Portador de atrofia muscular espinhal se forma em Direito e dá exemplo de garra e superação
Ronaldo Júnior da Silva, de 32 anos, morador de Arapoema e pai de 1 filho, deu um passo importante na vida ao concluir o curso de Direito em 2024. A história dele foi contada há 5 anos pelo AF Notícias como um exemplo de superação, apesar de ser portador de Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 3, uma doença rara e degenerativa. Na época, ele revelou que seu maior sonho era fazer um curso superior.
Mesmo com as limitações, Ronaldo sempre fez de tudo para levar uma vida dentro da normalidade e se manter ativo para enfrentar a progressão da doença. Ele afirmou que nada disso seria possível sem o apoio da sua família e de pessoas que o ajudaram a realizar seus sonhos.
Os sintomas da atrofia apareceram entre o 2º e o 17º ano de vida, e os membros superiores são os mais afetados.
Para conseguir estudar, ele precisou se mudar com a mãe para a cidade de Colinas. Na faculdade, fora surpreendido com uma recepção calorosa e o cuidado da diretoria em tornar a instituição um ambiente mais inclusivo.
“Desde o primeiro dia fui recebido muito bem. A diretora preparou a faculdade em um ambiente totalmente inclusivo, todos os colaboradores e meus colegas me receberam de braços abertos e deram apoio! Durante as provas, eu fazia em dupla porque não escrevo, então eu tive acolhimento e muito respeito. São pessoas que vou levar para o resto da vida, eles foram meus braços direito e esquerdo”.
Os desafios enfrentados na faculdade foram os mesmos que Ronaldo tem enfrentado desde aos 12 anos de idade, quando parou de caminhar. “É uma luta psicológica para conseguir ter uma vida social ativa, ainda mais em um ambiente de faculdade. Foi um pouco difícil me adaptar, haja visto que não copio, não escrevo com as mãos, e tive que desenvolver técnicas e meios de estudos para adquirir todo o conteúdo”.
Um dos momentos mais incríveis, segundo Ronaldo Júnior, foi quando ele conquistou estágio voluntário no Ministério Público Estadual, em outubro de 2021, e depois, por meio de um processo seletivo, ficou por mais 2 anos na instituição. “Foi uma experiência enriquecedora em todos os sentidos, profissional e pessoal. Além disso, tive a oportunidade de assistir a alguns júris em Colinas, com o meu supervisor, Promotor de Justiça Dr. Kaleb Melo”.
Ao final do curso, chegou a tão sonhada colação de grau. Ronaldo participou do ato de dentro de um carro, na porta da faculdade. “Foi um acontecimento único no Estado, uma pessoa colar grau dentro de um carro. Não me envergonho, pelo contrário, me orgulho. Fico feliz pela oportunidade que tive e que sirva de exemplo para outras pessoas com deficiência ou limitações. Pois, se eu consegui, outros também serão e são capazes de fazer a faculdade e realizar seus sonhos”.
Apoio familiar e agradecimentos
“Quero deixar uma mensagem sobre a importância do apoio familiar na vida da pessoa com deficiência. Minha família sempre me preparou para viver o que estou vivendo hoje. Sou grato pela minha mãe que abriu mão de tanta coisa para estar ao meu lado. Meu pai faleceu dois meses antes do meu nascimento, após um acidente em uma caldeira de um frigorífico em Araguaína, no ano de 1992, e minha família sempre esteve ao meu lado. Observo que poucas pessoas com deficiência têm a liberdade e a coragem de viver como eu vivo. Tenho minhas limitações, mas não me limito a viver, procuro sempre ter uma vida ativa. Sempre fui em festa e já tive uma banda, na qual era vocalista, fui auxiliar técnico de um time de futsal em Arapoema, fui técnico de outros times. Minha família me incentivou sempre a estudar e manteve a chama da convivência acesa. Sou muito grato a Deus pela minha família”.
“Meus agradecimentos à minha família, aos meus colegas de curso e ao Promotor de Justiça Kaleb Melo, ao Dr Rosemilto Alves de Oliveira (Juiz de Direito aposentado), Dr. Marisete Tavares, professora Milena Pimenta e o professor Bernardino Cosobeck, por todo apoio e incentivo”, finalizou Ronaldo Júnior.
Fonte: AF Noticias