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Reorganização e dedicação marcam o retorno presencial das quadrilhas para o Arraiá da Capital

Após dois anos com apresentações individuais e divulgadas ao público somente pelas redes sociais, algumas juninas tiveram que reorganizar os grupos e buscar integrantes para completar equipes visando o retorno ao presencial. Ao mesmo tempo em que houve comemoração, já que o ‘combustível’ para o São João é a energia do público, o anúncio do 30º Arraiá da Capital em formato presencial retomou um movimento intenso de ensaios e expectativa para dançar em grupo novamente na arena.

Para dar boas vindas ao clima junino, o g1 conversou com representantes das nove quadrilhas que fazem parte do grupo especial do Arraiá da Capital. As entrevistas foram divididas em uma série de três reportagens para mostrar os desafios e como está sendo a preparação para esse retorno totalmente presencial.

O evento ocorre de quarta-feira (22) até segunda-feira (27), no estacionamento do Estádio Nilton Santos, em Palmas, e será transmitido ao vivo pelo g1. Confira como foi a preparação das juninas Fulô de Mandacaru, Cafundó do Brejo e Estrela do Sertão.

De volta ao ritmo do São João

 

Segundo o presidente da junina, João Miguel, a pandemia foi um período muito difícil e de trabalho árduo. Com a proibição de aglomerações por causa da pandemia e isolamento social, muitos jovens tomaram outros rumos.

“Os individuais dançavam nas lives, mas como não poderia dançar todo mundo, automaticamente acaba reduzindo o grupo, perdendo componentes, porque os jovens buscam alternativas para ocupar seu tempo. Uns vão para a igreja, outros tem faculdade. Alguns casaram e outros foram embora da cidade. Na junina, se convive seis, sete meses juntos, então como não teve essa convivência, atrapalhou bastante”, conta.

Mas isso mudou após o anúncio de que o 30º Arraiá da Capital. Quando os representantes souberam, precisaram organizar o grupo novamente. “Foi um corre, corre para voltar à ativa, buscar componentes. Não está sendo fácil, realmente ainda é um ano complicado e de reestruturação para os grupos juninos. Mas acho que no próximo ano será melhor”, explica o presidente.

Para ele é preciso fazer o jovem voltar a sentir o amor pelo São João como era antes da pandemia da Covid-19. Apesar desses contratempos, a expectativa para o maior evento de São João de Palmas é grande e o tema da Fulô de Mandacaru é justamente uma reflexão sobre o pós-pandemia.

“Vamos falar sobre a volta do São João, a volta à realidade da festa para o tocantinense. Nosso figurino será em um tom de bandeiras do São João para simbolizar esse retorno”, revela João.

A Fulô será a segunda a se apresentar será no domingo (26), dentro do grupo especial. “Vamos deixar o melhor para o Arraiá da Capital”.

História

A ideia da junina surgiu em 2017 entre um grupo de amigos que se juntou na região norte de Palmas, já que ensaiar para a quadrilha em Taquaralto ficava muito longe.

“Acabamos por fundar a Fulô de Mandacaru, em homenagem também à banda com o mesmo nome. E depois fomos para as competições. O primeiro ano foi muito difícil, porque é complicado montar quadrilha sem recursos, sem ajuda de ninguém. Mas conseguimos montar o grupo com algumas pessoas de igreja e outras de comunidade. Também fizemos a nossa própria roupa”, relembra o presidente.

A Fulô foi campeã do grupo iniciante em 2017, campeã do grupo de acesso em 2018 e em 2019 ficou em 4º lugar do grupo especial no Arraiá da Capital.

Casamento com forró

 

Cafundó do Brejo já conquistou 12 títulos do Arraiá — Foto: Divulgação

Cafundó do Brejo já conquistou 12 títulos do Arraiá — Foto: Divulgação

Reorganizar o grupo também fez parte do retorno da Cafundó do Brejo, a primeira junina fundada na capital e com maior número de títulos conquistados em quase 30 anos de história.

Segundo Cláudio Maranhão, presidente da Cafundó, os dois últimos anos também não foram fáceis, mas o que amenizou a situação foram os concurso individual de noivos, rainha, casal de cangaço e casal de reis. Mesmo assim alguns dos integrantes tomaram outros rumos e foi preciso dedicação para entrar no ritmo novamente.

“Muita gente que parou na pandemia descobriu o domingo, descobriu o sábado, a noite livre. No caso da Cafundó, os ensaio são todos os sábados à noite e domingo à tarde. Então as pessoas descobriram a vida social. Na junina, de janeiro a junho a gente não tem vida social”, conta.

Apesar da situação, Cláudio diz que o grupo continua grande, por ser uma quadrilha tradicional, e que 26 casais vão se revezar para dançar na arena, em que são permitidos 16 atualmente. “Tem grupo com oito, dez casais. Tem grupo que acabou, mas estamos superando aos poucos”.

Neste ano, o tema da quadrilha será a celebração da vida por meio do forró. “Vai ser a alegria de dançar o forró, o rala bucho. Vai ser um forró bem bolado com um casamento caipira. É a história de uma noiva que quer casar dentro de uma casa de forró” conta o presidente, lembrando que a presença do público faz toda a diferença quando a equipe apresenta o espetáculo.

“Essa questão do público é outro fator importante para a gente. Tiveram as apresentações individuais, mas eram só lives. Muda muito. A energia é diferente, o grito é diferente, a vontade de dançar é diferente. A gente grita de cá, as pessoas gritam de lá, então a energia vai se renovando na arena nos 25 minutos de dança. A importância do público é muito grande para a gente que é artista”, diz Cláudio.

Na reta final o grupo intensificou os ensaios e passou a ter encontros diariamente. “Tem umas coisas para ajustar, para melhorar. Tivemos uma apresentação recente e temos algumas coisas já para ajustar”.

A Cafundó foi criada em 1993, quando foi lançado o edital para o primeiro Arraiá da Capital. Claudio relembra que jovens da Paróquia São Francisco de Assis e da Escola Municipal Thiago Barbosa se juntaram para fazer a quadrilha e ganharam quase todos os títulos na época.

Conquistas

Ao longo de quase 30 anos, a quadrilha conquistou 12 títulos no Arraiá da Capital, sendo o grupo com mais vitórias. “A história do Arraiá se confunde muito com a da Cafundó. É uma história longa e com muitos jovens e um trabalho social muito grande na região sul.

Sobre títulos em competições pelo país, Claudio cita que a Cafundó já foi vice-campeã do Festival Nacional de Quadrilhas Juninas, que ocorreu em Rio Branco (AC) em 2010 e ainda em 1° lugar na modalidade ‘casal de noivos’. “Vamos fazer 30 anos em 2023 e celebrar com muito amor, se Deus quiser”, conclui.

Sem deixar ‘a peteca cair’

 

A Estrela do Sertão, quadrilha que surgiu há 26 anos na região Sul de Palmas, também enfrentou problemas durante a pandemia, mas segundo a presidente Luzirene Pinto, a equipe não ‘deixou a peteca cair’. “Esse retorno está sendo um reaprendizado, um recomeço, porque a pandemia bateu muito na gente. Sofremos muito com isso. Então as pessoas acabaram perdendo o pique, mas nós tivemos que reaprender a colocar esse espetáculo em quadra”, conta.

Integrantes da Estrela do Sertão — Foto: Instagram/ Reprodução

Integrantes da Estrela do Sertão — Foto: Instagram/ Reprodução

A representante ainda explica que além da força dos participantes que fazem o espetáculo acontecer, a junina contou com a ajuda da Fundação Cultural de Palmas e outras entidades para o retorno presencial das apresentações no Arraiá da Capital. “O grande marco disso tudo foi a nossa divulgação. A gente entrou em contato com os jovens para esse recomeço”.

Neste ano, entre casais de dançarinos e equipe de produção, cerca de 40 pessoas ajudam a montar a montar a apresentação. Sobre o tema, Luzirene explica que a junina vai falar de tempo, dinheiro e criação.

“É tudo que a gente viveu nessa pandemia. Nosso tempo é envolvido com dinheiro e nessa pandemia, para a gente sobreviver ganhar dinheiro, tivemos que nos recriar”, diz, ressaltando que as músicas e roupas vão abordar elementos desse tema.

A preparação da Estrela do Sertão começou em fevereiro. Os encontros são na Feira do Aureny I, das 19h às 23h30. A apresentação da junina no Arraiá da Capital vai abrir a arena para o grupo especial, no sábado (25).

Conforme Luzirene, nos 26 anos de participações em eventos juninos, a Estrela está no grupo especial desde 2019 e já conquistou cinco títulos do Arraiá da Capital.

Fonte: G1 Tocantins