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‘A vida invisível’ é drama de época para partir o coração e pensar no presente; G1 já viu

Dá para chamar “A vida invisível” de “drama de época”, mas com ênfase maior na primeira palavra dessa definição. É drama que não acaba mais, daqueles de ouvir soluços na sala de cinema. Mas retrata a época dos anos 1950 com liberdade: os diálogos parecem atuais e o tema feminino bate forte em 2019.

O diretor Karim Aïnouz (de “O Céu de Suely” e “Praia do Futuro”) faz um trabalho cuidadoso em um melodrama assumido. A história é do desencontro de duas irmãs: Carol Duarte e Fernanda Montenegro dividem o papel da talentosa e reprimida Eurídice; Julia Stockler vive a rebelde Guida.

O filme levou o prêmio Um Certo Olhar em Cannes e foi escolhido para tentar a vaga do Brasil no Oscar. O apoio da Amazon, que comprou os direitos de distribuição, e o renome do produtor Rodrigo Teixeira são trunfos na campanha. A lista final de indicados sai no dia 10 de janeiro.

Assista ao trailer de "A vida invisível"

Assista ao trailer de “A vida invisível”

A direção de arte e as atuações podem te fazer esquecer que a história se passa há 60 anos. As cores são fortes, de um Rio de Janeiro vivo e cheio de verde, em contraste com as mulheres que lutam para continuar a ver alguma luz ali.

As irmãs falam dentro de casa como se fossem millenials cheias de sonhos. Não chega a ser um “Maria Antonieta” de Sofia Coppola, em que a rainha tem tênis All Star. Mas também passa longe da pompa que um filme do tipo poderia ter.

Não é um caso de falha de ambientação, mas de uma escolha por misturar os tempos – o que faz mais sentido quando a história chega à Eurídice dos dias atuais de Fernanda Montenegro.

Karim Aïnouz e elenco falam sobre 'A vida invisível'

Karim Aïnouz e elenco falam sobre ‘A vida invisível’

Mas o período atual é curto – Fernanda tem presença importante, mas com pouco tempo de tela. Quase tudo se passa em um mundo antes da revolução cultural dos anos 1960. A afirmação feminista que viria anos depois ainda era um desejo difuso das irmãs.

Gregório Duviver vai bem como Antenor, o marido que era ao mesmo tempo inseguro e controlador.

Em resumo, as duas passam o tempo todo sofrendo por causa de homem – e não tem nada a ver com sofrimento romântico. A violência sexual e psicológica dentro de um casamento visto como normal é revelada com o teor de tragédia que o tema requer, ainda mais no Brasil.

Karim Ainuz fala de campanha para vaga no Oscar

Karim Ainuz fala de campanha para vaga no Oscar

A trama baseada em um romance de Martha Batalha, “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, é bem particular, cheia de lances de azar e sofrimentos interlaçados. É um grande melodrama, no bom sentido.

Julia Stockler e Carol Duarte têm uma química notável para uma história de desencontros. A dupla já garantiria o suficiente para sair satisfeito – e chorando – da sala de cinema. Mas aí chega a parte de Fernanda Montenegro para turbinar o drama.

Fernanda Montenegro em cena do filme 'A vida invisível de Eurídice Gusmão', do diretor Karim Aïnouz — Foto: Divulgação/Bruno MachadoFernanda Montenegro em cena do filme 'A vida invisível de Eurídice Gusmão', do diretor Karim Aïnouz — Foto: Divulgação/Bruno Machado

Fernanda Montenegro em cena do filme ‘A vida invisível de Eurídice Gusmão’, do diretor Karim Aïnouz — Foto: Divulgação/Bruno Machado

São as cenas mais emocionantes envolvendo Fernanda Montenegro e cartas desde “Central do Brasil” (1998). A campanha pela indicação também tenta uma vaga para ela como atriz coadjuvante, o que corrigiria a injustiça de ter perdido para Gwyneth Paltrow há 20 anos.

Pena que, apesar da chance de indicação, a estatueta na categoria de filme internacional é improvável. Ele sai no mesmo ano do sul-coreano “Parasita”, cotado até na categoria principal – azar semelhante ao de “Central do Brasil” no ano de “A vida é bela”. Premiado ou não, é um dos filmes do ano.

Campanha do Brasil no Oscar com 'A vida invisível' — Foto: Arte G1Campanha do Brasil no Oscar com 'A vida invisível' — Foto: Arte G1

Campanha do Brasil no Oscar com ‘A vida invisível’ — Foto: Arte G1

Fonte: G1 – Pop & Arte