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Doria x Pazuello: após aprovação de uso de vacinas pela Anvisa, governador de SP e ministro da Saúde trocam acusações

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou neste domingo (17), por unanimidade, o uso emergencial das vacinas Coronavac e da Universidade de Oxford contra a Covid-19.

Após a aprovação, o governo de São Paulo aplicou a primeira dose da CoronaVac em uma enfermeira de 54 anos que atua na linha de frente contra a pandemia na capital paulista. A ação foi criticada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Em coletivas quase simultâneas, Doria e Pazuello protagonizaram uma troca de farpas entre os governos federal e estadual.

‘Desacordo com a lei’

 

Pazuello afirma que vacinas começam a ser distribuídas na manhã desta segunda (18)

Pazuello afirma que vacinas começam a ser distribuídas na manhã desta segunda (18)

Em resposta ao início da vacinação em São Paulo neste domingo, o ministro Pazuello afirmou que a aplicação da primeira dose no estado está “em desacordo com a lei” por começar antes do início do Plano Nacional de Vacinação, previsto pelo para a próxima quarta-feira.

“Poderíamos num ato simbólico ou numa jogada de marketing iniciar a primeira dose em uma pessoa, mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso”, disse o ministro.

 

Pazuello disse que as 6 milhões de doses do Butantan serão distribuídas proporcionalmente aos estados a partir da segunda-feira (18). “Qualquer movimento fora desta linha está em desacordo com a lei”.

Em dezembro, o governador de São Paulo, João Doria, chegou a anunciar que a vacinação no Estado iria ocorrer em 25 de janeiro. O anúncio pressionou o governo federal a correr atrás de uma data nacional. Nos bastidores, governo de São Paulo e governo federal começaram a correr para garantir a primeira foto da vacinação no Brasil.

Na coletiva em São Paulo, Doria disse em resposta:

“Lamento, ministro Eduardo Pazuello, que o senhor, como ministro da Saúde, que deveria estar grato à Anvisa e a São Paulo, que temos uma vacina, usa o tempo para protestar contra isso. É inacreditável uma situação como essa no Brasil. Aqui lutamos pela vida, e Brasília luta pelo quê?”

 

Dimas Covas, diretor do Butantan, foi escolhido por Doria para responder ao ministro sobre a alegação de que a vacinação em SP está em “desacordo com a lei”. Ele disse que assinou e já enviou o termo pedido na reunião da Anvisa e que, por isso, não houve nenhuma irregularidade.

“Eu respeito muito o general Pazuello, mas, como todo general, como todo soldado, ele foi preparado a vida inteira para matar, lutar”, disse Dimas, complementando que ele age “ao contrário de quem trabalha na saúde”. “A gente foi preparado para salvar vidas”.

'O general Pazuello foi preparado a vida inteira para matar', afirma Dimas Covas

‘O general Pazuello foi preparado a vida inteira para matar’, afirma Dimas Covas

‘Questão jurídica’

 

Ainda sobre a primeira dose da vacinação contra a Covid-19 ter sido aplicada em São Paulo, Pazuello afirmou que todas as vacinas da Coronavac são do governo federal e que a questão vai para a a Justiça.

“Todas as vacinas produzidas pelo Butantan estão contratadas de forma integral e de forma exclusiva para o Ministério da Saúde e para o PNI, todas, inclusive essa que foi aplicada agora. Isso é uma questão jurídica. Não vou responder agora, porque a Justiça que tem que definir”, continuou o general.

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No dia 7, o Ministério da Saúde informou a assinatura de um contrato com o Instituto Butantan para o fornecimento de 100 milhões de doses contra a Covid-19 — 46 milhões até abril e outras 54 milhões de doses até o fim do ano.

Na ocasião, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, disse que o contrato fechado foi para a compra de 46 milhões de doses e a opção de compra de outras 54 milhões de doses. Com isso, a compra do total das 100 milhões de doses, segundo Franco, ainda não seria oficializada porque o Ministério da Saúde não tinha orçamento suficiente para a aquisição total.

Na coletiva em São Paulo, a procuradora-geral do estado, Lia Porto, garantiu que o início da vacinação no estado está de acordo com a lei.

‘Vitória da ciência’

 

Doria disse que este domingo será lembrado como o “dia da vida”. “Hoje é o dia V: dia da verdade, dia da vitória, o dia da vida”, disse Doria aos jornalistas.

Mais cedo, quando a Anvisa anunciou a autorização do uso emergencial das duas vacinas contra a Covid-19, o governador afirmou que o episódio representava uma “vitória da ciência”, uma provocação ao presidente Jair Bolsonaro, que se opôs desde o início da pandemia às medidas apontadas pelos cientistas para conter o vírus, como o uso de máscaras, o isolamento social, além de ter feito críticas às vacinas em teste.

“Dia histórico para ciência brasileira. A Anvisa acaba de aprovar por maioria o uso emergencial da Vacina do Butantan. Vitória da ciência. Vitória da vida. Vitória do Brasil. #VacinaJá”, postou Doria em uma rede social.

Disputas políticas

 

As vacinas envolvem uma disputa política entre o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro. Em outubro, o presidente chegou a dizer que o governo federal não compraria a Coronavac.

Ainda em 2020, Bolsonaro usou uma rede social para chamar o imunizante de “vacina chinesa de João Doria”. E escreveu que o povo brasileiro não seria cobaia de ninguém. E que não iria adquirir a vacina.

No começo de janeiro, porém, o Ministério da Saúde assinou um contrato com o Instituto Butantan para adquirir todas as 100 milhões de doses que o órgão produzir.

Um avião brasileiro estava previsto para decolar na sexta-feira (15) para a Índia, mas o voo foi adiado por “problemas logísticos internacionais”. O adiamento ocorreu depois que o governo indiano dizer que não poderia dar uma data para a exportação de vacinas produzidas no país.

Depois do adiamento do voo, que buscaria as duas milhões de doses, o Ministério da Saúde pediu que o Instituto Butantan entregasse todas as 6 milhões de doses da Coronavac disponíveis.

Fonte: G1 Bem Estar