Foto de enfermeiro que abraça paciente com síndrome de Down para dar oxigênio no AM viraliza e família consegue transferência
A foto de um enfermeiro que abraçou um paciente com síndrome de Down enquanto ele recebia oxigênio, no interior do Amazonas, viralizou e gerou comoção nas redes sociais. A atitude do profissional de saúde foi para tranquilizar o rapaz que, diagnosticado com Covid-19, estava com medo de colocar a máscara para aspirar o gás.
Após a repercussão da imagem, a família contou que conseguiu transferir o jovem para um leito de UTI em Manaus.
O registro foi feito no momento em que o Amazonas enfrenta um novo surto de Covid, e sofre justamente com a falta de oxigênio nos hospitais. Mais de 200 pacientes com Covid já foram levados a outros estados por conta do colapso.
A foto que viralizou foi feita em um hospital no município de Caapiranga, a 134 Km de Manaus. O paciente Emerson Junior Loureiro, de 30 anos, está em tratamento contra a Covid no local, informou ao G1 a irmã dele, Eliane Loureiro.
“Meu irmão não queria deixar colocar a máscara para receber oxigênio pois se sente incomodado. Eu tinha acabado de sair de perto dele e o enfermeiro me disse: ‘deixa que eu faço, deixa que eu cuido’. Foi quando ele abraçou o meu irmão e, só por meio desse gesto, que ele se sentiu seguro. Foi muito bom”, contou.
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O enfermeiro Raimundo Nogueira disse ao G1 que o paciente chegou à unidade com quadro de saúde instável. Para ganhar a confiança do rapaz, a única maneira que encontrou par dar oxigênio a ele por meio de uma máscara não-reinalante foi com um abraço.
“Como ele não entende, pois é um paciente especial e eu cheguei próximo dele, dei um abraço, e eu consegui ofertar oxigênio. Assim, ele percebeu que aquele oxigênio fazia parte do tratamento sim, pois até melhorou a respiração dele”, disse.
“A enfermagem é a arte de cuidar, é o compromisso pela vida, a responsabilidade com o paciente e com a saúde”, completou Raimundo.
Paciente Emerson Junior Loureiro recebe oxigênio com ajuda de enfermeiro — Foto: Arquivo pessoal
A foto foi feita na sexta-feira (23) por uma paciente, também com Covid-19, que estava na mesma ala do hospital. Ela pediu autorização da família para publicar a imagem nas redes sociais.
A família só não imaginava que a fotografia iria repercutir tanto. Foi por meio dos engajamentos das publicações que conseguiram um leito de UTI para o Emerson ser internado na capital.
“Além de publicar a foto para homenagear o enfermeiro, pois foi uma atitude muito bonita dele, foi através dessa foto que recebemos muita ajuda com recursos. Conseguimos uma vaga para ele em UTI pois no interior não tem”, disse a irmã de Emerson Júnior.
O enfermeiro contou que, há oito meses está na linha de frente do hospital de campanha do município de Caapiranga. Ele disse que nunca tinha passado por essa situação. Ele enfatizou que os profissionais da saúde se preocupam bastante com a biossegurança e, por isso, reitera o uso dos equipamentos de proteção.
“Naquele momento não tinha outra solução. Sabemos das recomendações, mas é um paciente especial que necessitava daquele gesto por meio de um abraço”, explicou.
Família consegue ajuda
A irmã do paciente disse que está há três semanas o acompanhando, após ele ter testado positivo para Covid-19. Sem recursos e com dificuldades, a foto foi um elo para a família conseguir uma vaga em leito de UTI para o paciente.
“O médico foi claro: ‘ou interna ou ele vai morrer’. Em Caapiranga não tem muito recurso. E, graças a Deus, com essa foto, deu certo”, afirmou.
A família fez uma viagem de risco, de lancha, e chegou ao município de Manacapuru nessa segunda-feira (25). Emerson chegou entubado na unidade hospitalar. O próximo passo, segundo familiares, é a internação do paciente no Hospital Delphina Aziz, em Manaus, que deve acontecer nas próximas horas.
Em Caapiranga, a família afirma que recebeu toda a assistência necessária do município e, principalmente, dos profissionais da saúde do hospital da cidade.
Outras seis pessoas da família de Emerson testaram positivo para Covid-19 — inclusive a mãe, uma idosa de 70 anos que se recupera em casa.
“Eu e minha outra irmã éramos as únicas em condições de cuidar dele. Ele é o caçula, a pedra preciosa da família toda”, disse Eliane.
Falta de oxigênio no AM
População madruga em fila de empresa de gases para reabastecer cilindros de oxigênio em Manaus — Foto: Eliana Nascimento/G1 AM
Manaus enfrenta um caos desde quando começou a faltar oxigênio nos hospitais. Os casos e mortes de Covid-19 aumentaram e, com isso, foi preciso enviar pacientes para outros estados. Familiares de pessoas internadas chegam a madrugar em filas para comprar cilindros com gás por conta própria.
De acordo com o último boletim divulgado nesta segunda-feira (25), o Amazonas registrava 250.935 casos de Covid-19. O número de mortes subiu para 7.232, com mais 86 óbitos provocados pela doença. Entre os casos confirmados de Covid-19 no Amazonas, há 1.924 pacientes internados.
Alvo de pedido de inquérito, Pazuello vai a Manaus
O Ministério Público de Contas obteve documentos que indicaram a morte de 31 pacientes por falta de oxigênio em Manaus nos dias 14 e 15 de janeiro, quando a capital atingiu o ápice da falta do insumo.
Nesses dois dias, a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus levou a cidade a um cenário de caos com recordes nos casos de Covid.
O maior número de mortes foi registrado no SPA e Policlínica Dr. José Lins. Segundo ofício assinado pela diretora da unidade, Raimunda Gomes Pinheiro, foram sete óbitos no dia 14 e quatro no dia 15. O documento informa que os pacientes estavam internados e morreram pela interrupção no fluxo de oxigênio.
Fonte: G1 Amazonas