Opinião | Dois lobos e uma urna, a metáfora que se amolda à política brasileira

Costuma-se dizer que dentro de cada pessoa existem dois lobos: um que representa a ganância, a corrupção, a mentira; e outro que simboliza a honestidade, a esperança, a justiça. E que vence o lobo que for alimentado.

Sempre achei essa metáfora poderosa. Mas, olhando para a política brasileira, percebo que ela é quase uma radiografia do que acontece em cada eleição.

O lobo da politicagem está gordo, bem nutrido. Ele se alimenta de verbas desviadas, de cargos sem necessidade criados apenas para acomodar apadrinhados, de contratos superfaturados e de um sistema que faz do abuso de poder uma rotina. Prefeitos, governadores, deputados, senadores… muitos preferem servir esse lobo porque é ele quem traz vantagens imediatas: dinheiro fácil, apoio cego, silêncio cúmplice.

Do outro lado, há o lobo cidadão, magro e resistente. Ele é alimentado por cada pessoa que acredita em uma cidade limpa, em um estado justo e em um país que pode, sim, ser melhor do que esse que temos hoje. Esse lobo vive nos professores que resistem mesmo sem estrutura, nos trabalhadores que pagam impostos com esperança de retorno, e nos jovens que ainda sonham com um futuro diferente.

O que mais me impressiona é ver como, em muitos casos, o próprio povo alimenta o lobo errado. Por conveniência, por desinformação ou por pura alienação, elegemos os mesmos que nos roubam. É quase uma síndrome de Estocolmo eleitoral: mesmo com provas, escândalos e denúncias, ainda há quem defenda o indefensável.

Eu, sinceramente, acredito que o Brasil precisa decidir qual lobo quer alimentar nas próximas eleições. Não se trata apenas de nomes ou partidos, mas de posturas. Alimentar o lobo da corrupção é aceitar a corrida dos ratos, onde todos correm sem sair do lugar. Alimentar o lobo da esperança é, mesmo com dificuldades, plantar sementes de mudança.

No fim, a metáfora é clara: dentro da urna, quem escolhe o vencedor não é o político, somos nós.

A pergunta é: qual lobo você vai alimentar?

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Keslon Borges | Economista e Especialista em Gestão Pública.