Em 2016, leia mais, pense mais, viva mais
A melhor coisa que podemos fazer neste momento difícil que o país atravessa não é pular sete ondinhas, vestir roupa branca ou acreditar em alguma superstição – até a presidente Dilma Rousseff parece ter fé num certo “olho grego”, vejam só. Nada disso resolve nada. O Brasil não precisa de mandinga nem macumba. Precisa de educação, em todos os sentidos da palavra. E nada substitui a leitura. Encerro o ano, portanto, com dicas de livros que, em leituras ou releituras, fizeram diferença para mim em 2015 – alguns deles foram tema de minha coluna na revista Época. Como toda lista, ela não é exaustiva, nem tem a pretensão de escolher os melhores de nada. Faço votos apenas de que, em 2016, todos possamos ler mais para ampliar nossos conhecimentos e, dentro das nossas limitações, contribuir para melhorar a realidade.
Vida e destino, Vassili Grossman – Considerado o melhor escritor russo do século passado, Grossman foi redescoberto há pouco tempo. Sua obra-prima é talvez o primeiro registro do paralelo entre nazismo e stalinismo, da desumanidade do totalitarismo.
Enlightenment 2.0, Joseph Heath – O filósofo canadense faz um diagnóstico preciso e bem-humorado da ascensão do discurso irracional na política e propõe soluções para criar um novo Ilumismo.
Raízes do Brasil, Sérgio Barque de Holanda – Um livro curto e extremamente bem pensado sobre por que nosso país tem tanta dificuldade de mudar. Entender nossa história e a essência do nosso caráter é essencial para construirmos um futuro melhor. Esta pequena obra de Sérgio Buarque é o melhor guia nessa tarefa.
Como Proust pode mudar sua vida, Alain de Botton – O filósofo pop suíço-britânico apresenta, de modo despretensioso, a obra monumental do escritor francês. Ler Marcel Proust é trabalho para uma vida. De Botton explica por que todos devemos fazê-lo. Ou ao menos tentar.
Como ficar sozinho, Jonathan Franzen – A coleção de ensaios do escritor americano é um libelo em defesa da literatura e da ficção. Explica sua importância para salvar o que ainda nos resta de humano nestes tempos de Facebook e WhatsApp.
Sempre em movimento, Oliver Sacks – A auto-biografia do médico e escritor britânico, morto em 2015, não é apens o relato de uma vida fascinante. É uma lição única sobre como apenas a ciência é insuficiente para nos fazer encarar a morte de modo sensato.
O poder do pensamento matemático, Jordan Ellenberg – O analfabetismo em matemática em todos os níveis sociais explica a maior parte dos problemas do nosso país – talvez não só dele. Neste livro, o matemático americano encara o desafio de explicar por que conhecer matemática é fundamental para tudo.
Lost in the meritocracy, Walter Kirn – O jornalista e escritor americano conta sua história para revelar as limitações do sistema educacional americano, tão em voga por aqui. Ele explica como a seleção dos vencedores, por mais que sujeita a critérios aparentemente objetivos, continua arbitrária e abre espaço para enganadores, como ele próprio.
Swimming Studies, Leanne Shapton – A ex-nadadora e ilustradora canadense conta sua trajetória nas piscinas e revela como o hábito de nadar, transformado ao longo do tempo, definiu sua existência.
A morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstói – Considerado a novela mais perfeita jamais escrita, o relato da morte de um juiz provinciano na Rússia czarista promove em qualquer leitor uma reflexão sobre o que, afinal de contas, estamos todos fazendo aqui.
Submundo, Don DeLillo – Um jogo de beisebol e um teste nuclear em 1951 se entrelaçam para configurar uma narrativa única, escrita com vigor e paixão, que expõe as feridas e a paranoia do século XX.
Ulisses, James Joyce – Considerada difícil, a obra-prima de Joyce é perfeitamente legível. Ler Joyce é sempre uma festa. Ulisses imortalizou o dia 16 de junho de 1904, um dia tão pouco especial como qualquer outro, tão rico como qualquer outro, tão feliz quanto qualquer outro. Um dia que, como qualquer outro, ajuda a pôr tudo em perspectiva.
Feliz Ano Novo!
(OCIOSO)