Braço do rio Araguaia está praticamente seco no Tocantins e revolta moradores; vídeo
Indígenas da aldeia Boa Esperança, no município de Formoso do Araguaia (TO), estão alarmados com a seca do Rio Javaés e resolveram denunciar o problema.
Em um vídeo gravado no último sábado (28), um indígena caminha pelo leito do rio mostrando o tamanho do desastre ambiental que teria sido causado pela captação de água para irrigação de grandes lavouras da região.
“Acabou o Rio Javaés. Isso aqui é resultado do bombeamento das lavouras aqui por perto, puxando água direto. Acabou-se o Rio Javaés, as autoridades têm que tomar providências. O meio ambiente está pedindo ajuda. Já era o rio”, relata o morador da Aldeia Boa Esperança.
As imagens mostram apenas poças de água em algumas partes do rio, dando uma dimensão da gravidade do problema.
O rio Javaés, também chamado de Braço Menor do Rio Araguaia, é um curso de água que banha os estados de Goiás e do Tocantins. Ele é um braço do rio Araguaia, quando este se bifurca para formar a maior ilha fluvial do mundo, a ilha do Bananal.
Vídeo
Suspesão da Captação
A situação na região é bastante complexa, sendo inclusive alvo de ações do Ministério Público do Tocantins (MPTO) nos últimos anos.
A Promotoria Regional Ambiental da Bacia do Alto e Médio Araguaia apresentou nessa segunda-feira (30) um relatório técnico reforçando o pedido da suspensão definitiva das licenças de captação de água da bacia do rio Formoso para irrigação, devido ao constante agravamento da crise hídrica que assola a região. O pedido foi protocolado em 28 de julho, quando o nível dos rios já era crítico.
No relatório os técnicos do MPE anexaram fotos e dados coletados na estação de medição Barreira da Cruz que confirmam a situação: em 2020, o nível crítico do volume do rio (63 centímetros) foi atingido em 6 de agosto. Em 2021, esse quadro foi antecipado, sendo o mesmo volume registrado em 29 de junho.
Enquanto os rios estão secos, as imagens captadas no sobrevoo mostram que os canais de irrigação de empreendimentos rurais permanecem cheios.
Apesar do quadro histórico de problemas hídricos, também é relatado que a área de plantio irrigado cresce anualmente na região da bacia do rio Formoso. De 2008 para 2021, observou-se um aumento de 137% da área de plantio. De 2020 para 2021, o aumento foi de 4,5%.
Município
Em entrevista ao portal AF Notícias, o secretário de Meio Ambiente e Regularização Fundiária de Formoso do Araguaia, Evaldo Costa Martins, informou que a crise hídrica deste ano foi agravada devido à irregularidade das chuvas na região e em todo país.
“Esta crise hídrica, especialmente este ano, já vinha sendo apontada pelas instituições climatológicas em função principalmente de chuvas irregulares do último ano-safra. Tivemos um verão com baixa incidência de chuvas, valores abaixo da média histórica nacional, inclusive na nossa região”, explicou.
Questionado a respeito da influência da captação de água para irrigação das lavouras na região, o secretário disse que o município vem trabalhando junto aos produtores para que os mesmos monitorem suas captações e utilizem o sistema de revezamento. Ele também é engenheiro agrônomo e consultor agropecuário.
“Entendemos que os produtores, mesmo com suas licenças de captações, precisam planejar seu empreendimento de forma a não impactar negativamente os mananciais. Estamos recomendando que todos os produtores monitorem suas captações e que adotem o sistema de revezamento, permitindo que os rios reestabeleçam seus volumes. Também orientamos que utilizem variedades de ciclo curto e médio curto, possibilitando a economia de até 20 dias de irrigação, como já ficou comprovado”, afirmou.
O secretário confirmou que a situação é realmente crítica e que apesar da responsabilidade de fiscalização das captações ser de competência da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), pelo fato de o Javaés ser federal, o município tem feito a sua parte.
“Para o próximo ano, estamos planejamento unir as universidades estaduais para promovermos um grande estudo a cerca do manejo do uso da água e compreensão da dinâmica de movimentação da água nesses sistemas agrícolas. Depois disso, junto com os atores envolvidos, produzir um plano de utilização racional da água para esses sistemas, contemplando a produção e a manutenção dos ecossistemas locais”, afirmou o gestor.
Fonte: AF Noticias