Mesmo com alta do dólar, gastos no exterior batem recorde para setembro
A forte alta do dólar registrada no mês passado não impediu que os brasileiros continuassem gastando fortemente no exterior. Segundo números divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Banco Central, as despesas lá fora somaram US$ 2,38 bilhões no mês passado, novo recorde para meses de setembro.
O recorde anterior, para setembro, havia sido registrado em 2013 (US$ 2,14 bilhões em despesas no exterior). O gasto de setembro deste ano também foi o segundo maior para todos os meses, perdendo apenas para julho deste ano (US$ 2,41 bilhões). A série histórica do BC para as contas externas tem início em 1947.
Dólar dispara em setembro
O recorde de gastos de brasileiros no exterior para meses de setembro aconteceu em um mês de forte alta do dólar. No mês passado, o dólar avançou 9,33%, fechando em R$ 2,44. Foi a maior valorização mensal da moeda norte-americana desde setembro de 2011, quando o avanço foi de 18,15%, segundo a agência Reuters.
No fim do ano passado, a moeda americana estava cotada ao redor de R$ 2,34. Em janeiro e fevereiro deste ano, oscilou por volta de R$ 2,40. Em agosto deste ano, o dólar teve queda de 1,36% em relação ao fim de julho, fechando o mês passado em R$ 2,23.
O dólar mais alto encarece as passagens e os hotéis cotados em moeda estrangeira, além dos produtos comprados lá fora. Segundo analistas, entre os fatores que impulsionam as despesas de brasileiros no exterior estão o aumento da renda no Brasil e os preços mais baratos de produtos em outros países.
Especialistas lembram, porém, que as famílias planejam as viagens ao exterior com certa antecedência, de modo que a forte alta do dólar registrada no mês passado pode ter pego de surpresa parte dos viajantes (aqueles que não compraram moeda norte-americana de antemão). Também encareceu os gastos com cartões de crédito e débito no exterior.
“O dólar tem um impacto [nos gastos]. A gente sabe que essa conta é sensível à variação do dólar. É possível que um dólar mais elevado, mais caro, como o registrado no ultimo mês, venha a se refletir nos [gastos dos] próximos meses. Há uma defasagem porque as pessoas se programam com uma certa antecedência [para viajar]. Há um crescimento, mas também há uma moderação”, declarou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Alta do IOF
As despesas de brasileiros no exterior batem recordes mesmo com a adoção, no fim de 2013, de medidas para conter esses gastos. A alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – incidente nos pagamentos em moeda estrangeira feitos com cartão de débito, saques em moeda estrangeira no exterior, compras de cheques de viagem (traveller checks) e carregamento de cartões pré-pagos – foi elevada de 0,38% para 6,38% no fim do ano passado. Com isso, essas operações passaram a ter a mesma tributação dos cartões de crédito internacionais.
Acumulado do ano e histórico
Segundo os números do BC, as despesas no exterior também bateram recorde nos nove primeiros meses deste ano, quando somaram US$ 19,64 bilhões. O recorde anterior foi registrado no mesmo período de 2013, quando os gastos de brasileiros lá fora somaram US$ 18,64 bilhões.
Em 2013, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 25,3 bilhões e bateram recorde para um ano inteiro, contra US$ 22,2 bilhões nos 12 meses anteriores. Em 2011, as despesas dos nossos turistas lá fora haviam somado US$ 21,2 bilhões.
Até 1994, quando foi criado o Plano Real para conter a hiperinflação no país, os gastos de brasileiros no exterior não tinham atingido a barreira dos US$ 2 bilhões. Mas, naquele ano, quando o real foi ao equiparado ao dólar, as despesas somaram US$ 2,23 bilhões. Entre 1996 e 1998, elas oscilaram entre US$ 4 bilhões e US$ 5,7 bilhões.
Com a maxidesvalorização cambial de 1999 e o dólar ultrapassando R$ 3 em um primeiro momento, as despesas lá fora também ficaram mais caras. Os gastos voltaram a recuar e ficaram, naquele ano, próximo de US$ 3 bilhões.
As despesas de brasileiros fora do país voltaram a atingir a barreira de US$ 5 bilhões por ano apenas em 2006. Desde então, têm apresentado forte crescimento: em 2007, 2008 e 2009, atingiram, respectivamente, US$ 8,2 bilhões, US$ 10,9 bilhões e US$ 10,8 bilhões.
(G1)