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Dólar opera instável após leilão extra do BC

O dólar opera instável na tarde desta terça-feira (27) depois de atingir R$ 4,19 após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dizer que a recente desvalorização da taxa de câmbio está dentro do padrão normal e da realização de um leilão adicional de dólares à vista. O mercado também continua acompanhando os desdobramentos da guerra comercial.

Às 15h, a moeda norte-americana tinha alta de 0,11%, vendida a R$ 4,1413. Na máxima até agora, chegou a ser vendida a R$ 4,1923, a maior cotação do ano durante os negócios. Mas a moeda perdeu força após o BC anunciar leilão adicional de dólares à vista, com taxa de corte de R$ 4,1250. O volume de dólares ofertado não foi informado. Na mínima do dia, a cotação foi a R$ 4,1211. Veja mais cotações.

No pregão da véspera, o dólar fechou em alta de 0,29%, a R$ 4,1369.

Leilão extra não evita avanço

A realização de um leilão extra de venda de dólares à vista, sem divulgação prévia, foi entendida pelos agentes como uma reação do Banco Central à proximidade da moeda dos EUA do patamar de R$ 4,20, rondando nova máxima histórica.

“O Banco Central está usando reserva, está jogando dólares no mercado e está trazendo os players para jogar junto”, disse ao G1 o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

Mais cedo, o BC já havia vendido US$ 550 milhões no mercado à vista, mas a operação estava associada a uma venda de mesmo montante em swaps cambiais reversos. Essa oferta começou na última quarta-feira (21) e será feita diariamente até a próxima quinta-feira (29).

Procurado pelo G1, o Banco Central não informou até o momento o valor de dólares vendidos no leilão extra. Segundo o BC, a última operação deste tipo foi feita em 3 de fevereiro de 2019. Na prática, o leilão realizado nesta tarde representa uma “queima de reservas”.

Pela manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, que apesar da “desvalorização um pouquinho acima” dos últimos dias, o dólar “está bem dentro do padrão normal”. A fala foi entendida por analistas como um sinal de que o BC poderia não atuar de forma adicional para conter a depreciação do real, o que acabou levando a moeda a bater R$ 4,19.

“Ele (Roberto Campos Neto) fez o mercado piorar com isso”, disse um gestor à Reuters.

‘Queda de braço’ entre BC e mercado

Nos últimos dias, cresceu o coro de analistas que questionam a postura conservadora do BC no câmbio, percepção que, segundo operadores, tem ampliado a alta dólar, motivada originalmente pela incerteza externa.

“O dólar lá fora chegou até a abrir negativo hoje, mas nada justifica a desvalorização do real nesse volume. O que assusta um pouco é que essa resposta do mercado de câmbio está vindo de dentro. Não é fluxo cambial ou ataque especulativo lá de fora. Estamos sofrendo um fogo amigo, digamos assim”, afirma Vieira.

O dólar tem sido usado como hedge por agentes de mercado após o diferencial de juros entre o Brasil e o mundo cair a mínimas recordes. Com isso, o custo de se manter comprado na divisa diminuiu.

“O real está se aproximando de seu próprio ponto de quebra. Esperamos altas para acima das máximas recentes, o que abriria espaço para uma aceleração (da valorização) a partir de agora”, disse à Reuters Mark Newton, analista técnico da Newton Advisors.

Na cena doméstica, permaneciam no radar as questões políticas envolvendo os ruídos sobre a falta de controle do governo do desmatamento na Floresta Amazônica, com o presidente Jair Bolsonaro se reunindo nesta terça-feira com governadores da Amazônia Legal e outros membros do governo.

Além dos ruídos políticos no Brasil, analistas aguardam sinais do BC sobre rolagens de US$ 3,8 bilhões em linhas com compromisso de recompra, recursos que devem deixar o mercado no começo de setembro.

Guerra comercial

O mercado também continua acompanhando os desdobramentos da guerra comercial. As opiniões dos analistas sobre o clima em torno das negociações comerciais entre Estados Unidos e China eram mistas, com alguns demonstrando expectativas de uma resolução iminente, e outros reticentes depois que uma autoridade chinesa disse que não soube de nenhum telefonema entre os dois lados.

“Há um certo apetite ao risco, mas o mercado de moedas em geral está meio de lado. Não temos nada de novo. Talvez tenhamos chegado ao ponto máximo das tensões e agora estamos sujeitos a quaisquer declarações de ambos os lados”, diz o economista sênior do Banco Haitong, Flavio Serrano.

Fonte: g1