapuan Costa Júnior.
A perseguição contra Siqueira só terminou quando a ditadura nomeou Ary Valadão como governador [1979 a 1982]. Então Siqueira foi reeleito em 1982 como um dos mais votados, com 62 mil votos.
Nessa legislatura foram apresentados dois projetos de criação do Tocantins, um por Siqueira (rejeitado) e outro por Benedito Boa Sorte, aprovado, mas vetado pelo então presidente José Sarney.
Siqueira Campos então decidiu fazer greve de fome, e Sarney sinalizou que o projeto poderia ser apresentado na Assembleia Nacional Constituinte que seria convocada em 1988.
Em 1986, Siqueira foi reeleito novamente como deputado federal e assumiu a presidência nacional do PDC, o que lhe garantiu a condição de líder da sigla durante a Constituinte, e apresentou a emenda que consagrou sua maior luta, a criação do Tocantins.
Com a criação do estado em 5 de outubro de 1988, as eleições foram marcadas para 15 de novembro, ou seja, cerca de 40 dias depois. O mandato era de 2 anos.
No pleito, Siqueira Campos derrotou José dos Santos Freire e tomou posse em 1º de janeiro de 1889 em Miracema, e em 20 de maio do mesmo ano, lançou a pedra fundamental de Palmas. Em 1º de janeiro do ano seguinte já transferiu a capital para Palmas. Siqueira foi eleito governador outras três vezes.
“Quem tentar mudar o nome de Siqueira, vamos supor que fosse uma fraude, mas a história não é, a biografia não é, as obras também não. Ele é Siqueira Campos sim, mas se não fosse, o orgulho seria o mesmo. Não sou filho de uma fraude, mas de uma história riquíssima e ninguém tira isso do meu pai. Se não vão lhe roubar a criação de Palmas, do Tocantins, não será o nome que vão roubar”, finalizou Eduardo Siqueira Campos.
Fonte: AF Noticias