Advogado e ex-agente prisional são presos por esquema golpista que causou prejuízos milionários
Um ex-agente prisional e um advogado foram presos em uma investigação que mira uma organização criminosa suspeita de causar prejuízos milionários no Tocantins por meio da compra e venda de máquinas agrícolas e tratores.
Na manhã desta segunda-feira (17/7), a Delegacia Especializada de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DERRFVA) cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em Palmas, em endereços de suspeitos de integrar a quadrilha que estaria praticando diversos crimes de estelionato no Estado há anos. A operação foi coordenada pelos delegados Rossilio Souza Correia e Ronan Almeida Souza.
Na casa do advogado Carlos Alexandre Batista Ferraz, a polícia apreendeu quase 450 munições, folhas de cheques utilizados para aplicar golpes, dispositivos eletrônicos de armazenamento de informações, contratos e uma série de documentos.
O advogado foi preso neste domingo (16/7), quando estava em Araguaína, e já foi transferido para a capital. O ex-agente é Thuhaarlenn Bonney Brasil Nunes de Araújo, de 32 anos. Um terceiro suspeito já havia sido preso há duas semanas. Ele foi identificado como Willian Jonathan Trevisan, de 41 anos.
Prisão
Logo nas primeiras horas da manhã, as equipes da DERFRVA, juntamente com o Grupo de Operações Táticas Especiais (GOTE), foram até um imóvel localizado na quadra 704 Sul, onde efetuaram a prisão do ex-agente prisional.
Na ocasião, os policiais civis também deram cumprimento a mandado de busca e apreensão na residência do indivíduo. “No último dia 27, na primeira fase da operação, outro indivíduo de 41 anos de idade, já havia sido preso, também em cumprimento a mandado de prisão preventiva”, disse o delegado.
Apreensões
Ao mesmo tempo, outra equipe de policiais civis sob o comando do delegado Ronan Almeida se deslocou até uma residência, localizada na quadra 304 Norte, e que pertence ao advogado Carlos Alexandre.
Durante as buscas foram localizadas e apreendidas 396 munições deflagradas de calibre 9mm, além de 50 munições intactas do mesmo calibre, uma máquina de passar cartão, um notebook, um HD, aparelhos celulares, um par de algemas, vários documentos de cartório e contratos, duas chaves de veículos, bem como 16 folhas de cheques preenchidas e possivelmente utilizadas nos golpes.
No mesmo horário, outra equipe de policiais civis, coordenada pelo delegado Rodrigo Santili, foi até uma casa localizada em Taquaralto, que pertence a Willian Trevisan, que foi preso há duas semanas, onde foi dado cumprimento a mandado de busca e apreensão.
Golpes e prejuízos milionários
Conforme apontaram as investigações, o grupo é formado por pelo menos quatro pessoas e foi responsável pela prática de dezenas de estelionatos no Tocantins, sendo que a maioria deles está relacionada à compra e venda de tratores e máquinas agrícolas com cheques sustados, sem fundos e com documentos falsos.
“Ficou evidente na investigação a presença de liame subjetivo, ou seja, a ligação existente entre esses quatro investigados, os quais vêm agindo com estabilidade e permanência há algum tempo, na prática reiterada e contumaz de diversos crimes, inclusive, se enriquecendo ilicitamente”, explica o delegado Rossilio.
No grupo destaca-se a figura do advogado, o qual é apontado sendo o mentor intelectual. Willian Trevisan seria o executor e, o ex-agente prisional atuava como uma espécie de coautor funcional e também era o encarregado de fazer as cobranças para o grupo.
Como funcionava o esquema
O grupo procurava tratores e máquinas agrícolas em anúncios ou sites de revendas no Tocantins e também em estados próximos. Após localizarem os maquinários, os membros faziam as compras pagando sempre por meio de cheques. “Posteriormente, o grupo sustava os cheques e revendia os tratores, na maioria das vezes, pela metade dos preços, sendo que o dinheiro era dividido integralmente entre o advogado e os demais integrantes da organização criminosa”, ressalta o delegado Rossilio. O restante era passado para o terceiro e um quarto coautor.
As investigações revelaram ainda que o advogado não tinha apenas uma relação entre profissional e cliente, mas sim de executor direto e mentor intelectual na prática dos delitos. Era ele que arregimentava os clientes (possíveis vendedores e compradores de tratores), pagava os fretes para buscar as máquinas agrícolas; pagava as comissões para os corretores e preenchia os cheques usados nos estelionatos.
Ele também executava judicialmente as potenciais vítimas que cometiam exercício arbitrário das próprias razões, na apreensão e retenção de seus próprios bens não pagos e expropriados ilicitamente, além de receber praticamente a metade das quantias provenientes dos crimes.
A outra função importante do advogado era de ‘blindar’ o outro integrante do grupo preso anteriormente de processos e ameaças por parte das vítimas. Após saber que as vítimas estavam atrás dos membros da organização criminosa, o advogado as procurava e começava a incomodá-la com ameaças de processos judiciais.
Longo histórico de crimes
Restou apurado ainda que o investigado preso há duas semanas vem aplicando golpes na praça há anos, das mais várias formas, sendo os principais: compra de tratores e máquinas agrícolas, usando documentos falsos e cheques fundos e sustados; estelionato eletrônico, por meio de simulação de Pix falso; estelionato na compra de gado e arrendamento de fazendas; estelionatos na compra de imóveis, com comprovantes de pagamentos de boletos falsificados, dentre outros crimes
Os últimos crimes praticados pelo homem ocorreram entre os meses de fevereiro e maio de 2023, quando ele efetuou uma compra de um trator, no valor de R$ 780 mil, em uma concessionária de Palmas. Para concluir a transação comercial foi feito uso de documentos falsos e conversa enganosa.
Ele também comprou um trator e uma máquina agrícola nas cidades de Dois Irmãos e Lagoa da Confusão, com a utilização de cheques sustados, causando prejuízo no valor de R$ 480 mil. Além desses, recentemente também foi comprado pelo grupo tratores nas cidades de Aliança do Tocantins, Natividade e Novo Acordo, sempre usando cheques sustados.
Encaminhamentos
Os três investigados presos foram indiciados pelos crimes de estelionato eletrônico; estelionato qualificado na forma continuada, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Após a realização dos procedimentos legais cabíveis, o ex-agente prisional foi recolhido à Unidade Penal de Palmas, onde se juntará ao primeiro preso na operação. Ambos permanecerão à disposição do Poder Judiciário.
“A operação foi extremamente exitosa, até porque foram apreendidos vários documentos e demais itens que vão corroborar nossa investigação, bem como vários contratos que podem demonstrar a existência de outras vítimas, de outras negociações fraudulentas envolvendo outros maquinários agrícolas dos quais ainda não tínhamos conhecimento, além de grande quantidade de cheques que podem confirmar as ações fraudulentas realizadas pelo grupo e subsidiar os elementos já produzidos no processo”, pontuou o delegado.
Além das equipes da DERRFVA e do GOTE, a operação também contou com o apoio de policiais civis da Diretoria de Polícia da Capital (DPC), 1ª e 3ª Delegacias de Polícia Civil, além da Delegacia Especializada de Polícia Interestadual, Capturas e Desaparecidos (Polinter).