Novo prêmio de melhor do mundo pode se tornar concurso de fã-clubes
Que me desculpe o famoso ditado popular, mas a voz do povo não é a voz de Deus. A voz do povo é no máximo a voz do povo.
E é exatamente por isso que o novo prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa, que será entregue pela primeira vez em janeiro, já nasce sob um grande risco: o de não consagrar necessariamente os melhores do planeta.
Para quem está por fora da discussão, aí vai um breve resumo. Após o fim da parceria com a revista “France Football”, dona da marca “Bola de Ouro”, a entidade que administra o futebol mundial decidiu mexer radicalmente na eleição do craque máximo do futebol mundial.
De acordo com o novo regulamento, os votos dos capitães e técnicos das seleções filiadas à Fifa distribuirão 50% dos pontos. A outra metade sairá da soma entre as escolhas feitas por jornalistas consultados e o resultado de uma enquete aberta para todos.
Do ponto de vista do marketing, a participação popular na eleição do melhor do mundo é uma grande sacada da Fifa e pode até mesmo aumentar o interesse pela festa de graça. O problema é que ela coloca em xeque a relevância técnica do prêmio.
Não que torcedores sejam incapazes de dar votos precisos e tenham opiniões menos importantes que os especialistas. Mas, eles são mais sujeitos a campanhas e lobbys para favorecer um determinado atleta.
O risco é que o prêmio de melhor do mundo da Fifa acabe se tornando uma competição de popularidade, uma espécie de disputa entre fã-clubes, em que levam vantagem aqueles que possuem uma base maior de admiradores.
Esse sistema favorece atletas já consagrados, como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e mesmo Neymar, que já construíram ao longo da carreira uma base considerável (e bastante organizada) de fãs. Fãs que podem votar em peso nos seus candidatos, distorcendo a eleição.
É claro que distorções baseadas na popularidade já aconteceram no passado. Em 2010, o meia Wesley Sneijder fez chover pela Inter de Milão e pela seleção holandesa. Mas foi solenemente ignorado pelo colégio eleitoral formado por técnicos e capitães e não ficou nem entre os finalistas do prêmio.
Mas, com o voto popular, ainda que representando apenas parte da pontuação final da eleição, a possibilidade de resultados menos técnicos é amplificada. Afinal, o poder de mobilização em prol de um candidato é muito maior.
A vitória de Wendell Lira na última edição do Prêmio Puskas, é prova disso. O brasileiro foi o mais votado na enquete de gol mais bonito do ano depois de uma intensa comoção popular por sua história de superação e de campanhas de voto em bloco organizadas por pessoas influentes nas redes sociais.
(UOL)