Brasil

Medo de arrastão cria “visual do desapego”

15003261Os mais recentes casos de arrastões em Guarujá (a 86 km de SP), que aconteceram em duas de suas principais praias, Enseada e Pitangueiras, e resultaram em 19 prisões, fizeram os turistas deixarem joias, celulares e outros pertences de valor em casa.

Nas duas orlas atingidas pelos roubos dois dias antes, o visual predominante era minimalista: chinelos, roupa por cima do biquíni ou da sunga, e pouco de dinheiro no bolso. Nada de carteira ou bolsa.

Nem o boné ficou de fora da lista de itens proibidos na areia. O representante comercial Michel Gardinali, 36, de Mogi Guaçu (SP), pensou dez vezes antes; e acabou deixando em casa seu modelo da marca americana Dope.

Paguei 200 paus (R$ 200) no boné, não dá para bobear

Já a recepcionista Dayane Souza, 24, de São Bernardo, só não deixou de usar a aliança de casamento. Ela e o marido, Cesar Pacco, 27, levam apenas um celular para a praia para terem registros da filha, Isabeli, 4.

Depois de ter visto o arrastão da janela de casa, o estudante José Vinicius Silva, 18, de Jaú (SP), decidiu ir à praia com óculos escuros para o ladrão. Esses são falsificados. Os de verdade, da [marca] Oakley, eu uso na piscina.

Sua namorada, Jaqueline Palma, 18, também abriu mão de levar bolsa e celular para a areia. A aliança de compromisso, de prata, também fica no apartamento.

O desapego virou questão de polícia. A gente pede para não ficar ostentando nada, para não sair com o celular na mão sem olhar para os lados, diz o soldado Rodolfo Rodrigues, que fazia patrulha na praia com outros três PMs.

Ele diz que, desde o dia 26, o policiamento conta com 400 homens a mais na cidade.

Na Enseada, o clima de desapego também predominou. O estudante Mikael Araujo, 18, passeava com seu cachorro, Polly, apenas de bermuda e chinelo. Eu tirei minha corrente, não trouxe o celular, afirma ele, que já sofreu uma tentativa de assalto no balneário no ano passado.

Os amigos Osny Alves, 27, e Julio Bernardi, 25, e suas respectivas namoradas, Camila Doricio, 23, e Jéssica Oliveira, 24, todos de Rio Claro (SP), saíram apenas com um celular, um isopor com cervejas e pouco dinheiro no bolso.

Só um faz foto e manda para os outros depois. Não dá para sair com nada. É melhor ficar indo e vindo do apartamento do que ser roubado, diz o engenheiro Bernardi.

O grupo, que viu o arrastão, pretende não voltar a Guarujá no próximo Ano-Novo. Queremos um lugar sossegado, sem medo, afirma Alves.

(Folha de SP)