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Brasil tem maior déficit nas contas externas da história

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Em um ano marcado pelos efeitos da crise financeira internacional, as transações correntes (conta que inclui a balança comercial, de serviços e rendas – ou seja, a conta das transações do Brasil com os demais países), um dos principais indicadores das contas externas brasileiras, tiveram um déficit recorde de US$ 52 bilhões, segundo números divulgados nesta quarta-feira (23) pelo Banco Central. A série histórica do BC tem início em 1947.

A piora no perfil das contas externas brasileiras aconteceu, principalmente, por conta do saldo comercial (valor das exportações menos importações), que atingiu, em 2012, o pior resultado em dez anos. No último ano, o superávit da balança comercial brasileira somou US$ 19,4 bilhões, com queda de mais de US$ 10 bilhões frente ao resultado de 2011 – quando o saldo ficou positivo em US$ 29,7 bilhões. Mas também está relacionada com os gastos de brasileiros no exterior, que bateram recorde no ano passado.

“Déficits em conta corrente são naturais em países em desenvolvimento, que precisam absorver poupança externa. O déficit cresce naturalmente porque o país está em desenvolvimento, em crescimento. Mas estamos financiado com investimentos estrangeiros diretos, o que é benigno”, declarou Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central.

Remessas de lucros e dividendos caem
O resultado das contas externas só não foi pior por conta da queda no volume de remessas de lucros e dividendos (envio de dinheiro ao exterior pelas empresas), fator que também está relacionado com a crise externa. No ano passado, as remessas ao exterior somaram US$ 24,11 bilhões, com queda de cerca de US$ 14 bilhões frente aos US$ 38,16 bilhões remetidos em 2011.

O recuo no volume das remessas de lucros e dividendos aconteceu em meio à desaceleração no nível de atividade da economia brasileira, fruto da crise financeira interancional. Com menos lucro, as empresas também remetem menos ao exterior.

Outro fator que também contribuiu para a queda no volume de remessas de lucros e dividendos no ano passado, segundo economistas, foi a alta do dólar. Com dólar mais alto, acima de R$ 2 (vigente nos últimos meses do ano passado), as empresas recebem menos recursos quando fazem a operação de câmbio. Durante a maior parte de 2011, o dólar operou próximo de R$ 1,6.

Proporção com o PIB
Apesar de o resultado das contas externas ter batido recorde em dólares, o valor, na proporção com o PIB, está longe de ser o pior da série histórica do Banco Central. No ano passado, o resultado negativo representou 2,4% do PIB, contra 2,12% do PIB em 2011.

Entre 1997 e 2011, quando foram registrados os piores resultados da conta de transações correntes na proporção com o PIB, os valores oscilaram entre resultados negativos de 3,5% e 4,19%. O resultado de 2012, na proporção com o PIB, porém, é o maior desde 2001.

“O perfil deste déficit hoje, em relação aquele período [2001], temos condições distintas. No que tange a recursos de curto prazo, como empréstimos e captações, as condições são hoje muito melhores do que naquela época, tanto em termos de taxas, custos e de prazo”, afirmou Tulio Maciel, do BC.

Investimentos estrangeiros diretos
O resultado negativo recorde de US$ 52 bilhões das contas externas, segundo números do BC, foi amplamente financiado, em 2012, pelo ingresso de investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira.

No ano passado, a entrada de investimentos no Brasil somou US$ 65 bilhões, o segundo melhor de toda a série histórica do Banco Central, perdendo apenas para o ano de 2011 (US$ 66,6 bilhões).

Quando o déficit não é “financiado” pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.

“O fluxo de investimentos estrangeiros continuou robusto ao longo do ano e veio de forma bem distribuida. O investimentos estrangeiro nem sempre se reverte de maneira imediata em ampliação de formação bruta de capital fixo [taxa de investimentos]. Parte destes recursos são usados para adquirir ativos já constituídos no país, e parte se reverte em ampliação da capacidade produtiva”, explicou o chefe do Departamento Econômico do BC.

(G1)