PF investiga vazamento do gabarito do Enem 2016
Após a denúncia de que o tema da redação do Enem 2016 (Exame Nacional do Ensino Médio) teria vazado antes do início da prova, a Polícia Federal investiga agora o vazamento do gabarito de uma das provas, segundo reportagem exibida neste domingo (13) pelo programa “Fantástico”, da TV Globo. O Enem aconteceu nos dias 5 e 6 deste mês.
De acordo com a reportagem, escutas telefônicas obtidas pela PF apontam que uma quadrilha de Montes Claros (MG) conseguiu, com antecedência, as respostas das perguntas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza da prova azul, aplicada no sábado passado (5). As provas do Enem são divididas por cores (rosa, azul, amarelo, cinza ou branco); todas têm as mesmas questões, mas a ordem em cada uma delas é diferente.
O gabarito chegou às mãos de um informante apenas seis minutos após o fechamento dos portões, segundo a TV. Meia hora depois, as respostas começaram a ser passadas por meio de um ponto eletrônico ao candidato Antônio Diego Lima Rodrigues, que fez a prova em Fortaleza. Todas as respostas foram passadas em menos de sete minutos.
Preso no fim de semana passado, Rodrigues disse ser secretário de Saúde de Alto Santo (CE). Ele foi exonerado do cargo. À polícia, Rodrigues contou que a cola pelo ponto eletrônico sairia a R$ 50 mil.
Já a candidata Sofia Azevedo, que fez a prova em Belo Horizonte, pagaria à mesma quadrilha R$ 100 mil pelas respostas –R$ 10 mil de entrada e o restante caso fosse aprovada na faculdade de sua escolha. Ela foi presa em flagrante, mas pagou fiança e foi solta. Ao “Fantástico”, um advogado da estudante disse que ela foi “aliciada” e vítima dos fraudadores.
Ao menos três integrantes da quadrilha foram presos pela Polícia Federal em um hotel de Montes Claros usado como base para a transmissão das respostas aos candidatos.
Pedido para anular a redação
O esquema denunciado agora é semelhante ao desbaratado no domingo passado (6). Quadrilhas que pretendiam fraudar o Enem passavam os gabaritos das provas para candidatos em diversas partes do país por meio de uma central telefônica. Onze pessoas foram presas em oito Estados.
Um dos detidos foi justamente Antônio Diego Lima Rodrigues, que, além de estar com um ponto eletrônico, possuía o texto da redação pronto para ser transcrito. Segundo a delegada da PF Fernanda Coutinho, coordenadora regional de segurança do Enem no Ceará, é certo afirmar que o candidato “já tinha tido acesso ao gabarito da prova e ao tema da redação antes mesmo do início das provas”. Outro candidato detido no Amapá também declarou ter recebido o tema da redação antes da prova.
“Ele [Rodrigues] entrou no local de prova com o rascunho da redação feita no bolso da calça e com ponto eletrônico. Por volta das 11h, 11h30, ele recebeu uma mensagem no celular com o gabarito da prova”, explicou Coutinho.
O ministro da Educação, Mendonça Filho, atribuiu a uma suposta “rede de informações falsas”, que seria sustentada por “partidos políticos” de oposição ao governo federal, a denúncia de que o tema da redação teria vazado antes da prova. Mendonça negou que tenha havido o vazamento e disse que nem ele soube previamente do tema da redação.
Na segunda-feira (7), com base na atuação da PF, o procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal no Ceará, protocolou uma ação civil pública pedindo a anulação da redação do Enem por causa do vazamento do tema. Na quarta (9), o juiz da 4ª vara da justiça Federal no Ceará, José Vidal Silva Neto, negou o pedido.
Exame marcado por polêmicas
A denúncia do vazamento do gabarito de parte do Enem engrossa a lista de ocorrências que tornaram o exame não só um assunto de educação, mas também caso de polícia.
Em outubro de 2009, a prova foi furtada por funcionários da gráfica contratada para imprimir o exame. Eles tentaram vender por R$ 500 mil as provas furtadas para uma repórter do “Estado de S. Paulo”, que denunciou o esquema. O caso obrigou o governo, três dias antes da realização do Enem, a cancelá-lo. A prova acabou sendo aplicada dois meses depois. Cinco pessoas foram indiciadas e quatro foram condenadas à prisão por corrupção passiva e violação de sigilo funcional.
Dois anos depois, alunos do colégio Christus, de Fortaleza, tiveram acesso a questões do Enem 2011 uma semana antes da realização da prova. O vazamento foi descoberto após um aluno da escola publicar fotos de apostilas contendo as questões. O professor Jahilton José Motta foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter divulgado 14 perguntas.
Segundo a denúncia, o professor teve acesso às questões por a escola ter participado, em 2010, de um pré-teste do exame organizado pela Cesgranrio. Com isso, 639 alunos do Christus tiveram o Enem anulado e refizeram a prova um mês depois.
Em 2013, a Justiça Federal no Ceará condenou Motta a seis anos de prisão e pagamento de multa. No entanto, em abril deste ano, o professor foi declarado inocente após recorrer da sentença.
Já em 2014, um candidato do Piauí afirmou pelo Facebook ter recebido o tema de redação do Enem cerca de uma hora antes do início do segundo dia de provas, em novembro. Um mês depois, a Polícia Federal confirmou o vazamento. No entanto, em fevereiro de 2015, a investigação foi arquivada pelo MPF-CE(Ministério Público Federal no Ceará) com a justificativa de que nenhum candidato foi beneficiado com a informação.
(UOL)