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Mulheres trans e travestis revelam dramas e face do ‘mercado’ tocantinense: ‘95% dos clientes são casados’

No Tocantins, a luta diária das travestis e mulheres trans revela uma realidade marcada pela marginalização e preconceito. Confrontadas com barreiras sociais e familiares desde cedo, muitas delas são forçadas a deixar seus lares e buscar a sobrevivência nos espaços urbanos, mais precisamente no mercado informal do sexo.

Os relatos que vocês terão acesso a seguir mostram uma realidade geralmente marcada pela invisibilidade, mas que existe. No Tocantins não é diferente!

As travestis e mulheres trans do Tocantins enfrentam inúmeras dificuldades sociais e econômicas, enquanto atendem a uma demanda quase sempre oculta e frequentemente proveniente de indivíduos em posições privilegiadas na sociedade.

Ao conversar com trans e travestis, que preferem manter suas identidades preservadas, uma informação reveladora e unânime: a grande maioria dos clientes é composta por homens casados. Esse é apenas um aspecto de uma realidade complexa e marcada por estigmas e dilemas sociais.

VIOLÊNCIA E MERCADO DE TRABALHO

A história de uma travesti que mora no interior do Estado é marcada pela violência, algo também comum na comunidade. Expulsa de casa ao manifestar sua identidade de gênero, ela se viu confrontada com um sistema social excludente que a empurrou de diversas maneiras “para as margens”, como ela diz. O preconceito a impediu de conseguir emprego e a deixou sem opções além da rua.

“Um cliente empresário veio me perguntar porque eu não trabalhava formalmenteQuestionei quantas pessoas como eu estavam em alguma das empresas dele. Ele não soube responder e ainda tentou justificar que era um ambiente incompatível. Argumentou citando uma matéria de uma trans que se tornou doutora. Eu só pude observar o quanto é raro para virar notícia”, desabafa.

FETICHES SEXUAIS

Outra travesti compartilhou como muitos homens veem nesses encontros uma oportunidade de “liberar seus fetiches sexuais” e encontrar um espaço de desabafo emocional. “Ali conosco, eles se sentem livres para serem quem são, longe das hipocrisias e encenações do cotidiano. É um momento de alívio para eles”, compartilha.

Ao abordar a relação com esses clientes, ela pontua uma observação. “Se pararmos para pensar, estamos oferecendo uma forma de ajuda, não é? Naquele momento, eles desabafam, liberam emoções e retornam para casa mais leves. No meu caso, sempre com cuidado e usando proteção. Muitos homens não têm conhecimento e é nossa responsabilidade garantir relações seguras”.

Outra entrevistada reforçou o perfil predominante dos clientes nos pontos de encontro. “Podemos dizer que cerca de 95% dos homens que a gente atende são casados”, destaca. “Há representantes de todas as classes sociais. Médicos, políticos, empresários, pecuaristas… a maioria busca um papel passivo durante os encontros. Geralmente, nos fins de semana, os clientes do interior já sabem onde encontrar diversão em Palmas“, conclui.

REDE DE PROTEÇÃO

AF Notícias teve a oportunidade de entrevistar Rafa Mahare, representando a vice-presidência da Associação das Travestis e Transexuais do Tocantins (ATRATO), que explicou um pouco sobre a realidade enfrentada pela comunidade T. Ela enfatizou a importância da segurança para a população trans e travesti que está nas ruas, recomendando a criação de uma rede de proteção entre elas.

“É essencial que essas mulheres comuniquem entre si sobre clientes habituais e adotem medidas de segurança ao atender clientes desconhecidos, além de relatar agressões para evitar que outras passem por situações semelhantes”.

Rafa Mahare ressaltou ainda a necessidade de segurança sexual para pessoas trans e travestis, enfatizando o uso de preservativos e a facilidade de acesso à profilaxia pós e pré-exposição (PEP e PREP).

“É fundamental utilizar métodos de proteção, como preservativos e buscar regularmente exames de saúde para prevenir infecções sexualmente transmissíveis e o HIV/AIDS. Manter-se informado sobre métodos de prevenção e procurar assistência médica nos postos de saúde é crucial para a saúde e segurança dessa comunidade vulnerável”, disse.

Sexualidade e identidade de gênero

Existem duas coisas importantes para entender: a diferença entre sexualidade e identidade de gênero. Quando falamos em LGBT, por exemplo, as primeiras letras se referem à sexualidade. L ou G indicam pessoas que se sentem atraídas por outras do mesmo gênero, e B se refere a quem se sente atraído por ambos os gêneros.

A letra T na sigla refere-se à identidade de gênero. Isso acontece quando alguém não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Por exemplo, alguém que foi considerado homem ao nascer pode se identificar como mulher mais tarde na vida.

Aqui está a resposta para uma pergunta comum: se um homem se relaciona com uma mulher trans ou travesti, ele é hétero ou gay? A resposta é simples: ele é hétero, já que está se interessando pela performance de gênero feminina, algo comum tanto em mulheres trans e travestis quanto em mulheres cisnormativas.

Fonte: AF Noticias