Gestão de Kátia Abreu no Mapa foi informada sobre indícios de fraude em outubro de 2015
O portal de notícias UOL divulgou nessa quarta-feira, 22, que teve acesso a documento que mostra que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tinha indícios da existência de um esquema de fraude na fiscalização de frigoríficos no Paraná desde outubro de 2015, um ano e cinco meses antes de a Polícia Federal deflagrar a Operação Carne Fraca. Naquele período a senadora Kátia Abreu (PMDB) ainda estava à frente do ministério.
Conforme o UOL, o relatório em questão traz as conclusões de uma sindicância interna do ministério para apurar irregularidades denunciadas por Daniel Gouvêia Teixeira, pivô da Operação Carne Fraca. Foi Teixeira quem procurou a Polícia Federal com as informações que resultaram na operação deflagrada na semana passada.
Apesar dos indícios que constam do documento, o UOL ressaltou que alguns dos suspeitos de participar do esquema revelado pela PF foram mantidos em seus cargos pelo Ministério da Agricultura. Questionado sobre o assunto, o ministério disse que as informações às quais o portal teve acesso deram origem a um processo administrativo disciplinar para apurar o caso, e que esse processo ainda está em tramitação, sob sigilo.
Um ano para abrir sindicância
Segundo a sindicância, Teixeira fez uma auditoria interna junto ao frigorífico Peccin Agroindustrial Ltda., em maio de 2014, e encontrou supostas irregularidades no processamento de carnes.
Em junho de 2014, após ter denunciado o esquema a seus superiores, ele foi afastado da fiscalização do frigorífico Peccin. A decisão foi da então chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Paraná, Maria do Rócio Nascimento.
Só um ano depois, em junho de 2015, o Ministério da Agricultura instaurou uma comissão de sindicância para apurar o caso — tanto as irregularidades apontadas por Teixeira quanto as circunstâncias do seu afastamento.
Conforme o UOL, no dia 24 de setembro de 2015, uma ex-funcionária da Peccin Agroindustrial, Vanessa Letícia Charneski, prestou depoimento e disse que a ação de Teixeira junto à empresa incomodava o responsável pelo frigorífico, o empresário Adacir Antônio Peccin. Segundo a ex-funcionária, Maria do Rócio teria sido acionada pelo empresário para lidar com o caso.
“Relata a depoente [Vanessa] que o senhor Peccin chamou os funcionários e disse que daria um jeito de tirar o FFA [termo para fiscal] Daniel da fiscalização do SIF 2155 [código referente à Peccin Agroindustrial] e que a FFA Maria do Rocio teria ido a empresa com 2 outros homens e […] reviram [reviraram] nossa sala e consumiram [sumiram] com os documentos. Posterior a esta situação, disseram que eu e Joyce [Igarashi Camilo, ex-funcionária da empresa] não precisávamos mudar as coisas como o Daniel pediu. A Joyce foi demitida e uma semana depois fui eu”, diz um trecho do relatório da sindicância.