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Com sede em Araguaína, Eco Brasil planeja investir 1,2 bilhão em fábrica de celulose

Eco Brasil Florestas, que tem terras e florestas de eucalipto no Tocantins, e a empresa indiana Aditya Birla estão em conversas avançadas para construção de uma fábrica de celulose solúvel no país, apurou o Valor Econômico.

O investimento total no projeto, com capacidade para 1 milhão de toneladas por ano de celulose para uso na fabricação de viscose, chega a US$ 1,2 bilhão.

Segundo fontes próximas às negociações, do valor total, US$ 200 milhões devem ser investidos em novas florestas pela empresa brasileira, enquanto aos indianos caberia aplicar US$ 1 bilhão nas instalações industriais.

Mediante o aporte de florestas já existentes e a nova rodada de investimentos, a Eco Brasil deve ficar com algo entre 30% e 40% do projeto, enquanto a Aditya Birla teria participação final entre 60% e 70%. Um representante do alto comando do grupo indiano, que está entre as cinco maiores do mundo no segmento de celulose solúvel, esteve no país para se reunir com os acionistas da Eco Brasil Florestas. É possível que as bases de um acordo sejam acertadas nesse encontro. A fábrica deve entrar em operação em 2021.

Esse é o terceiro projeto de celulose solúvel em estudo ou anunciado para o Brasil em 2018, o que confirma a corrida entre os maiores participantes desse mercado para anunciar a próxima fábrica e a preferência do país entre os investidores, sobretudo por causa da disponibilidade de terras e florestas e do custo de produção competitivo da matéria-prima. Jari Celulose e Bracell, dona da Bahia Specialty Cellulose (BSC) e parte do grupo indonésio Royal Golden Eagle (RGE), já produzem esse tipo de matéria-prima localmente.

Em junho, a austríaca Lenzing e a Duratex informaram que planejam investir US$ 1 bilhão em uma fábrica de 450 mil toneladas por ano no Triângulo Mineiro. Segundo fontes do setor, o interesse da Lenzing no país é antigo e os austríacos chegaram a oferecer, sem sucesso, US$ 1,1 bilhão para comprar a fábrica da Fibria em Jacareí (SP).

Já a indonésia RGE, que no início do ano comprou a Lwarcel, pretende converter a fábrica de celulose de eucalipto de Lençóis Paulista (SP) para a produção de fibra solúvel e ampliar a até 1,5 milhão de toneladas por ano a capacidade instalada, segundo fontes do setor. Agora, o projeto de produção da Eco Brasil no Tocantins está em vias de sair do papel.

ATUAÇÃO EM ARAGUAÍNA

A Eco Brasil Florestas tem sede em Araguaína (TO) e foi constituída em 2007 com vistas a investir em plantio de eucalipto e produção de celulose.

No fim de 2013, o Valor informou que a empresa estava em busca de um sócio estrangeiro para levar adiante um projeto de US$ 2,5 bilhões para produção de 1,5 milhão de toneladas por ano de fibra de eucalipto.

Em 2016, segundo fonte da indústria, a Suzano Papel e Celulose chegou a apresentar uma proposta de compra da empresa, por R$ 800 milhões. Enquanto Zogbi e Safra defenderam a venda, a família Moritz vetou – agora, as conversas com os indianos são lideradas justamente por esse acionista.

Mas as conversas com a Suzano renderam outro negócio para Eco Brasil Florestas. A companhia dos Feffer acabou comprando 7,5 milhões de metros cúbicos de eucalipto da empresa, por cerca de R$ 400 milhões a depender do volume efetivamente contratado. A colheita deve ocorrer entre este ano e 2020.

Sediada em Mumbai, a Aditya Birla é o terceiro maior conglomerado privado da Índia, com receita anual de US$ 44,3 bilhões, operação em 36 países e atuação em diversos segmentos e setores, entre os quais cimento, química, alumínio e cobre e finanças.

O vigor do crescimento do mercado mundial de celulose solúvel também explica o interesse em novos projetos. De acordo com a consultoria RISI, a demanda desse tipo de celulose deve crescer 7% ao ano até 2020, ultrapassando 9 milhões de toneladas. Em 2017, o consumo global ficou em 7,6 milhões de toneladas. Além da aplicação em viscose, há outro grau de celulose solúvel que é usado na fabricação de medicamentos, alimentos e outras indústrias.

A celulose solúvel é comercializada com prêmio em relação aos demais tipos de fibra e, na última década, atraiu o interesse de muitos produtores que já atuavam na indústria, diante da demanda crescente de fibra de viscose pela indústria têxtil. Observando-se os últimos anúncios, a RISI calcula que 2,5 milhões de toneladas em nova capacidade deverão iniciar produção entre 2018 e 2020. A consultoria observa que alguns desses projetos correspondem a conversão de máquinas flex. O único projeto dessa lista na América Latina, por enquanto, é o da Arauco no Chile.