Aprenda a controlar as emoções na hora de comprar
Você já reparou como acreditamos ter o controle das nossas ações no dia a dia? Planejamos nossos atos e pensamos racionalizar nossas atitudes, e somos inclusive cobrados por essa postura racional e politicamente correta.
Nos últimos anos, perdemos a liberdade de falar e assumir certas opiniões; algumas brincadeiras podem, por exemplo, ser encaradas como uma provocação ou mesmo uma atitude pouco amistosa.
O tempo foi seguindo o seu próprio curso e a sociedade decidiu manter certos padrões de comportamento. A forma como tomamos nossas decisões de consumo, por exemplo, ainda hoje é idêntica (ou quase) à de décadas atrás, quando vivíamos períodos de hiperinflação e escassez de produtos, desemprego e poucas oportunidades de investimento.
Sim, é verdade que vivemos atualmente um período nebuloso, com inflação elevada (mais alta do que os números oficiais sugerem), mas não podemos comparar a crise de hoje com a situação das décadas de 80 e 90 (até 1994).
A situação está longe de ser considerada tranquila, mas existe uma realidade diferente; e mesmo alguns não querendo enxergar a realidade, todos sabem o que precisa ser feito para o país reencontrar o caminho para o crescimento sustentável.
Emoções precisam ser controladas
Existem certos momentos em que nossas emoções tomam conta de nosso pensamento e, com isso, nossas decisões acabam sendo mais espontâneas, rápidas e nada racionais. Isso soa bem anos 80, não é mesmo?
Um bom exemplo de quando isso acontece se dá na hora de comprar qualquer coisa, já que a atitude de comprar mexe bastante com as nossas emoções. Com isso, acabamos quase sempre mais do que havíamos planejado no início.
Outra coisa curiosa: sempre achamos que merecemos e podemos mais, um comportamento típico do ser humano, especialmente dos mais jovens; nós sempre agimos assim (pode perguntar para os seus pais, inclusive).
Você se sente atraído por uma promoção?
Muitas vezes, você vai a uma determina loja de roupa com o objetivo de comprar apenas uma peça, aquela da promoção. Digamos que você está atrás de um sapato social, por exemplo, já que você logo terá um casamento para prestigiar e o seu outro sapato está “velho”.
Você entra na loja, escolhe o sapato e quando está indo na direção do caixa, percebe que existe uma carteira linda, que é a sua cara, com 50% de desconto. Quando não é a carteira, é o cinto, ou as duas coisas. E a meia social? Pronto, a compra do sapato já virou a compra de muita coisa.
Você sabe que não precisa de uma carteira, já que a sua está praticamente nova, mas quem está “controlando” essa decisão não é mais a razão, mas a emoção. Seu desejo de demonstrar o quanto você é especial e merece esta carteira toma controle e você sente profunda necessidade de ser recompensado.
Esse sentimento de merecimento acaba induzindo você a ficar atraído por uma carteira com ótimo preço, ainda que comprar uma carteira não tenha sequer passado pela sua cabeça antes de sair de casa (e por muito tempo).
Você é facilmente convencido pelo vendedor?
Se existe um profissional que sabe manipular as emoções, esse alguém é o vendedor. Independente do tipo de negócio, seja uma loja de carros, roupas ou tecnologia, eles ganham a vida trabalhando o desejo das pessoas, mostrando facilidades e aguçando sua necessidade de querer sempre mais.
Assim, vendedores acabam manipulando nossas emoções de forma a colocá-las no controle das nossas decisões. Mas, atenção: isso não é uma crítica ao trabalho deles, afinal eles são profissionais treinados para isso. Nós temos que entender essa realidade e sermos mais diligentes com as nossas prioridades.
Conversando com um amigo, ele me relatou uma situação bem comum, que talvez já tenha acontecido com você. Ao ir até uma loja para comprar uma nova bateria para o seu notebook, já que a antiga apresentava problemas, ele foi abordado pelo vendedor com um discurso bastante amplo.
O vendedor mostrou uma série de produtos novos, sempre com um discurso inclinado para a venda de um novo computador (e não apenas de uma simples bateria). Argumentos como exclusividade (“notebook feito para pessoas descoladas”) e meta do dia fechada (“assim posso te dar um grande desconto”) são comuns nestes momentos.
Quando meu amigo se deu conta, ele estava com uma nota fiscal de compra de um novo computador, cujo pagamento foi parcelado em diversas vezes no cartão de crédito. Ele só queria uma bateria, mas faltou combinar isso com o seu planejamento financeiro.
Conclusão
Todos nós temos os nossos sonhos de consumo. Aliás, quem imagina que nós que trabalhamos com a educação financeira somos contra o consumo e a realização de sonhos, está redondamente enganado.
Nós sabemos o quanto o consumo é importante, inclusive para o crescimento da economia do país, afinal sem vendas (e compras) o resultado será sempre mais desemprego e quebradeira.
O que defendemos é o consumo consciente, com critério e respeito às prioridades; isso requer educação financeira. Lembre-se que existe toda uma estratégia de venda pronta para “fisgar” seu dinheiro. As cores da loja, a disposição das araras de roupas, a abordagem e o discurso do vendedor, tudo faz parte do plano para fazer você comprar.
Tenha sempre a educação financeira como sua principal aliada, respeitando seus limites de crédito e, sempre que possível, conversando mais sobre dinheiro com amigos e familiares. Até a próxima!
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Este artigo foi escrito por Ricardo Pereira.
Educador financeiro, palestrante, Sócio do Dinheirama e autor do livro “Dinheirama” (Blogbooks), trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama. No Twitter: @RicardoPereira
Este artigo apareceu originalmente no site Dinheirama.
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