Índia a caminho da Lua
A missão em 7 tópicos
- Sonda Chandrayaan-2 foi lançada em julho
- Pouso é a parte crítica e está previsto para 17:25 (horário de Brasília)
- É a primeira missão da história a estudar um dos polos lunares
- Em abril, sonda israelense Beresheet foi destruída em acidente no pouso
- Missão indiana leva um pequeno jipe e, entre outros instrumentos, um painel para refletir raios laser disparados da Terra
- Se tudo der certo, frio de 150 graus vai inutilizar parte dos equipamentos depois de apenas um dia da Lua
- Índia já conseguiu inserir uma sonda na órbita de Marte e segue para Lua com tecnologia praticamente 100% nacional
A Índia rumo a um clube seleto
O seleto clube de nações que já conseguiram pousar na Lua está prestes a ganhar mais um integrante. No final da tarde de hoje a Índia deve pousar seu módulo de exploração lunar, após mais de uma década de preparação.
A sonda Chandrayaan-2 foi lançada da base espacial indiana em julho deste ano e deste então tem alterado sua órbita, fazendo com que ela fique cada vez mais próxima da Lua. Mês passado, sua trajetória estava tão alongada que finalmente adentrou a região no espaço onde a força gravitacional lunar supera a gravidade da Terra e desde então a sonda está presa gravitacionalmente à Lua. A partir daí o movimento é o inverso, encolher as órbitas sucessivamente até que ocorra o pouso controlado.
Essa parte do pouso é a parte crítica em que tudo acontece muito rápido e intervenções do comando levam intermináveis 2 segundos para serem processadas. Se a nave está descendo a uma velocidade de 50 km/h (o que é pouco), até que uma manobra seja iniciada a sonda já desceu quase 30 metros. Toda a sequência de pouso é automática com as manobras podendo ser corrigidas através da análise da situação pela própria sonda.
Módulo de pouso Vikram montado no alto do orbitador Chandrayann. — Foto: ISRO
Para você ter uma ideia do risco, basta lembrar que recentemente uma iniciativa israelense falhou justamente no processo de pouso. A sonda Beresheet teve uma falha no acionamento de seus foguetes quando ela ainda estava a 14 km de distância. Eles permaneceram desligados até que a sonda chegasse a 150 metros de distância da superfície. Nessa altitude os motores voltaram a funcionar, mas já era tarde demais, a Beresheet estava a 500 km/h e seus foguetes jamais conseguiriam freá-la para o pouso.
A missão da Chandrayaan-2 vem na esteira da sua antecessora que teve como missão mapear a Lua à busca de depósitos de gelo, especialmente de gelo de água. Com os mapas da Chandrayaan-1 em mãos, a segunda missão foi planejada para ir um pouco mais além. A Chandrayaan-2 é composta por três módulos, o orbitador (a Chandrayaan em si), um módulo de pouso chamado Vikran, em homenagem a um dos idealizadores do programa espacial indiano e um pequeno jipe chamado Pragyan (sabedoria em sânscrito).
O orbitador carrega a maior parte dos instrumentos científicos da missão, que inclui uma câmera para mapear a Lua em alta resolução, além de instrumentos capazes de analisar raios-X e infravermelho. Além disso, um radar vai ser usado para estudar o subsolo lunar. Outro instrumento da Chandrayaan não tem nada a ver com a Lua, mas sim com o Sol! Um equipamento capaz de monitorar as emissões de raios-X, especialmente útil durante os tempos de tempestade solar.
Já o módulo de pouso Vikram carrega instrumentos para medir a temperatura do solo a uma profundidade de 10 cm, um equipamento para medir o plasma lunar e um sismógrafo. Sim, o módulo Vikram tem um instrumento capaz de medir pequenos selenomotos (os terremotos lunares). Ainda que a Lua não possua movimentos tectônicos como a Terra, alguns abalos sísmicos foram registrados pelas missões Apollo e a missão chinesa Chang’e. Além desses instrumentos, o Vikram vai levar um painel para refletir raios laser disparados da Terra. Isso vai permitir não só medir a distância até o ponto de pouso na Lua, mas conhecer melhor os movimentos lunares que são tão sutis que são imperceptíveis sem medidas precisas.
Tecnologias das missões espaciais estão no nosso dia a dia
O jipe Pragyan por sua vez também carrega sua suíte de instrumentos: um analisador de raios-X e um disruptor laser, que irá estudar a composição química de rochas lunares. O jipe foi projetado para rodar no máximo 500 m e tem capacidade de comunicação apenas com o módulo Vikram, que irá transporta-lo durante o pouso.
Essa será a primeira missão de pouso lunar da Índia, mas também é a primeira missão da história a estudar um dos polos lunares, no caso o polo sul. Os polos são locais de difícil acesso pelas naves, por isso sempre ficou em segundo plano, mas é neles que estão os depósitos de gelo da Lua. Com a ajuda da própria Chandrayaan-1, depósitos de gelo foram encontrados em crateras nos polos da Lua em que a luz do Sol nunca consegue iluminar. Desse jeito, o gelo vindo de cometas que se chocaram com a Lua no passado ainda deve estar lá, intocado. É desse reservatório que missões futuras de colonização devem retirar a água para abastecer as bases. E é esse o interesse do mundo todo nesta missão.
O orbitador foi construído para cumprir sua missão principal em apenas um ano, mas a longevidade da missão anterior sugere que ele deve durar mais. Já os módulos de pouso e o jipinho não vão resistir a mais do que um dia lunar, que corresponde a 14 dias terrestres. Quando chegar a noite lunar, ambos vão deixar de receber luz do Sol (óbvio!) e com a escuridão vai chegar também o frio de uns 150 graus negativos. Não há eletrônica que sobreviva a isso. Para que uma missão possa durar mais do que 1 dia lunar, ela precisa usar aquecedores para passar o período de escuridão com um calorzinho que mantenha os equipamentos em estado saudável. As sondas chinesas têm aquecedores, mas a Índia não os incluiu nos seus módulos.
Por que, então, investir em uma missão tão curta?
Simples, para mostrar que o país possui desenvolvimento tecnológico suficiente para orbitar e pousar na Lua. E isso tudo com tecnologia praticamente 100% nacional. Aliás, o foguete lançador é indiano e todos os algoritmos que controlam as naves e os equipamentos foram desenvolvidos no país.
Apesar dos riscos altos, vale lembrar que a Índia conseguiu inserir uma sonda na órbita de Marte na sua primeira tentativa! E sua missão, que deveria ser de apenas 6 meses, já está em quase 5 anos!
De acordo com as últimas notícias, o pouso está previsto para acontecer às 17:25 (horário de Brasília) desta sexta feira dia 06.
Fonte: G1