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Visitantes elogiam segurança e limpeza do Ibirapuera, mas criticam estacionamento a R$ 13 e água de coco a R$ 9 após concessão

Cordas amarelas de isolamento nos canteiros dos jardins e uma série de painéis luminosos ao longo do caminho deixam claro para quem entra no Parque Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, que o local está passando por mudanças.

Desde que o parque foi concedido à iniciativa privada, algumas melhorias são elogiadas pelos frequentadores: como aumento da segurança e da iluminação à noite, além da limpeza dos banheiros e maior distribuição de lixeiras.

Já outras, como a cobrança de valor único de R$ 13 no estacionamento (aos finais de semana), e os altos preços nos quiosques de comidas e bebidas são alvo de críticas de quem diz que o acesso ao parque está menos democrático e mais elitista.

São várias as novas opções de alimentação, mas a maioria é composta por marcas caras. Um sorvete, por exemplo, pode custar de R$ 12 a R$ 30 em um ponto de venda da Rochinha ou da Bacio di Latte.

Área com corda de isolamento no Parque Ibirapuera para recuperação de jardim. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Área com corda de isolamento no Parque Ibirapuera para recuperação de jardim. — Foto: Marina Pinhoni/g1

A empresa Urbia assumiu a gestão do Ibirapuera em outubro de 2020, o que garante o direito de explorar comercialmente por 35 anos setores como estacionamento, restaurantes e aluguel de bicicletas. Nos diversos painéis de led que trazem informações sobre o parque, há também a exibição de propagandas.

Entre os investimentos previstos no contrato de concessão, estão a melhoria de acessibilidade e a recuperação de prédios. A maioria das mudanças, no entanto, ainda dependia da liberação dos órgãos de proteção ao patrimônio. Com a autorização concedida pelo Iphan neste mês, a concessionária poderá iniciar o Plano de Intervenção que prevê reformas maiores (leia mais abaixo).

Pistas do Parque Ibirapuera com sinalização e iluminação à noite. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Pistas do Parque Ibirapuera com sinalização e iluminação à noite. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Mas quem não frequentava o parque há algum tempo, já pôde notar diferença em diversos serviços. É o caso de Vivian dos Santos, que veio de Belém (PA) com a família para visitar o local depois de alguns anos sem voltar a São Paulo.

“Mudou muito. Achei que está melhor. Antes não tinha sinalização na ciclovia, e à noite ficava tudo escuro. O ponto negativo é a alimentação muito cara. A gente trouxe o lanche de casa, porque água de coco a R$ 9 não dá”, disse ao g1.

 

A insatisfação dos clientes com o novo preço nos tradicionais carrinhos de coco é recorrente, segundo vendedores ouvidos em condição de anonimato pela reportagem. Segundo eles, a concessionária passou a tabelar o item durante a pandemia.

“O pessoal reclama bastante do preço. Antes, a cooperativa também definia o preço, mas a gente tinha liberdade pra fazer valor diferente pro cliente. Dependendo do tamanho da fruta, eu cobrava de R$ 5 a R$ 7. Agora o parque controla e é tudo R$ 9”, afirmou um comerciante.

 

Após a concessão, os carrinhos também só vendem bebidas da Ambev.

Em nota, a Urbia negou que interfira no valor cobrado pelos ambulantes. “Os preços de vendas são estabelecidos pelas duas cooperativas, em votação entre os próprios vendedores, e sempre foi tabelado, antes mesmo da concessão. Nada foi imposto pela Urbia. Sobre o reajuste, o aumento ocorreu devido à sazonalidade da fruta, pressão inflacionária e custos operacionais internos do produto, principalmente ligados à adequada gestão dos resíduos”, disse.

Montagem de fotos com preços tabelados da água de coco e bebidas da Ambev no Parque Ibirapuera. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Montagem de fotos com preços tabelados da água de coco e bebidas da Ambev no Parque Ibirapuera. — Foto: Marina Pinhoni/g1

A concessionária afirmou ainda que trabalha para formalizar a atuação dos vendedores ambulantes por meio de microfranquias.

A oferta de serviços de alimentação variados “em distintas categorias econômicas, incluindo alimentos naturais e frescos” está prevista no plano de atendimento ao usuário do parque.

Questionada sobre a falta de opções mais baratas apontada por frequentadores, a Urbia afirmou que “a empresa tem firmado parceria com diferentes empresas e, hoje, é possível encontrar refeições a partir de R$10.”

Assessorias esportivas e estacionamento

 

Outra atuação que será regulamentada em breve é a de assessorias esportivas que utilizam o parque para atividades em grupo pagas, como treinos e aulas.

A Urbia havia anunciado que passaria a cobrar uma taxa a partir de março de 2022, mas a medida foi adiada e ainda não tem nova data para começar a valer.

A mudança na cobrança do estacionamento também não agradou a todos. Antes, o local funcionava por meio da Zona Azul, com valor de R$ 5 a cada duas horas. O novo modelo tem tarifa diária de R$ 11 nos dias de semana, e de R$ 13 aos finais de semana e feriado, com tolerância de 20 minutos de permanência gratuita.

“O estacionamento está bem caro. Aqui é um lugar difícil para chegar de transporte público, então acaba sendo proibitivo para muita gente. A gente consegue pagar, mas tem muitos que não”, afirma o funcionário público Fernando Dolce, que frequenta o parque desde criança.

 

Novo sistema de cobrança de estacionamento no Parque Ibirapuera, com tarifa diária de R$ 11 nos dias de semana e R$ 13 aos finais de semana e feriados. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Novo sistema de cobrança de estacionamento no Parque Ibirapuera, com tarifa diária de R$ 11 nos dias de semana e R$ 13 aos finais de semana e feriados. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Sobre a cobrança, a Urbia afirmou que “a tarifa única diária estimula a longa permanência dos frequentadores” e que “o valor praticado é o menor da região”.

“Além disso, o plano da Urbia é incentivar o transporte sustentável, por meio do deslocamento via transporte público, bicicletas ou a pé, a fim de minimizar os impactos ambientais.”

Liberação para grandes intervenções

 

Brinquedo infantil do Parque Ibirapuera interditado para obra de manutenção. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Brinquedo infantil do Parque Ibirapuera interditado para obra de manutenção. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Após assumir a gestão do parque, a Urbia apresentou o Plano de Intervenção que prevê, entre outras mudanças, a instalação de quadras de areia, cachorródromo, um skate park, além de ampliação do número de banheiros com a construção de dois vestiários. O investimento deverá ser de R$ 85 milhões até 2024.

O projeto, no entanto, necessita da aprovação dos órgãos de proteção ao patrimônio histórico, uma vez que várias construções do parque são tombadas nas esferas municipal, estadual e federal.

Em dezembro do ano passado, o Conpresp liberou a realização das obras. Com as autorizações do Condephat e o Iphan neste ano, a concessionária poderá iniciar as mudanças, que devem começar em breve.

“O Plano foi aprovado de forma geral, com pedidos de mudanças pontuais ou informações adicionais e/ou detalhamentos de projetos executivos em alguns casos. As intervenções serão realizadas após a validação de todos os órgãos”, disse a empresa.

Entre as intervenções previstas no plano estão:

  • Sanitários: construção de dois novos vestiários com armários, com reforma e ampliação dos oito banheiros atuais;
  • Skate park: conversão de uma das quadras para a construção de uma área para prática de skate e patins;
  • Quadras: reforma com pintura e reforço nos pisos;
  • Quadras de areia: construção de um campo de areia, que poderá ser dividido em várias pequenas quadras;
  • Cachorródromo: instalação de uma área oficial para cães;
  • Slackline e redário: instalação de áreas específicas com pinos e bases para a prática do esporte e a instalação de redes, evitando que os usuários usem as árvores;
  • Piquenique: demarcação de área, com instalação de decks, mesas, lixeiras e bebedouros;
  • Praça de jogos: troca de equipamentos e mobiliário, com instalação de xadrez gigante e tênis de mesa, por exemplo;
  • Acessibilidade: instalação de piso tátil e rebaixamento de algumas guias para facilitar acesso;
  • Lanchonetes e restaurantes: reforma e adaptação de lanchonetes já existentes e instalação de ao menos um novo restaurante na área da Serraria;
  • Trilhas: instalação de novas trilhas, uma delas “sensorial”, com visitas guiadas agendadas;
  • Aplicativo: a Urbia também deve lançar um aplicativo com a programação geral do parque, em todos os prédios, como o Auditório do Ibirapuera, OCA e MAM.
  • Segurança: instalação de área de monitoramento por câmeras e base fixa da Guarda Civil Metropolitana (GCM), além de instalação de antenas de celular.

Marquise

 

Marquise do Ibirapuera continua interditada há quase três anos. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Marquise do Ibirapuera continua interditada há quase três anos. — Foto: Marina Pinhoni/g1

Já a tradicional Marquise do Ibirapuera, que necessita de uma grande reforma há anos e corresponde a uma área de 28 mil m² do parque, não faz parte do plano de revitalização da concessionária.

A estrutura projetada por Oscar Niemeyer ficou de fora do edital de concessão, e sua recuperação permanece sob responsabilidade da Prefeitura de São Paulo. O local, que está interditado desde 2019 por risco de colapso, ainda deve demorar para ser liberado novamente ao público.

Em novembro de 2021, a Secretaria de Meio Ambiente assinou contrato com uma empresa para a elaboração dos projetos básico e executivo de manutenção e restauro da Marquise.

A Officeplan Planejamento e Gerenciamento vai receber cerca de R$ 500 mil e terá o prazo até agosto deste ano para apresentar os projetos. Depois, um novo processo de licitação será aberto para escolher a empresa que será responsável pela obra em si.

Enquanto isso, patinadores e skatistas utilizam outras regiões da cidade como o Vale do Anhangabaú para a prática do esporte, como mostrou reportagem do g1 em 2021 (assista ao vídeo abaixo).

Com marquise do Ibirapuera fechada, patinadores desbravam novos espaços em SP

Com marquise do Ibirapuera fechada, patinadores desbravam novos espaços em SP

Fonte: G1 São Paulo