Hospital oferece ajuda para tratar menina com corpo coberto de pelos
O drama vivido pela família da menina Kemilly Vitória Pereira de Souza, 2 anos e 8 meses, que tem o corpo coberto de pelos, deve começar a ser resolvido. Após a repercussão do caso, o cirurgião pediátrico Zacharias Calil, do Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia, procurou a família e informou que a unidade conta com um equipamento, usado em casos especiais, que realiza depilação a laser.
“Eu farei a avaliação clínica dela na próxima segunda-feira (2), mas conversei com colegas que já a atenderam e realmente se trata de um caso de hipertricose. O tratamento indicado é exatamente com o laser e faremos de tudo para viabilizá-lo”, disse o médico em entrevista ao G1.
De acordo com Calil, o HMI possui o equipamento há sete anos e são tratadas crianças com doenças raras. “Já surgiram casos parecidos com o da Kemilly e fizemos o tratamento lá. O laser é seguro e pode ser usado até mesmo em recém-nascidos. Apenas fazemos as aplicações com mais cautela, para evitar lesões na pele”, destacou.
O cirurgião explicou que a depilação a laser é dolorosa e, por isso, as crianças são anestesiadas. “Tudo feito no ambiente hospitalar e com muita segurança. Um anestesista especializado atua junto ao médico. É importante ressaltar que em casos como o da garotinha, é necessário o acompanhamento com profissionais especializados, pois não é uma depilação comum como as realizadas nas clínicas de estética”, ressaltou.
Calil ressalta que o tratamento nesses casos é demorado e os resultados aparecem a longo tempo. “O caso da Kemilly é o mais grave que já tive conhecimento. Ela tem muitos pelos, até mesmo na face, e as aplicações com laser deverão ser feitas aos poucos. Isso significa que ela será submetida a uma seção por mês, durante alguns anos. Primeiro vamos iniciar e ver como ela reage. A tendência é que a quantidade de pelos reduza com o passar do tempo”, disse o médico.
Autorização do SUS
Após avaliar a menina, o cirurgião disse que o HMI irá contatar o Sistema de Regulação do Sistema Único de Saúde (SUS), para que seja autorizado o tratamento. “Farei de tudo para dar certo, pois temos a tecnologia necessária para ajudá-la”, afirmou.
O pai de Kemilly, o eletricista Antônio de Souza, 34 anos, disse que ficou entusiasmado com o interesse do HMI em ajudar, mas que vai aguardar o parecer dos médicos do Hospital das Clínicas, onde a criança passou por consulta e irá apresentar exames, para comemorar. “Primeiro, precisamos saber se ela poderá mesmo ser submetida ao laser. Caso positivo, vamos dar um jeito de permanecer em Goiânia para que ela seja tratada. Mas se tivermos que esperar que ela fique mais velha, aí voltaremos para Augustinópolis [cidade do Tocantins onde a família mora] e vamos esperar. Quero o bem dela e só farei aquilo que não ofereça riscos”, ressaltou o pai.
As passagens de volta para casa estavam compradas para a próxima sexta-feira (29), mas o eletricista terá de adiar a viagem. “Peguei uma licença do trabalho para vir com a Kemilly para cá e tenho que voltar. Mas enquanto tiver esperança de conseguir o tratamento dela vou esperar. O jeito é ir até a rodoviária e mudar a data de volta”, disse.
Os pais de Kemilly moram em Augustinópolis, no Tocantins, e buscaram ajuda na capital goiana após inúmeras consultas médicas. A mãe, a dona de casa Patrícia Batista Pereira, 22 anos, relatou em entrevista ao G1 que os exames a que a menina já foi submetida não apontaram nenhum problema de saúde e que os médicos acreditam que o problema dela seja genético. “Tenho esperança dede que desta vez descubram mesmo o que ela tem e possamos tratá-la. Isso vai nos aliviar muito.”
Preconceito
Segundo a mãe, a aparência da menina causa espanto e eles já foram hostilizados várias vezes. Com isso, evitam sair de casa. “Até o parquinho que tem nas proximidades de casa eu evito, pois as outras crianças se afastam dela e os pais também não conseguem esconder o espanto. É uma situação muito constrangedora”, lamenta.
Patrícia lembra que desde o nascimento já percebeu que os pelos cobriam todo o corpo da criança, mas que eles foram escurecendo ao longo do tempo. “Já fizemos de tudo o que se possa imaginar para tentar descobrir o que ela tem. Felizmente, a Kemilly é saudável e se desenvolve como uma criança normal. O problema mesmo é o excesso de pelo em todo o corpo. Só os pés e as mãos delas não têm”, destacou.
Ainda segundo a dona de casa, Kemilly ainda não entende de fato o que acontece com ela, mas já percebe que é diferente. “Quando ela vê outra criança fica olhando e se esconde no cantinho. Uma vez ela já me perguntou porque ela tinha tanto ‘cabelo’ e eu disse que era normal. Mas ela insistiu e pediu para que eu os arrancasse. Meu coração ficou partido”, contou Patrícia.
A menina já recebe acompanhamento psicológico na cidade onde mora, mas a mãe teme que o excesso de pelos faça com que ela cresça com traumas. “Já flagrei mais de uma vez a Kemilly tentando arrancar os pelos do braço sozinha. É claro que dói e aí ela para. Por enquanto, eu converso, o pai brinca e ela acaba se distraindo. Mas até quando? Por isso, estamos desesperadamente em busca de ajuda. Mesmo que não tenha uma cura definitiva, vamos fazer o necessário para que ela possa se sentir igual aos outros”.
(G1)