Professores obesos são impedidos de darem aulas em São Paulo
A coluna de hoje não é sobre beleza, mas como o IMC (Índice de Massa Corporal) dos professores afetam o aprendizado dos alunos. Você deve estar pensando que saiu uma nova pesquisa que diz: “quanto mais gordo é o professor, menos o aluno vai aprender”. Mas não, essa pesquisa não existe. O que nós e nossos filhos aprendemos na escola nada tem a ver com a forma física de nossos professores. Ao menos não deveria ter. Porém, para o Estado de São Paulo o peso dos profissionais da Educação conta muito mais do que o conhecimento e títulos que eles possuem.
Isso mesmo, professores altamente gabaritados, com pós-graduação, mestrado, doutorado e que poderiam ministrar aulas em grandes universidades estão sendo impedidos de tomarem posse de seus cargos. Embora tenham dom, amor ao ensino e aos jovens e queirem repassar conhecimento a alunos de escolas públicas, no caso em questão escolas estaduais, estão sendo proibidos de darem aulas.
Isso porque quando passam pela perícia médica, mesmo apresentando exames de saúde acusando índices absolutamente normais, eles possuem um IMC elevado. O que isso quer dizer? Que eles são considerados obesos mórbidos e, por isso, os médicos peritos não os consideram aptos a lecionar, ou seja, é como se fossem pessoas doentes e incapazes de exercerem suas atividades.
O argumento é que o Estado possui normas e elas precisam ser seguidas. Além disso, avaliam não apenas a capacidade laboral momentânea, mas fazem um prognóstico da vida funcional de uma carreira que vai durar em torno de 30 anos. A leitura que eu faço disso é a seguinte: se você é gordo e saudável, sinto muito, mas não pode prestar concurso público. Isso porque amanhã você vai estar muito doente e nós não vamos bancar mais nenhum gordo doente. Emagreça, porque magros nunca adoecem.
Voltando ao IMC, ele tem sido questionado pela própria medicina. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) afirma que não é o melhor método para medir o risco à saúde de uma pessoa. Pois problemas cardiovasculares, por exemplo, têm mais a ver com a concentração de gordura na região da cintura do que com o IMC da pessoa.
Uma das publicações científicas mais respeitadas no meio médico, o Journal of the American Medical Association, publicou recentemente que pesquisadores descobriram que pessoas com IMC entre 25 e 30 tinham 6% a menos de chance de risco de morte se comparados com aqueles que são vistos como saudáveis e possuem IMC entre 18,5 e 24. O estudo avaliou 2,9 milhões de pessoas.
Ou seja, parece no mínimo incoerente e absurdo proibir profissionais de tomarem posse de seus cargos excluindo todos os outros exames solicitados e considerando apenas o IMC. O que se nota, e existe também pesquisas que comprovam isso, é que médicos, como se fossem só eles, são intolerantes com pacientes gordos. Pasmem, mas eles, que que deveriam ter tolerância porque estudam, lidam diretamente com o problema e sabem que a obesidade pode advir de muitos fatores, simplesmente são os primeiros a detestar ter que ver entrar um gordo pela porta de seus consultórios.
E são esses mesmos profissionais que muitas vezes apenas olham os números de nossos exames e sequer encostam na gente para nos examinar ou ainda saber nosso histórico de doenças e familiar. Além disso, afirmam que não somos aptos a desenvolver algum tipo de trabalho. Afinal, podemos ter um peso e este aparentemente nos deixar fora dos padrões rígidos da estética magra predominante, mas também pdoemos ser perfeitamente saudáveis. Até porque há muita gente em muita boa forma mas seus exames indicam índices de saúde preocupantes.
De acordo com pesquisas, sim, mais pesquisas, realizadas no mundo todo, há um paradoxo da obesidade que comprova que nem sempre o mais magro é o mais saudável. Sendo assim, a cultura predominante de que o gordo é sempre o doente parece cegar as pessoas.
Quebrar paradigmas, regras, preconceitos não é tarefa fácil e para as mulheres ainda é mais árduo do que para os homens. Somos ainda discriminadas em vários aspectos e temos sempre que provar o quanto somos boas, mesmo sendo ótimas em tudo o que nos propomos fazer. O mercado de trabalho nos paga menos do que paga para o sexo masculino, temos que estar sempre impecáveis, e mulheres gordas, com filhos pequenos e fumantes têm menos chances ainda de serem bem-sucedidas e, muitas vezes, contratadas. Mas nem que seja aos poucos, e isso demanda mesmo otimismo e muita vontade, vamos mudar o cenário.
Ana Carolina Buzzo Marcondelli, 30 anos, bióloga; Bruna Giorjiani de Arruda, 28 anos, socióloga; e Vanessa Oliveira, 32 anos, bióloga. Todas elas fazem parte do grupo de professores que estão sendo expostos ao constrangimento de terem que lutar por um lugar que é deles por direito adquirido. Cada uma tem uma história de vida, mas as três tem uma só paixão: a educação. E é absurdo pensar que tantos jovens podem ser privados de receberem ensino de qualidade por regras retrógradas.
Hoje no Facebook tem uma página em prol desse absurdo e que vale a pena ver: ‘Nunca soube o IMC da minha professora, mas sei o que ela me ensinou”. E a hashtag é ‘NuncasoubeoIMC’. São diversas pessoas que apoiam, antes de tudo, a capacidade intelectual das pessoas.
(MSN)