“O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” é o mais fiel e mais divertido da franquia
Como não existe fidelidade na hora de levar um universo de um meio para outro, a saída honesta envolve identificar os elementos mais importantes dentro do original e buscar preservá-los ao máximo na hora de adaptar. Tendo um coração com diversos signos identificáveis, todo o resto pode mudar, para adequar a narrativa à nova mídia, que pouco importa. Ou irá importar apenas em bate-papo de boteco, onde tudo importa demais, na verdade.
Tudo isso para dizer que finalmente identificaram o que é mais importante no Homem-Aranha. E, pela primeira vez, em “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, quinto filme com ele, foram identificados os elementos centrais do personagem, o que o tornou tão popular nos quadrinhos, afinal. E é até curioso que tenha sido o reboot da franquia, que evitava ao máximo usar a frase-chavão “com grande poderes vêm grandes responsabilidades”, seja a que tenha finalmente entendido como usá-la narrativamente.
Ainda assim, nesses outros elementos encontramos também traços que nos ajudam a enxergar melhor o Amigão da Vizinhança. A maioria dos vilões dos quadrinhos são símbolos do que o herói pode ser, se tivesse sido criado diferente. Todos ganham poderes e partem para o lado sombrio por vaidade, ganância ou outro desses sentimentos tão terríveis quanto humanos. O próprio Peter tendia para isso, não fosse a morte traumática do Tio Ben.
Os vilões desse novo filme não são diferentes. Electro é um gênio tão ignorado quanto o próprio Peter, que se deslumbra com a atenção que a destruição causa. Ao mesmo tempo – e por mais mal desenvolvido que seja esse arco do ponto de vista narrativo, ainda que se compense com a bela atuação de Dane DeHaan -, Harry Osborne, o Duende Verde, tem os mesmos problemas em relação aos seus pais (um pouco pior, talvez), que envolve sensação de rejeição.
Esse é o coração de “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”. E ele está no lugar certo. Por isso fica mais fácil de ignorar o andamento meio trôpego da narrativa (certamente pela decisão, no meio das filmagens, de que o universo deveria ser expandido em mais filmes). Exemplo mais do que claro é a introdução, à fórceps, dos Osborne na trama, ou mesmo como fatos do primeiro filme – mais desnecessário do que ruim – são revisitados e retificados sem muita preocupação com a continuidade.
Nem mesmo isso chega a incomodar, porque se o coração está no lugar certo, a embalagem também está. O que quer dizer, de um lado, que somos brindados com cenas de ação absolutamnete incríveis, especialmente no IMAX em 3D. A sequência de abertura é, literalmente, de tirar o fôlego – depois a gente se acostuma e as coisas ficam mais normais. De outro, temos, pela primeira vez, um filme em que o Homem-Aranha é engraçado de verdade, disparando piadinhas para todos os lados – o que também é um traço dos quadrinhos.
Também há o relacionamento entre Gwen e Peter, que transbordam química e carisma, tanto pelo fato dos atores, Emma Stone e Andrew Garfield, serem namorados, quanto pela competência inata e usual deles em frente às câmeras. O que torna a sua inevitável separação ao longo da trama uma coisa bem triste.
(POP)