Antes de morrer, mulher envia áudios a amiga relatando ataque de ciúmes do ex-marido e medo: ‘É capaz de fazer besteira’
Em áudios enviados para uma amiga dias antes de ser assassinada, Jarenes Ribeiro da Cruz, de 38 anos, relatou ataque de ciúmes e fúria do ex-marido. Disse ainda que estava com medo após a separação: ‘O cara quando está apaixonado é capaz de fazer besteira’. A mulher foi encontrada morta no sábado (19) e enterrada nesta segunda-feira (21). O homem, com quem a vítima viveu por 18 anos, é o principal suspeito do crime.
Em uma das mensagens enviada no dia 18 de agosto, Jarenes contou como o ex quebrou o celular dela durante um ataque de ciúmes.
“Deixa eu te contar como foi a quebra desse celular. Você acredita que meu marido tacou o meu celular novinho, tinha nem um ano de uso, dei quase R$ 2 mil nele, no chão, acabou com meu celular. Perdi meus arquivos tudo. Os números que estavam gravados no chip, eu consegui recuperar, coloquei nesse celular velho. Estou usando esse escondido, todo trincado, todo acabado. [….] Ciumando”, relatou Jarenes.
A vítima desapareceu no dia 10 deste mês. Em depoimento à Polícia Civil, o ex-marido teria dito que matou a mulher por estrangulamento, pois teria descoberto que ela tinha recentemente iniciado um novo relacionamento, segundo apontam as investigações. Depois de matá-la, ele teria enterrado o corpo no Projeto de Assentamento Caracol 2.
O casamento durou 18 anos. Há menos de um mês, Jarlenes decidiu se divorciar. Em outro áudio enviado no dia 29 de agosto para a mesma pessoa, a vítima disse que o ex-marido estava arrasado por causa da separação.
“Pensa num homem que está abalado. Esse homem tem uma semana que não come, só chora, esse homem implorou, ficou de joelhos. Esse homem fez de tudo o que você pensar, nunca imaginei. Disse que não desistiu de mim. Eu fechei o coração, disse que não dava mais e saí. Não sei como vai ficar minha vida, só Deus sabe”.
Em outra mensagem também enviada no dia 29, ela relata medo do ex-marido após a separação.
“Ele veio aqui, falou um monte de coisa, chorou, foi bagaço. Saiu bravo, disse que só vai sair de casa se for picado. Amiga, fiquei com medo, misericórdia. É tanta coisa que ele apronta. O cara quando está apaixonado é capaz de fazer besteira”.
A amiga para quem Jarlenes mandou mensagem preferiu não se identificar. Ela disse que o relacionamento do casal era abusivo, com agressões por parte do suspeito.
“Ela falava que ele era agressivo com ela, ele era ciumento demais. Ele era possessivo, ninguém presenciava, nem a família acreditava porque ele demonstrava ser uma pessoa boa. Só as amigas mais íntimas sabiam o que ela passava”, disse.
Jarlene era funcionária de uma escola em Formoso do Araguaia e fazia pedagogia em Gurupi. No dia em que desapareceu disse que iria para casa estudar e fazer algumas atividades do curso. Depois disso, a amiga não conseguiu mais falar com ela.
“Mandei mensagem para ela e nada. Fui no messenger e perguntei para a filha dela, e ela falou: ‘Conversei com minha mãe hoje [dia 10], ela me falou que ia embora para o Mato Grosso com uma pessoa, que iria trocar de chip e que depois iria me falar o número novo’. Eu achei estranha essa mensagem, já fiquei preocupada. Se ela fosse, ela me falaria, era minha amiga íntima”.
Entenda
Jarenes Ribeiro da Cruz estava desaparecida desde o dia 10 deste mês. Apesar de o ex-marido ter participado das buscas pelo paradeiro dela, os investigadores encontraram inconsistências nos relatos e nas versões dele.
Buscas foram feitas perto da casa dela e por todo município. Nesse período, o ex-marido esteve na região e negou os fatos. Mas, de acordo com a polícia, ele entrou em contato com outras pessoas repassando informações falsas para desviar o foco das investigações.
Com ajuda da Divisão Especializada de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), a polícia conseguiu cruzar informações do aparelho celular da mulher que estava desaparecida com os acessos do suspeito.
Com essas informações, juntamente com os relatos de testemunhas sobre ameaças e violência doméstica que a mulher sofria, a polícia confrontou o suspeito e ele confessou o feminicídio, de acordo com a polícia.
Ele foi autuado em flagrante pelo crime de ocultação de cadáver e também terá a prisão representada por feminicídio. Ele ficará preso na Casa de Prisão Provisória em Gurupi por 14 dias, cumprindo o período de quarentena, após isso será transferido para a Cadeia Pública de Formoso do Araguaia, onde ficará à disposição da Justiça.
Fonte: G1 Tocantins