Corpo de Niemeyer chega ao Santos Dumont e seguirá para Brasília
O corpo de Oscar Niemeyer chegou às 12h20 desta quinta-feira (6) na Base Aérea do Terceiro Comando Aéreo Regional (Comar), no Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, de onde seguirá para Brasília, para ser velado no Palácio do Planalto. Niemeyer morreu nesta quarta (5), aos 104 anos.
Segundo a neta do arquiteto, Ana Lúcia Niemeyer, a previsão é que o avião decole às 13h e chegue na base aérea da capital federal às 14h20. De lá, o corpo segue em carro aberto do Corpo de Bombeiros até o Palácio do Planalto, onde será velado, das 16h às 20h.
Por volta das 21h, o corpo volta para o Rio, para velório no Palácio da Cidade, que só será aberto ao público a partir das 8h de sexta (7). Às 16h, ainda segundo a neta do arquiteto, haverá um ato ecumênico no mesmo local. O enterro será às 17h30, no São João Batista.
De acordo com o bisneto do arquiteto Paulo Niemeyer, que estava no Aeroporto Santos Dumont, dezesseis familiares acompanham o corpo no voo para Brasília. Ele informou ainda que outra parte da família já seguiu para Brasília em um voo das 10h e às 15h um jatinho levará outros parentes para a capital federal.
Mais cedo, amigos e familiares realizaram uma missa em homenagem ao arquiteto. A cerimônia que durou cerca de 20 minutos, foi realizada no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, pelo padre Omar Raposo. No local, a viúva de Niemeyer contou que perdeu um amigo.
“Nesse momento é muito difícil, eu posso dizer que perdi a pessoa que eu mais gostava no mundo, um amigo. Perdi tudo”, disse emocionada.
Enterro no Rio
O arquiteto, que completaria 105 anos no próximo dia 15, morreu às 21h55 desta quarta, em decorrência de infecção respiratória. Ele estava internado no Samaritano havia pouco mais de um mês. Após a morte, o corpo foi levado para ser embalsamado na Santa Casa de Misericórdia de Inhaúma, no subúrbio, de onde saiu por volta de 7h desta quinta, de volta ao hospital.
Horas após a confirmação da morte de Niemeyer, o prefeito foi ao hospital para cumprimentar os parentes do arquiteto. Paes disse que o último encontro com Niemeyer aconteceu há três meses.
“Perdemos um grande brasileiro. Ele acreditou até o fim nos seus ideais. Jantei com ele há três meses e ele só falava de futuro”, disse.
Luto oficial
Paes decretou luto oficial de três dias, no Rio de Janeiro, após a morte de Oscar Niemeyer. Em nota enviada, na noite de quarta-feira, ele lembrou as principais obras do aquiteto na cidade.
“Um dos maiores gênios que o Brasil deu ao mundo, Oscar Niemeyer foi mais do que um arquiteto brilhante e inovador que desafiou a lógica e contorceu as formas para criar verdadeiras obras de arte. Ele construiu marcos e deixou a sua marca na paisagem e na história de nosso país. Carioca, ele tinha com o Rio de Janeiro uma relação especial – Niemeyer deu à Cidade Maravilhosa o templo da folia, onde a maior de todas as festas acontece”, diz a nota.
“Como prefeito do Rio, apaixonado por Carnaval e admirador do trabalho de Niemeyer, sinto-me honrado por a cidade ter concluído o projeto original do Sambódromo e, com isso, ter podido realizar o que o próprio mestre chamou de um sonho antigo. O Brasil e o mundo perderam hoje um homem que dedicou toda a sua vida a produzir beleza. Mas o que ele criou ficará entre nós como a lembrança de um grande carioca que fez a diferença”, concluiu o prefeito em seu comunicado.
Novos projetos
O médico Fernando Gjorup disse, na noite de quarta-feira, que Oscar Niemeyer conversou com a equipe médica sobre a vontade de realizar novos projetos, mesmo aos 104 anos.
Segundo Gjorup, o arquiteto só perdeu a consciência, pela manhã, após ser sedado. O médico, que cuidou dele por 15 anos, revela que Niemeyer pouco falava sobre a saúde.
“Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre novos projetos. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a fragilidade de um senhor de 104 anos”, disse Gjorup, que cuidou do arquiteto nos últimos 15 anos.
Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos últimos dois dias. Cerca de 10 parentes estavam na Unidade Coronariana do hospital, quando Niemeyer morreu.
O arquiteto era submetido a hemodiálise e seu estado imunológico já era deficiente.
Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. A última foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano, seis dias depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou internado por duas semanas.
Em maio, Niemeyer também esteve internado no mesmo hospital, quando deu entrada com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem pela UTI, recebeu alta.
Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de uma infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a retirada da vesícula e de um tumor no intestino.
Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.
Em 2009, o arquiteto ficou internado por 24 dias no Samaritano, entre setembro e outubro, após dores abdominais. Ele chegou a passar por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.
Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.
Em 2006, o arquiteto chegou a ficar 11 dias internado, após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.
Filha do arquiteto morreu em junho
A designer Anna Maria Niemeyer, única filha de Oscar Niemeyer, morreu aos 82 anos, em consequência de um enfisema pulmonar, em 6 de junho.
Segundo o administrador Carlos Oscar Niemeyer, filho de Anna, o avô esteve pela última vez com sua mãe, três dias antes, durante uma visita ao Hospital Samaritano, onde Anna Maria ficou mais de 40 dias internada.
Ainda de acordo com Carlos Oscar, durante o tratamento, Anna chegou a receber alta, mas voltou a ser internada no dia 1º de junho. Ela teve cinco filhos,13 netos e quatro bisnetos.
Carlos Oscar contou que sua mãe e o avô eram muito próximos e costumavam se falar todos os dias. Ele disse que Niemeyer ficou muito abalado ao receber a notícia da morte da única filha.
“O pai receber a notícia da morte de um filho é uma coisa extremamente difícil, imagina para um pai de 104 anos, a situação é ainda mais complicada”, comentou Carlos, durante o sepultamento de Anna Maria Niemeyer.
Oscar Niemeyer manifestou vontade de ir ao enterro da filha no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas, de acordo com os parentes, ele não compareceu após os médicos avaliarem que as condições de saúde do arquiteto não eram favoráveis.
Visita à Passarela do Samba
Em fevereiro, Niemeyer fez uma visita ao Sambódromo, durante a fase final das obras de reforma da Passarela do Samba que mantiveram o traçado original que o arquiteto projetou há 30 anos. Ele enfrentou o sol forte de meio-dia e percorreu num carrinho aberto toda a extensão da Avenida.
“Está muito bom. Melhorou muito. Este não é um trabalho só meu, é o trabalho de um grupo. Estou entusiasmado”, disse Niemeyer, na ocasião.
O projeto de Niemeyer previa um equilíbrio entre os dois lados da Sapucaí, como se fosse um espelho. Com a obra, a Sapucaí passou a ter 12.500 lugares a mais, podendo acomodar 72.500 pessoas.
Trabalho em ateliê para festejar 104 anos
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Em agosto de 2011, ele lançou o livro “As igrejas de Oscar Niemeyer” (Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.
Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16 obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua carreira.
“As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer um mundo melhor”, explicou Niemeyer, na ocasião.
(G1)