Olivia Rodrigo estreia com ‘Sour’, álbum angustiado, irresistível e com pop rock Disney pós-Lorde
Hmmmm… Que bom seria ouvir um álbum com a “angústia” de uma mini Alanis Morissette emoldurada por uma sonoridade meio rock Disney pós-Lorde.
As referências não são forçadas, juro: essas duas cantoras estão na lista de influências sempre citadas por Olivia Rodrigo, a maior revelação da música pop em 2021. E o tal álbum existe e se chama “Sour”, a estreia desta cantora e atriz de 18 anos.
Americana de origem filipina, de onde vem o sobrenome Rodrigo, Olivia tem uma irresistível vibe de “garota normal”. Visual, redes sociais e entrevistas são mais sinceros do que a média. Raridade.
As letras escritas por ela são igualmente francas. Ela contou que só quer cantar de coisas que a deixam “constrangida”, mas que quase toda jovem mulher pensa. “Você não é encorajada a falar sobre o quão insegura, ciumenta e raivosa você é”, comentou.
Antes deste álbum, Olivia atuou em duas produções da Disney, “Bizaardvark” e “High School Musical: A Série: O Musical”, quando conheceu o ator Joshua Bassett.
Um suposto triângulo amoroso envolvendo eles e uma colega (Sabrina Carpenter) seria a inspiração das letras. Ela não confirma e nem nega. Mas não foi por essa fofoquinha de tabloide adolescente que ela estourou. Há algo mais aqui.
“Sour” faz valer o título, apresenta muito bem o lado mais azedo de Olivia Rodrigo. Das 11 músicas, só duas não têm alguma alfinetada irônica no ex ou nela mesma.
Uma delas é o primeiro single, “Drivers license”. Lançada em janeiro, ela chegou ao primeiro lugar na parada americana e bateu recordes no Spotify (a maior estreia da história, a que bateu 100 milhões de audições em menos tempo, número um em mais de 30 países).
O produtor discreto
Olivia Rodrigo com o produtor Dan Nigro — Foto: Reprodução/Instagram/Dan Nigro
O álbum tem produção discreta, no melhor dos sentidos, de Dan Nigro. Após liderar uma banda de indie rock que não vingou, o americano de 39 anos virou produtor e já trabalhou com Carly Rae Jepsen e Sky Ferreira.
Ele não mete tanto a mão no som e nas ideias de Olivia. A crueza e o talento da jovem cantora aparecem quase intactos em baladas pueris (“Happier”, “Enough for you”), pops espertinhos cantaroláveis (“Deja Vu”, “Jealousy, jealousy”) e pop punks (“Brutal”, “Good 4 you”).
É um prazer para quem curte pop ouvir um talento desse nascer, mesmo que por trás das habituais vozes processadas e filtros do tal pop alternativo, consolidado no primeiro álbum de Lorde. Ou “o melhor disco de todos os tempos”, nas palavras de Olivia.
Veja faixa a faixa de ‘Sour’, de Olivia Rodrigo:
‘Brutal’
É a mais barulhenta do álbum, com riff simples de guitarra que percorre toda a música. A letra é uma carta de apresentação. Tem partes gritadas, sussurradas e faladas, como o fim do refrão, dito com extrema ironia. “Eu estou cansada de ter 17, onde foi parar o sonho adolescente? Se alguém me disser mais uma vez ‘aproveite sua juventude’, eu vou chorar”, avisa ela. Meio riot grrrl, mas pode agradar também fãs do indie rock sarcástico de Courtney Barnett.
‘Traitor’
A brutalidade e revolta do começo dão lugar a uma canção arrastada, com batidas cheias eco e efeito “fantasmagórico”. É fácil imaginá-la em um clipe com vestido e cabelos esvoaçantes. A letra é diretíssima. “Você falou com ela quando estava comigo… Demorou duas semanas para ficar com ela, você não me chifrou, mas ainda assim é um traidor”, conclui.
‘Drivers license’
Olivia Rodrigo em cena do clipe ‘Drivers license’ — Foto: Divulgação/Universal
Olivia nunca pensou que uma crise de choro fosse bater tantos recordes. Motivada pela traição sem chifres, ela pega o carro pela primeira vez e sai dirigindo por lugares importantes para o ex-casal. Primeiro single, essa melancólica balada ao piano tem um discreto crescendo.
‘1 step forward, 3 steps back’
É a única que tem o produtor Jack Antonoff e Taylor Swift entre os compositores. É basicamente levada com piano e voz. O arranjo permite que ela mostre os dotes vocais, passeando muito bem pelo mais grave e por agudinhos excelentes. A letra é sobre insegurança, sobre ter medo de seguir em frente, de errar, de se machucar.
‘Deja vu’
O segundo single do álbum começa manso como as três anteriores, mas dá uma estourada a partir do segundo minuto. O refrão difícil de cantar é um trunfo, assim como a letra bem sacada. Ela diz que aposta que o ex também ouve “Uptown Girl” do Billy Joel com a atual dele. “Vocês devem cantar juntos e eu até aposto que você disse que a ama entre o refrão e o versão seguinte… Mal sabe ela que eu que te apresentei ao Billy Joel”, espezinha.
‘Good 4 u’
É o segundo pop punk do álbum. Começa mais lenta e estoura no primeiro refrão. Faz lembrar o auge do Paramore, mas foi inspirada no Green Day. A letra é talvez a mais irônica do álbum. “Acho que aquela terapeuta que indiquei para você realmente te ajudou”, canta ela.
‘Enough for you’
Olivia Rodrigo — Foto: Erica Hernandez/Divulgação
Com um canto mais suave, ela parece mais leve falando sem a mesma ironia das duas canções anteriores. É uma balada mais simples, voz e violão. Ela remete a “All I Want”, música de “High School Musical: A Série: O Musical” e um dos primeiros sinais de que Olivia tinha talento para ser mais do que uma intérprete. “Tudo o que eu seria era ser o bastante para você”.
‘Happier’
O violão sai e o piano volta. A raiva parece ter passado e ela fala com mais serenidade sobre o ex e a atual dele. “Eu espero que você esteja feliz, mas não tanto quanto estava comigo… Ache alguém bom, mas não melhor que mim”. Se a letra fosse traduzida, daria um ótimo feminejo.
‘Jealousy, jealousy’
Olivia Rodrigo — Foto: Divulgação
O pop com camadas de vozes e mudanças de rotação está a serviço de uma letra mais pé no chão. Olivia canta que está se sentindo mal, porque nota o quão ciumenta ela é. Ela tenta dizer que está feliz pelo ex e a atual, mas depois fala com preguiça das roupas de brechó e das fotos de viagens no Instagram. Mas mesmo assim, parece que a superação está vindo.
‘Favorite crime’
É uma balada com dedilhados e “vozes do além”. Os vocais de apoio prejudicam um pouco a música, mas tudo melhora quando ela começa a cantar quase a capella: ora esticando sílabas, ora mudando a cadência, quase como uma rapper.
‘Hope ur ok’
Mais um pop alternativo tipo Lorde. É a segunda música do álbum sem nenhuma cutucada irônica no ex ou na atual dele. “Não falamos mais, mas eu posso dizer que eu sinto saudade e espero que você esteja bem”.
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Fonte: G1 Pop & Arte