Indígena conta como a vacinação nas aldeias do TO foi prejudicada por informações falsas: ‘Chegam as mais absurdas’
A pandemia do coronavírus tem afetado todo o mundo e a situação nas aldeias indígenas do Tocantins não é diferente. Apesar do grupo ter sido o primeiro público-alvo contemplado pelo plano estadual de vacinação, muitos deixaram de receber as doses. A cantora e ativista Narúbia Werreria, da etnia Karajá, da Ilha do Bananal, disse que informações falsas sobre a eficácia da vacina fazem com que muitos indígenas deixem de se vacinar.
“Nós estamos na luta pela vacinação no Tocantins. Muitos indígenas ainda não se vacinaram. São muitas fake news chegando nas aldeias e fazem com que as pessoas tenham medo de se vacinar”, disse Narúbia, que é do povo Iny.
A mulher conta que, de tanto ver e ouvir mentiras, os indígenas de diferentes povos temem ficar com sequelas após a vacina. A indígena do povo Iny conta que faltam campanhas que incentivam a imunização dentro das aldeias.
“Chegam as mais absurdas. Que é um chip implantado pela China para controlar as pessoas, chegou também que as pessoas vão virar jacaré e até que se tomar a vacina as pessoas vão morrer […] Ao invés de ter uma campanha pro-vacina, conscientizando, aqui é o contrário e o governo silencia”, contou.
O Governo do Tocantins disse que atua em parceria com os municípios e o Governo Federal para desmentir informações falsas nas aldeias. (veja a nota na íntegra no fim da reportagem)
“Também já foi falado para todos os indígenas serem vacinados, inclusive os que estão em contexto urbano, mas isso não está sendo cumprido”, conta.
“Então a pandemia nos afetou de uma forma muito forte. Nós nos sentimos, como sempre, negados na nossa própria terra. É negado o nosso direito a saúde e de termos o mínimo, que é dignidade”.
LEIA TAMBÉM
Há pouco mais de uma semana a Secretaria Estadual de Saúde informou que somente 64% dos indígenas do Tocantins foram vacinados contra a Covid-19. O plano estadual da vacinação contra o coronavírus previa imunizar quase 7.500 indígenas, porém, em mais de sete meses, menos de 5 mil foram totalmente imunizados.
Segundo o Vacinômetro, página do governo do estado que monitora os números da pandemia no Tocantins, 8.919 doses foram aplicados nesse grupo, sendo 4.928 referentes à primeira doses e 3.991 da segunda.
A SES afirma que um dos principais motivos para esse número baixo de aplicações é que muitos indígenas não foram se vacinar. A orientação é que os municípios, responsáveis pelas aplicações, façam a busca ativa desse público.
Narúbia diz que este não é o único problema e que a pandemia fez com que muitos indígenas enfrentassem problemas em várias áreas.
“Infelizmente a pandemia tem nos mostrado a negligencia governamental, e com relação aos povos indígenas é ainda pior. Nós somos o grupo mais vulnerável. Não só epidemiologicamente, mas também social e economicamente”.
Nota do Governo do Tocantins na íntegra
A Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO) informa que realiza a distribuição das doses da vacina contra à Covid-19 para cada município, incluindo aqueles que possuem população indígena. A vacinação desta população é realizada pelos municípios com o apoio do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins (DSEI/TO), que responde sobre demandas indígenas. A SES ressalta que o DSEI/TO é um órgão subordinado à Secretaria Especial de Saúde Indígena ligado diretamente ao Ministério da Saúde (MS), sendo este o responsável pela atenção à Saúde dos Indígenas no território tocantinense.
A SES em conjunto com os municípios e o Governo Federal, mantém campanhas regulares de conscientização da população sobre a vacinação, e tenta de todas as formas desmitificar as falsas informações sobre o assunto.
Fonte: G1 Tocantins