Brasil

Elite paulistana recorre a poços artesianos para driblar crise hídrica

2015-785001861-2015012371107.jpg_20150123Se depender dos moradores das áreas nobres de São Paulo, a crise hídrica passará ao largo de suas casas. A nova moda nos Jardins, região com um dos metros quadrados mais caros da capital paulista, é furar poços artesianos para garantir que não falte água, pelo menos para as plantas, limpeza de pátios e lavagem de veículos. O custo de instalação começa em torno de R$ 30 mil e pode chegar a R$ 150 mil, segundo empresas especializadas, que incluem nesse valor todo o gasto com burocracia.

— Coloquei até placa na porta de casa, para evitar a patrulha dos que ficam preocupados porque estamos molhando o jardim. É água de reuso — conta o engenheiro civil Roberto Daud, de 80 anos, que pagou R$ 15 mil há dois meses para instalar um poço no fundo de casa e outros R$ 15 mil pela tubulação adicional e bomba para dispersão.

A água que brota do chão alimenta plantas, lava o pátio interno da casa e os carros do engenheiro — um Citroën, um Mercedes 350 e um Hyundai Azera. Por ser extraída de área não potável do lençol freático, a água não pode ser consumida por ele, a mulher e as duas empregadas da casa.

— Para fazer isso, são mais R$ 30 mil. Moro há 40 anos nos Jardins, já teve época em que faltou água. Mas a situação agora é violenta — diz.

DICA NO SALÃO DE BELEZA

A mãe da empresária de moda Roberta Nahas decidiu fazer um poço para enfrentar a crise hídrica e buscou indicação de mão de obra no salão de beleza, que já vinha garantindo a água por métodos próprios. Ela, porém, trocou de fornecedor e marcou a instalação para a próxima semana.

— Às vezes fico pensando se isso é um pouco de exagero. Até que ponto o lençol freático pode secar se todos resolverem fazer isso ao mesmo tempo? — indaga-se a empresária.

Roberta ainda não tem poço artesiano em casa. Sabe que essa seria uma opção para garantir, de forma um pouco mais sustentável, a sobrevivência dos pés de jabuticaba que enfeitam o jardim da mansão onde vive com o marido, dois filhos e as empregadas. Para compensar a água que jorra na árvore, determinou aos empregados que não lavem os quatro carros na garagem, nem o pátio do jardim. Ela também orientou os empregados a usarem baldes para lavar o chão.

— Vai ter uma hora em que a água não vai chegar, a notícia diária é de redução do abastecimento. Quem pode tem buscado construir poço artesiano em casa, algo que dá para fazer de imediato — diz o diretor da associação de moradores AME Jardins, João Maradei.

O maior entrave para perfurar postos na capital é a espera pela liberação de autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo, que varia de 60 a 80 dias. Mas a proliferação expressa de poços nos Jardins nos últimos dois meses mostra que, com jeito, não é necessário esperar tanto para ter um poço.

(O Globo)