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Quanto vale a sua íris? Entenda o que está por trás da ‘venda de olhos’

A “venda de íris” virou um tema amplamente discutido na internet, especialmente após imagens de filas em São Paulo mostrarem pessoas trocando o escaneamento de sua íris por dinheiro. Apesar de parecer algo futurístico ou até simples curiosidade, a prática envolve questões tecnológicas, éticas e de segurança que precisam ser analisadas com cautela.

A ação faz parte do projeto World ID, desenvolvido pela empresa Tools for Humanity (TFH), liderada por Alex Blania e Sam Altman, criador da OpenAI. No entanto, especialistas e órgãos como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) já demonstraram preocupação com os riscos envolvidos.

O que é o projeto World ID?

O escaneamento de íris realizado pela TFH faz parte do projeto World ID, que tem como objetivo criar um banco de dados global capaz de diferenciar humanos de Inteligências Artificiais (IA). Em situações práticas, essa tecnologia pode ajudar a identificar se contas em redes sociais, por exemplo, são operadas por pessoas reais ou bots, promovendo maior segurança e confiabilidade em ambientes digitais.

Os participantes do projeto recebem um pagamento em worldcoins, a criptomoeda do projeto, por meio do aplicativo World App. Cada unidade da moeda equivale a US$ 2, o que tem atraído muitas pessoas. Contudo, o projeto também levantou preocupações sobre a segurança do tratamento de dados biométricos.

Quais os riscos de compartilhar sua íris?

A ANPD classificou a íris como um dado pessoal sensível, assim como impressões digitais e outros identificadores biométricos. Isso significa que o uso desses dados envolve riscos elevados. De acordo com a entidade, os principais perigos incluem:

  • Uso indevido de dados: informações coletadas podem ser utilizadas para finalidades não previamente informadas.
  • Coleta sem consentimento adequado: em alguns casos, o consentimento pode ser obtido de maneira inadequada, sem o entendimento completo do participante.
  • Ações discriminatórias: dados podem ser usados de forma a favorecer ou prejudicar determinados grupos.
  • Falhas de segurança: sistemas vulneráveis podem expor dados a ataques cibernéticos.
  • Incapacidade de redefinir biometria: ao contrário de senhas, dados biométricos, uma vez comprometidos, não podem ser alterados.

Segundo Allan Costa, especialista em inteligência artificial e cibersegurança, “há o risco de essas empresas venderem ou compartilharem essas informações sem o devido consentimento, comprometendo a privacidade do indivíduo”. Além disso, ele alerta para o perigo de vigilância exagerada e controle de dados, o que pode levar a situações de abuso.

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É possível se proteger?

Tomar medidas preventivas é essencial antes de compartilhar informações sensíveis como a íris. Algumas dicas incluem:

  1. Leia os termos de uso: certifique-se de que compreende como os dados serão utilizados.
  2. Avalie a confiabilidade da empresa: pesquise sobre a empresa para verificar se ela adota práticas seguras e éticas.
  3. Considere alternativas: sempre que possível, busque métodos menos invasivos de identificação.

Conforme destaca a ANPD, dados biométricos não podem ser substituídos, como ocorre com senhas ou cartões, o que os torna uma escolha crítica para fins de identificação.

A ideia pode trazer benefícios?

Apesar dos riscos, a tecnologia de reconhecimento por íris apresenta vantagens. Allan Costa afirma que “a íris é praticamente impossível de ser falsificada”, o que traz maior segurança para transações digitais e sistemas de autenticação. Setores como saúde e finanças podem se beneficiar dessa tecnologia ao agilizar processos e reduzir fraudes. Em plataformas de jogos online, por exemplo, o uso de biometria pode garantir operações mais justas, evitando múltiplas contas fraudulentas.

Fonte: AF Noticias