Codevasf tem obra parada e asfalto ‘movediço’ no norte do Tocantins, aponta Folha de SP
Queridinha dos políticos, a Codevasf estaria realizando licitações afrouxadas para pavimentação asfáltica visando escoar emendas parlamentares no governo Bolsonaro, resultando em obras precárias, paralisadas e superfaturadas. É o que mostra uma reportagem da Folha de S.Paulo.
A estatal federal se transformou num dos principais instrumentos para escoar o volume recorde de emendas parlamentares, distribuídas a deputados e senadores com base em critérios políticos e que dão sustentação ao governo no Congresso Nacional.
Conforme a reportagem, esse fluxo de verbas e obras ocorre por meio de uma manobra licitatória que deixa em segundo plano o planejamento, a qualidade e a fiscalização, abrindo margem para serviços precários, desvios, superfaturamentos e corrupção.
A região norte do estado do Tocantins, conhecida como Bico do Papagaio, foi destinatária de contratos de pelo menos R$ 11 milhões da Codevasf para pavimentação asfáltica.
No município de Araguatins (a 620 km de Palmas), as obras de pavimentação contêm trechos tão precários que expõem os motoristas ao risco de acidente. Os moradores relatam que o pavimento aplicado há poucos meses amolece e afunda nos dias de muito calor.
Em um trecho asfaltado pela empreiteira Construservice, os moradores reclamam que o pavimento amolecido faz com que muitos motociclistas caiam no chão ao estacionarem seus veículos, uma vez que os pés das motos entram no asfalto, e eles perdem o equilíbrio.
A comerciante Francielle Rodrigues, 30 anos, que vende salgados na via asfaltada pela Codevasf, conta que nos dias de altas temperaturas é comum ter que ajudar clientes a se levantarem quando eles resolvem parar suas motos próximas a sua mesa de quitutes.
“Esse asfalto não tem quatro meses e até hoje derruba moto. Quando esquenta ele amolece, e o pé da moto afunda”, diz.
Em razão dessa situação é possível ver pequenos furos ao longo das margens do asfalto em várias ruas, como se uma máquina tivesse picotado o pavimento em suas bordas.
“Quando passa caminhão pesado também afunda. Parece que o asfalto não endureceu direito”, diz o mecânico Gustavo Silva Rocha, 31.
Também no Bico do Papagaio, no município de Sítio Novo do Tocantins (627 km de Palmas), há contratos de pavimentação do tipo bloquetes de concreto também a cargo da Construservice.
Os moradores do povoado de Macaúba reclamam que a obra na via de acesso à localidade foi paralisada há mais de um mês, deixando grandes espaços entre os trechos já executados.
A estrada passa em frente à propriedade rural onde vive o vaqueiro Ronilson Rodrigues de Sá, 42 anos. “Quando chove, a água que desce da parte alta estraga os pedaços que eles já fizeram”, diz o trabalhador rural.
Em nota, a Construservice admitiu os problemas nos dois municípios do Tocantins e afirmou que eles serão resolvidos a partir de maio.
EMPREITEIRA ADMITE ASFALTAMENTO PRECÁRIO E DIZ QUE ELE SERÁ CONSERTADO
Em nota, a empreiteira Construservice reconheceu que o asfalto aplicado em Araguatins (TO) tem baixa qualidade e se comprometeu a fazer correções no pavimento.
“A Construservice está ciente do problema relatado na cidade de Araguatins (TO), tendo sido detectados pela equipe técnica e serão corrigidos com a remoção e substituição da camada de revestimento asfáltico, com previsão de reinício das atividades a partir de maio de 2022, em virtude das fortes chuvas na região”, segundo a nota.
Também em nota, a Codevasf afirmou que, após recente ação de fiscalização, a empreiteira foi formalmente comunicada sobre a necessidade de correção em parte das obras em Araguatins.
Quanto à paralisação das obras no povoado de Macaúba, em Sítio Novo do Tocantins, a Construservice também admitiu o fato, mas afirmou que a interrupção ocorreu “em virtude da impossibilidade de prosseguimento das obras de terraplanagem devido às fortes chuvas na região, fato público e notório”.
“O serviço será retomado a partir de maio de 2022, inclusive com recuperação do trecho danificado pelas fortes chuvas”, relata a empresa.
Já a Codevasf tem explicação diferente, ao declarar que a obra foi paralisada “para avaliação da composição dos bloquetes de concreto empregados pela empresa contratada, que estavam sendo fabricados com seixo rolado, um agregado comum da região”.
“A contratada apresentou ensaios e laudos relacionados à qualidade do material usado —esses laudos estão em avaliação pela Codevasf”, completou.
(As informações são da Folha de S. Paulo).
Fonte: AF Noticias